tag:blogger.com,1999:blog-66178096453304079692024-03-12T17:35:11.056-07:00heber stalin" Sou composto por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas.
Me entupo de ausências, me esvazio de excessos.
Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos."
Clarice Lispector.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.comBlogger78125tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-48216942937782670222020-05-24T17:33:00.000-07:002020-05-24T17:33:11.186-07:00Anotações para um 25 de maio: Inquietações, percepções, suposições e outras questões<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-r3Kvcida8zk/XssRQ2MdS-I/AAAAAAAAMhw/_9_F-wUmWrIN_5RB3Qv7zAqb3pMbXWsAQCLcBGAsYHQ/s1600/BCFOTOGRAFIA%2B-%2BDAN%25C3%2587A%2B%252858%2529.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="784" height="213" src="https://1.bp.blogspot.com/-r3Kvcida8zk/XssRQ2MdS-I/AAAAAAAAMhw/_9_F-wUmWrIN_5RB3Qv7zAqb3pMbXWsAQCLcBGAsYHQ/s320/BCFOTOGRAFIA%2B-%2BDAN%25C3%2587A%2B%252858%2529.JPG" width="320" /></a></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="left" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"><b>1.
Acolhamos uns aos outros</b></span></div>
<div align="right" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Estou
há exatos 80 dias sem calçar o sapato de sapateado. Tempos difíceis
esses, em que nos damos conta do pesar de tais contagens. Tenho
contado também, entre perdas e ganhos, a quantidade de árvores que
vejo através de minha janela, a quantidade de plantas espalhadas
pela minúscula varanda do apartamento, a quantidade de cds ainda
restante nas estantes de meu quarto, a quantidade de livros lidos, o
dinheiro, o que a falta do dinheiro me impede de contar. Tenho
contado vidas e mortes, desaparecimentos, violações, tenho contado
idas e vindas, nesse mesmo tempo tenho contado esperanças. Assim têm
sido os dias.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Durante
esse período de isolamento, na solidão frutífera de meus espaços,
todas as vezes que a boca seca, as mãos gelam e os pés se
inquietam, eu tomo água; caminho um pouco em círculos; deito no
chão; mãos ao rosto. Paragem. Súbito o som do ventilador de teto
do meu quarto inspira música, em pé novamente trilho o circuito do
que me é possível mover. Repito. Repito algumas vezes e em
instantes isso também se exaure.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Sento…
pés descalços no silêncio do quarto, arranho o chão em contagem
simples e direta de shuffles, taps. Balls. Crio imagens, produzo
sensações de um estágio de vida que se faz presente na ausência
do possível necessário. Falo do possível como uma necessidade de
vida, de impulso, de movência, querência, essência. OBS: Gosto
demais de palavras que após seus radicais sucedem “ência”. Já
perceberam como são lindas? (Pausa).</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Esse
texto deveria dar conta de uma escrita sobre a comemoração do dia
internacional do sapateado, o 25 de maio. Deveria, no momento não
estou certo de que será possível.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Me
perco entre imagens, memórias, textos, livros, chapinhas frouxas,
cadarços quebrados, sapatos descolados… um emaranhado de vida que
legitima uma existência transversalizada por outras mil vidas…
aqui, entrar e sair; passar e ficar; observar e desacreditar se
misturam entre si amalgamando sentires e causando impressões
inenarráveis de frustrações, feridas egocêntricas cicatrizadas e
a necessidade mais do que permanente de seguir, porque quando penso
em sapateado, claramente me vêm a mente e ao corpo uma rajada de
coragem, persistência ( já falei que me amarro na “ência”),
ousadia e paixão. Levanto um pouco, olho pela janela, após refletir
um pouco mais escrevo.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> O
corpo sente, o ouvido sente, o pé sente. Contestação lógica,
óbvia e até boba para qualquer sapateador, no entanto, o fluxo do
sentir considera também a constatação da urgência do movimento,
este se dá nas mais diversas facetas, das mais variadas formas e com
isso produz os mais diversos sentidos. <i><b>Os meus sentidos, em
dança, estão ligados muito menos ao sapateado do que às pessoas
que me são cúmplices nesse fazer. </b></i>Atrevo-me a lançar.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Penso
a prática do <i><b>sapateado como um fluxo de produção de “modos
de vida” que legitima existências levando em consideração o modo
de pensar e ver o mundo em uma relação muito menos estética do que
ética.</b></i> Talvez porque a forma como sapateamos seja uma forma
inerente de se dizer de si e do mundo criando pontes e alianças
entre pares e ímpares que se permitem – embora existam diferenças
entre si – ainda que por alguns minutos de aula, ou de espetáculos,
estarem juntos e ocupados em um só propósito. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> É
uma modalidade de dança que, a grosso modo, parte de um e vai
agregando outros. Constitui coletivos e grupos cujo o principal mote
de mobilidade é a cumplicidade com a qual decidem vivenciar,
saborear o momento presente, o momento único de realização de
determinado som ou sons, em determinado lugar, em determinado dia e
hora, ou não! <i><b>É a própria arte em acontecimento.</b></i></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Penso
o traçado artístico de coreógrafos e bailarinos\sapateadores com
Heidegger. Para esse filósofo alemão, no tocante a arte, todo
ensaio, toda aula, toda tentativa de se chegar a um resultado
estético, já é o próprio acontecimento artístico. Em Heidegger,
ensaios, aulas, rascunhos… são as verdadeiras obras de arte, posto
que, <i><b>o ser, em Heidegger, não existe no estático, é no
gerúndio que se dá o verdadeiro acontecimento artístico. </b></i>Estamos
sapateando, estamos ensaiando, estamos doando, estamos compondo,
estamos optando, com isso estamos fazendo arte! Mergulhando em
Heidegger fui me descobrindo, me buscando. Continuo estudando
Heidegger, permanecendo.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> De
onde vejo, constato: (pode parecer mais uma constatação óbvia) –
há sempre uma fala, um discurso quando sapateamos. Seja na
organização da coreografia, na ordem de entrada dos sapateadores em
cena, na escolha da música, na opção de ensaiar mais e até mesmo
na opção de ensaiar menos. Ouso dizer que se escolho, falo, opto! E
isso constitui discurso, organiza cena e amplifica o que
implicitamente dizemos quando estamos no palco (seja ele de que
natureza for) ou na sala de aula. Namorando a filosofia paquero com
Aristóteles: <i><b>“O ser se diz de várias maneiras”.</b></i>
Assim sendo, respeitemos uns aos outros, respeitemos. Acolhamos uns
aos outros, acolhamos!</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Respeitemos
uns aos outros para além dos currículos brilhantes, cheios de
números, prêmios, viagens, nomes difíceis. Não quero com isso
dizer que devamos abrir mão de celebrar nossas histórias de vidas,
trajetórias artísticas muitas vezes caras e dolorosas, cheias de
sacrifícios, barreiras, pedras no caminho e uma imensidão de “nãos”
a nós distribuídos de forma gratuita e leviana ao longo do
caminhar. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Falo,
eis o ponto primordial, de nossa disposição genuína para perceber
e acolher o que está ao nosso lado e muitas vezes não conseguimos
enxergar, não conseguimos dar a mão, uma palavra, um copo dágua
que mate a sede do conhecimento e possibilite parcerias. Na mesma
proporção do ensinar, está a proporção do aprender, já nos
disse Paulo Freire. Descobrir esse estado de prontidão ao outro é
libertador e promove crescimento humano. Informo de forma repetida,
porque a repetição é uma forma de realizar “alcances”: <i><b>Estar
pronto ao outro promove crescimento humano.</b></i></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;">
Penso com o auxílio de Gilberto Gil, metáfora repleta de realidade.
Suspeito que, estar à disposição do outro é o ponto de partida
para uma relação minimamente bonita, empática e, por que não?
inesquecível. Gil nos pede: <i><b>“Traga me um copo dágua tenho
sede, e essa sede pode me matar, minha garganta pede um pouco de água
e os meus olhos pedem teu olhar”</b></i> Pergunto: <i><b>“O que
acontece perto de nós a título de sapateado?” “Como olhar menos
para mim e o que eu faço e direcionar o meu olhar para outras
perspectivas de colaboração, atenção e acolhimento?” “Como
oferecer um copo dágua?”</b></i> Se essa reflexão não fizer
sentido, acredito que sinceramente será preciso repensar o nosso
lugar no mundo não é mesmo? <i><b>suspeito mais uma vez que, em se
tratando de arte, seja ela qual for, nunca, mas nunca mesmo deve ser
apenas sobre mim. Se assim o for, há algo de errado.</b></i> Daí a
necessidade, de se repensar processos formativos, relações de
ensino-aprendizagem, festivais competitivos e uma celeuma de pontos
que não cabem ser discutidos aqui. (Pausa pra o café)</span></div>
<div align="left" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="left" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"><b>2.
O sapateado em período de isolamento – algumas questões.</b></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Em
tempos de isolamento, parece-me que o zoom para as fragilidades
humanas se amplifica…. Literalmente tudo fica maior: medos,
inseguranças, saudades, carências, ansiedades, a quantidade de
remédios… tudo se amplifica. E com isso a capacidade de se
reinventar também se dá de forma amplificada. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Observando
daqui (quarto, janela, computador, redes sociais) tenho percebido o
louvável esforço de sapateadores pelo Brasil e pelo mundo de se
reinventarem através de aulas, cursos, seminários, lançamentos de
livros, ensaios, bate-papos sobre sapateado e tudo me parece tão
próximo e (por uma questão bem particular) tão distante. Lanço
aqui algumas perguntas. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Pergunto
porque a intenção é dividir as inquietações, pensar junto:
<i><b>“Conseguiríamos viver sapateando se essa forma que estamos
sapateando hoje, através de lives, fosse a única maneira de se
manter sapateando?” “O que se perde nessa metodologia de ensino?”
“Tem ensino de sapateado nessa metodologia?” “É possível
ensinar os primeiros passos através de uma live?” “O que se
ganha?”. </b></i></span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"><i><b> </b></i><i>T</i>rago
aqui a Mestra Cintia Martin para nos lembrar que<i><b>:
“</b></i>Para
se ensinar, é preciso ter consciência de uma série de itens, como:
conhecimento profundo da técnica, a história e a origem do
sapateado, terminologia correta, noções básicas de anatomia e
noções básicas de música. Além disso, muita paciência,
disponibilidade, disposição, criatividade e humildade”. (Trecho
retirado da apostila TOQUES: VIVENDO, APRENDENDO E ENSINANDO O
SAPATEADO). Curiosamente, o título de sua publicação traz memória
Heideggeriana.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> <i><b>Quais
implicações, a sugestão de Cintia Martin trazem para o atual
cenário de ensino do sapateado no Brasil? Seja ele on-line, seja ele
presencial? Estamos prontos? É possível? Há outras considerações
registradas para as competências de ensino no âmbito do sapateado?</b></i></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Cá
estou refletindo sobre essas questões simplesmente porque: <i><b>1.
preocupação com um método que me parece humanizado e eficiente que
é o corpo a corpo;</b></i> 2. Caretice minha, assumo e assumo que
minha forma de olhar para isso pode ser um problema sim. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Estou
na vida, como em Heidegger e como em Martin: vivendo, tentando e
aprendendo. Gostaria muito de discutir sobre isso porque me parece
bem claro que já existe um mercado aberto para essa metodologia de
ensino. Não é uma crítica, busco entender. Quanto mais formas de
se fazer chegar o sapateado as pessoas, melhor, para todos nós. No
entanto: <i><b>“Que tipo de sapateado chegaria às pessoas </b></i><i><b>no
formato online?”</b></i></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> De todo, acho importante
atentarmos para o fato de que existem metodologias diversas, cabeças
diversas, pessoas diversas. Seus fazeres dizem muito de si, como já
colocado a cima, importa, entretanto, que pensemos em formas de
agregar, presencialmente ou virtualmente. Mas insisto, curiosidade
mesmo: “<i><b>É possível? Através do online?”</b></i></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Acredito na presença física
como potencializadora de aprendizagens, porque aprender tem a ver com
o olhar, com o fazer junto, com ouvir a respiração, com o manuseio
do corpo em algumas situações, com o suor respingado, com o chão
dividido, com a troca de sons, com o papo descontraído que acontece
ao amarrar de cadarços com o colega ao lado, com a combinação da
cerveja logo após e ainda: com a relação intrínseca entre coragem
e medo, vergonha e ousadia. Quem nunca tremeu de nervoso em uma sala
de aula de sapateado com certa insegurança em executar sequências
de aula? Faço um contraponto: no modo virtual, essa insegurança
diminui?</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Que fique entendido desse
escrito que, a intenção não é desqualificar, negar, anular o que
o momento de isolamento social nos oferece – eu não teria estudo
ou conhecimento suficiente para isso, estou buscando saber – Mas
antes de tudo criar conexões entre o que fazemos com o que fazemos e
da forma que fazemos. Importa olhar para isso buscando formas de
fortalecer outras metodologias e modos de ensinar e aprender,
acredito que enquanto professores (em algum momento todos o somos)
seja importante estar atento.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> No meio da problemática aqui
discutida, existe a velha questão da desigualdade do país que
exclui alguns alunos por falta de acessos, computadores, celulares,
internet… temas e questões para um outro momento. Mas que não
fechemos os olhos e os ouvidos para as desigualdades. Elas, mais do
que qualquer outra situação, também necessitam de olhar, cuidados,
empatia… acolhimento.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"><b>3. Celebremos um ano
inteiro: É possível, é necessário</b></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Celebremos o 25 de maio. Há
muito o que celebrar. O Brasil, grande e diverso traz na sua história
do sapateado as marcas de vivências que ultrapassam a lógica do tap
dancing americano. O nosso país traz em sua cultura de povos um
acervo grande e vasto de sapateios que, se diferenciam do tap dancing
americano devido o uso de chapas de metal nas solas dos sapatos por
lá usadas.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Bastante polêmica a suposição
de que o Brasil é um país que sempre sapateou. Mas observemos: O
frevo, o xaxado, o samba, o maracatu, as bandas cabaçais do interior
do sertão do Cariri, as danças de reisado, a chula, a catira são
danças que por si só têm sapateio, têm sapateado. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Sem desejar reabrir o ciclo
das polêmicas sobre a questão, continuo suspeitando que, o que
difere nossos sapateios do tap dancing americano é a ampliação do
som através das chapinhas de metal. Valéria Pinheiro (Ce), em
décadas de pesquisa em sapateado no Brasil, já desmistificou de
forma brilhante essa questão, rompendo barreiras e fazendo a América
perceber que o sapateado também se legitima de forma potente no
Brasil sem ter como parceira fiel apenas o jazz, o lind hop, o blues.
Lindo trabalho. Obrigado Valéria Pinheiro.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Importa, importa muito dizer
que, no que diz respeito a um “sapateado brasileiro”, não se
trata de pegar determinada música: xaxado, samba, frevo, ou outra
qualquer e criar uma sequência lógica de passos dentro de uma
contagem binária que caiba dentro da partitura musical. Está
implicado aqui, o trabalho árduo de pesquisa de movimentos de pés,
dinâmicas, volumes e velocidades que dialoguem de forma coerente com
a música brasileira. Longo e exaustivo processo, muitas horas de
estúdio, muitas horas seguidas com o sapato de sapateado no pé. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Assim como Valéria, outros
nomes não menos importantes traçaram ao longo dos anos formas de
contribuição para o desenvolvimento do sapateado. Cintia Martin
talvez tenha sido a primeira brasileira a se preocupar em registrar
dados, metodologias de ensino e conhecimento musical para estudantes.
Além disso transcreveu exaustivamente a nomenclatura do sapateado,
buscando facilitar o acesso quando ainda não sabíamos a diferença
entre um toe drop e um heel drop, suspeito que através de Cintia a
gente deixou de falar “ponta calcanhar” ou “pisa pisa”.
Obrigado Cintia Martin.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Eu não planejei trazer nomes
ou particularizar homenagens porque sempre corremos o risco de ser
injustos, mas não dá para falar do sapateado no Brasil sem falar
também do Mestre Steven Harper que com seu conceituado TAP in Rio
abre portas para sapateadores jovens aprenderem e descobrirem o
sentido do sapateado através de aulas com professores, em sua
maioria, brasileiros. Bia Mattar tem um papel ímpar na disseminação
do sapateado enquanto linguagem brasileira, pois em Floripa foi ela a
pessoa que apresentou outra possibilidade de sapateio, fugidia do
jazz e do blues. Obrigado Steven Harper. Obrigado Bia Mattar.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> É um recorte. Esse escrito
não daria conta de agradecimento algum, são muitos feitos que esses
profissionais executaram e continuam executando no país para se
manter viva a paixão e o fogo, o desejo de realizar sapateado.
Precisaria agradecer também a Marchina, Maurício Silva, Stella
Antunes, Amália Machado, Christiane Matallo, Flávio Salles (in
memória), Kika Sampaio, Luiz Baldijão, Rachel Cavalcanti, Vera
Passos, Thiago Marcelino, Flávia Costa. Me perdoem a injustiça de
deixar alguém de fora, não é intencional.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Alegrias somadas, passos
divididos em aulas, mostras, cursos… há em mim um imensurável
desejo de que essas trajetórias se perpetuem. <i><b>Que o sapateado
em nós não morra.</b></i> Que resistamos frente aos incontáveis
nãos que recebemos ao longo da vida, ao longo da carreira. Para isso
invoco e convoco aqui as gerações pós-mestres, sapateadores que
delineiam um outro tempo de sapateado, traçando pontes, conectando
histórias, geografias e pensamentos. Descobrindo fazeres.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Saúdo aos que estiveram em
algum momento comigo como alunos ou colegas de trabalho. Hoje celebro
também você Giuliano Antônio, Fernando Flesch, Leonardo Dias,
Renata Defina, Marina Coura, Dudu Martinez, Melissa Tannus, Cinthia
Pequeno, Gisella Martins, Bianca Moreno, Rafaelle Oliveira, Juliana
Castro, Juliana Garcia.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Toda a minha reverência à
Cia dos Pés Grandes pelas parcerias, pela trajetória, pelo
atrevimento e teimosia. Celebro o amoroso sapateado que partilhamos
em via de mão dupla, o encontro potente e o desejo infindo de fincar
o pé nesse chão duro que acaba amolecendo de tantos afetos. Com
vocês o sapateado se faz poesia e acalanto como em um poema de
Manuel de Barros quando diz que: com vocês “eu queria crescer pra
passarinho”. Obrigado, muito obrigado Rodrigo Silva, Edson Sousa,
Henrique Casimiro, Dudu Abreu, Fabinho Vieira, Pedro Júlio Roque,
Lucas Teófilo, Rubéns Lopes, Jota Nogueira, Pedro Moreira, Adonai
Elias, Anael Guimarães, Mauricio Batuta, Carol Benjamin, Angélica
Nunes.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> O dia 25 de maio é o dia de
aniversário de Bill Bojangles, por seu feito o celebramos e o
rendemos reverências inquestionáveis. Por vossas obras, por vossas
histórias, por vossos fazeres eu também <i><b>celebro o dia do
sapateado em 08\06; 06\11; 14\1; 11\03; 10\12; 16\07, 26\08; 21\12;
09\11; </b></i><i><b>06\12; </b></i><i><b>06\06;</b></i><i><b> 15\02;
30\11; 11\07; 29\10; 24\06; 05\05; 30\08; 21\05; 17\11; 03\05; 13\05;
28\09; 04\08; 19\09; 14\04; 24\11; 12\02; 29\03; 24\01; 31\10; 19\12;
03\03; 14\12; 13\09; 15\05. </b></i>Dias de nascimento, renascimento,
invenção e reinvenção do sapateado brasileiro. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> Nesse dia 25 e por todos os
outros dias de celebração do sapateado me dispo de pudores, medos,
egos e orgulhos, erros e acertos e me rendo com toda gratidão e amor
a vocês que escrevem essa história de forma idônea, diversa,
bonita e ímpar. Desejo vida-longa a esse caminhar, desejo
perseverança. Que sentemos nas pedras encontradas no meio do caminho
para melhor pensar como removê-las. Desconfio que a felicidade plena
não existe, mas acredito que alegria e coragem nos elevam a
patamares de sensações deliciosas, extremas. <i><b>Sigo com vocês,
sapateando para mexer o mundo</b></i>. É uma alegria fazer parte
disso. Cada tempo a seu tempo, porque como nos ensina Clarice: <i><b>“…em
matéria de viver, não se pode chegar antes…”</b></i></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;">Evoé, Axé, Obrigado.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;">Heber Stalin</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> </span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Arial Narrow, sans-serif;"> </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-90997338488633568392017-10-31T21:03:00.001-07:002017-10-31T21:03:45.889-07:00sendo confuso...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-5OKwlB_wf_g/WflEZYB-ltI/AAAAAAAAF2c/p3W4CnGB92A-f4AWOGe01MR5bV0Oj5fKQCLcBGAs/s1600/Cia.%2Bdos%2BP%25C3%25A9s%2BGrandes%2Bem%2BPacoti%2Be%2BPosto%2B063.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-5OKwlB_wf_g/WflEZYB-ltI/AAAAAAAAF2c/p3W4CnGB92A-f4AWOGe01MR5bV0Oj5fKQCLcBGAs/s320/Cia.%2Bdos%2BP%25C3%25A9s%2BGrandes%2Bem%2BPacoti%2Be%2BPosto%2B063.jpg" width="320" height="240" data-original-width="1600" data-original-height="1200" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-ob8yrbfUS8k/WflFBuBo8JI/AAAAAAAAF2k/VZINPxBbRFcKPkpeJuHyLmIHRkgtrv6HQCLcBGAs/s1600/2699696063_f712489a33.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-ob8yrbfUS8k/WflFBuBo8JI/AAAAAAAAF2k/VZINPxBbRFcKPkpeJuHyLmIHRkgtrv6HQCLcBGAs/s320/2699696063_f712489a33.jpg" width="320" height="214" data-original-width="500" data-original-height="335" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-k_h2Zxm3tMo/WflGbw_w48I/AAAAAAAAF2w/_hl8-IjuuK8TehfPex5CVvbzzOSXDDyGgCLcBGAs/s1600/barulho%2B19.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-k_h2Zxm3tMo/WflGbw_w48I/AAAAAAAAF2w/_hl8-IjuuK8TehfPex5CVvbzzOSXDDyGgCLcBGAs/s320/barulho%2B19.jpg" width="320" height="240" data-original-width="600" data-original-height="450" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-GBFD0d0aWEk/WflHGaQwiJI/AAAAAAAAF24/86DCcSxSWrMNEbIcKuSsFqSx8njtjyFFQCLcBGAs/s1600/IMG_0513.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-GBFD0d0aWEk/WflHGaQwiJI/AAAAAAAAF24/86DCcSxSWrMNEbIcKuSsFqSx8njtjyFFQCLcBGAs/s320/IMG_0513.JPG" width="320" height="240" data-original-width="1600" data-original-height="1200" /></a></div><br />
Congregar: Ficar junto, juntar-se, reunir-se, unir-se, juntar-se, ligar-se, misturar-se.<br />
Tenho pensado de forma muito cuidadosa que, uma opção de vida que se realiza no exercício de construção de um “estar junto” diz muito de mundo, de qual mundo se escolheu cultivar, de qual mundo se optou viver. Minto, refaço: diz muito do que tenta-se realizar enquanto vida, tentativa de exercício de liberdades e verdades que se confundem com exotismo, beira, margem, ilusão de ótica que tenta sintonizar, de maneira confusa e violenta, poiesis múltiplas. Para alguns olhares isso é pura loucura, inexistências.<br />
Não. Uma vida não é só aquilo que entendemos como realidade, a vida também é utopia, poesia, ilusão… alegria(?), dor(?). Em um coletivo esse exercer a vida é um turbilhão, confusão de imagens e sons que rimam com desespero e solidão. Porque para ser muitos, suspeito que seja extremamente necessário ser um pouco sozinho.<br />
Importa dizer: querer junto é também querer sozinho. Querer pelo outro gera dor, andar junto consiste também em exercer um pouco de solidão e estranheza, se jogar ao desconhecido segurando a mão do conhecido, se sujar de carvão e pó para fazer uso de sabão e água, suco de limão com doce de leite… o que vaza disso é justamente a capacidade de suportar o peso do outro… algo como resistir junto. Resistir talvez tenha a ver com seralegresozinhodevezemquando. Disso é preciso lembrar. Isso é urgente exercitar.<br />
Tenho medo de relações tempestuosas e demasiadamente intensas… aquelas que o beijo na boca mais parece um pedido de casamento, juras, tesão e gozo em excesso (sem tirar o mérito e a delícia do prazer do gozo), é preciso atenção. Gosto da expectativa, de todas elas… da dúvida de qual roupa usar para um encontro, do anseio pelo toque, do coração acelerado, da música cantada alta de olhos fechados ao pensar em quem tem te tirado o sono mas te aquietado o coração.<br />
Me toma uma impressão de que, relações esvaziadas são relações que não produzem junções. Fico me perguntando o que nos leva a trilhar caminhos e fazer opções por relações que se realizam de maneira aligeirada, imprecisa, sexuada em demasia e extremamente rasas de sentidos. Porta rolante de entradas de bancos. Corrimão de escada… um para todos. <br />
Gozar perdeu o sentido… relações parecem dizer muito de si e de seu tempo pela contagem de gozos, de curtidas em redes sociais, aplicativos de encontros. O mais estranho é: Nos acostumamos a isso, nos sujeitamos… parece-me que uma reflexão mais aprofundada sobre isso nos torna caretas, atrasados… velhos.<br />
Em relações de longa duração… até mesmo nestas, a vida e a permanência parecem se adensar e se ritmar ao passo da indiferença, da apatia, da invisibilidade do outro. O que estamos a fazer quando olhamos para isso e não conseguimos movimento? nos rendendo a contemplação do que está estabelecido como único possível? Não consigo responder! Mas suspeito que é necessário mexer, cutucar, puxar, empurrar, chamar, propor.<br />
Há momentos, e estes são muitos, em que tudo o que é desejo é também desespero e inabilidade de lidar com o que se apresenta como real. Isso causa dor se você se importa, se você olha de perto. Caso contrário a vida segue o rumo manco e mudo em direção a um nada. O esvaziamento de vida, talvez tenha a ver, em algumas situações, com o uso excessivo e a vivência esvaziada de situações que nos sugam, degradam e desumanizam. Sobre isso, urge também, estar atento.<br />
Não se agrega através de descartáveis, agrega-se através de partilhas, construídas cotidianamente, em cantinhos descuidados ou/e em espaços de legitimação do exercício de liberdades. Faz-se necessário olhar para isso, e perceber até onde conseguimos e queremos a partilha, o agregar, o estar junto e tudo o que significa o verbo. Parece bem bobo, mas aviso de forma repetida e plagiada: “As aparências enganam”.<br />
Existe um misto de inquietação e incertezas aqui, lago de águas paradas que juntam paragem e não propõem movimento. Sobre isso e apesar disso é necessário se manter firme, rindo quando possível, chorando quando necessário e produzindo alegrias quando o peito e a boca pedem. Existe também confusão, indecisão, disritmia, caos… imagino o caos como movimentos exagerados e inaudíveis, essa imagem me angustia e me emite tensão.<br />
Não… não estou louco, eu até acredito que esteja bastante lúcido, pois tenho olhado para isso como um garoto que senta abraçando as pernas de frente para o mar e o observa… diferente do lago de águas paradas, o mar é movimento e incita seguir. É disso que se trata, é disso que se vive quando o peito aperta, a mão treme e a sensação de queimação por dentro surge de forma paralisante. <br />
Quebrar as correntes e correr… peito e cara ao vento, pés descalços… talvez assim a voz se movimente aqui dentro e “ais” sejam emitidos… os “ais” são importantes… são palavras mudas que dizem da gente, do nosso lugar, do nosso tamanho, do nosso momento. É importante gritar “ais”. Um “ai” é um testemunho de que dentro da gente ainda existe força, para resistir, para resistir, para resistir. E não esqueçamos, sigamos: sendoalegressozinhosdevezemquando… mesmo que por uns tempos apenas “de vez em quando”.<br />
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Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-34367728803843185662017-09-10T16:51:00.000-07:002017-09-10T16:51:07.118-07:00Dos dias de SetembroAqui dentro… um silêncio ensurdecedor. Tenho tentado nos últimos dias traçar estratégias que me abstraiam do escárnio da realidade. Como um cadeado de chave perdida, me sinto fechado, preso, emCADEAMENTO. <br />
Entro em meu quarto e aparentemente tudo para. Uma sensação de que as almofadas dialogam com a escrivaninha e os tapetes tentam desestabilizar os calçados sobre eles repousados. Como uma grande brincadeira vista apenas em filmes infantis… disso eu sorrio, eu sorrio, balanço a cabeça negativamente sorrindo muito, corro para a cozinha… água, muita água, mais água. De volta ao quarto: Silêncio. Apatia. Segredos nas gavetas, meus barulhos pendurados em uma varanda como a me lembrar que, ainda que haja noite o dia traz riso. Quase pego os tapetes discutindo com os calçados. O que é a loucura? Onde mora a lucidez?<br />
Mãos frias, olhos tristes, ressaca de dor vivida, não só minha, mas minha TAMBÉM, cismo, sou cismado com essa palavra. O “Também” é uma palavra perigosa. Linda… porém perigosa, pois trata de mais um, mais dois, mais três, mais trinta. Fazer parte de um “também” é fazer partilha, é par-tilhar, par – trilhar, par-tir-lar. Nessa ambiência eu me encontro. Ela me interessa. O meu interesse acaba creditando o “Também”. Tudo bem me rendo, preciso de você também! (Aqui sim, duplo sentido).<br />
Em tempos líquidos, cercados de água por todos os lados, me atrevo a não perder a mania de ser inteiro, de ser sólido, mesmo que para isso eu precise, em algumas situações, ser mais do que pedra, precise ser rocha. Afinal… quem disse que o gelo não fere na mesma proporção que uma rocha? Me tome a primeira boia quem nunca pensou estar em sólidos e se viu perdido em águas. Afogado, afundado, encharcado, trêmulo, espirro, tosse, febre… mas limpo… muito limpo! (Aqui estou eu).<br />
Ahhhhhh que vontade de andar de pés descalços em uma rua de calçamento, chupar dindin com as mãos sujas, tirar meleca do nariz e passar na roupa (daquela maneira que a gente faz e que nos enche de prazer), vontade de contar moedas, olhar as estrelas, correr um pouco a passos largos (também fazíamos quando crianças), sentar no meio-fio de pedra e comer broa, desejar um iogurte, imaginar como é o beijo na boca da pessoa desejada. Afirmo: Isso é mais do que necessário.<br />
Hoje pela manhã ouvi um disco do Janeci, em uma das músicas ele solta: “A gente é feito para acabar… a gente é feito para caber”. Concordo com a primeira frase porque a lógica da finitude humana é inquestionável. Acho infeliz portanto a segunda frase, porque se fazer caber é se forçar a algo. Não. A gente não foi feito pra caber. A gente já chegou – ou já deveria ter chego – ao momento em que podemos identificar sem sofrimentos, culpas ou mágoas se cabemos ou não em determinadas situações, em determinados espaços, em determinadas vidas, em determinados empregos, em determinados bares, em determinados corpos, em determinadas sexualidades, em determinadas, determinadas, determinadas, determinadas… e inclusive nas não tão determinadas assim. (Não gente. Eu também não entendi muito!)<br />
Ontem eu chorei, antes de ontem também… uma pela branca me faz chorar, lapsos de lucidez que se manifestam em minha mente me revivendo suor, riso, dentes, tatuagens… agressões delicadas de um amor que é meu TAMBÉM. <br />
Junto ao meu amor eu tento entender o que é o caber, me pergunto de maneira sôfrega o porque da lucidez ser tão necessária em tempos tão sórdidos e caóticos. Onde está a lucidez? Acho que já perguntei, mas me digam: Como ela se manifesta? O que em mim, em nós é lúcido?<br />
Refletindo sobre os primeiros dias de setembro me abato, me arrebato com as desestabilizações por ele propostas, me sinto tapete, me sinto calçado. Um entra e sai de gentes, carnavalesco que sou me visto de folião e abro o coração para as alegrias… algumas efêmeras, algumas apenas de aparências, mas todas potentes, em sua maioria sóbrias, das não sóbrias eu sorrio e tento não violentar a embriagues e nem me violentar ou violentar alguém através delas. Estar embriagado é um fazer parte da vida, da dança, da alegria… todas essas citadas aí acima. <br />
Mania esquisita essa de ser gente. Que coisa mais desagradável essa do sentir, que vergonhoso chorar escondido, que constrangedor querer ser forte quando tudo o que se manifesta é fragilidade. Outra maneira muito feia é a de calar quando se precisa falar, sorrir quando se precisa chorar. Parar quando se quer seguir.<br />
Por aqui eu queria dar alguns recados, pistas que provam, senão o meu amor, a minha intenção de amar. Por hoje eu queria sentar em silêncio e ver a lua, contar estrelas, dormir de rede, segurar a tua mão, te agarrar por trás e dizer que tudo vai ficar bem… porque existe um “para sempre” dentro de nossas possibilidades. Eu queria também poder olhar nos olhos dos que magoei (se eles existirem) e dizer que não foi intencional, que existe um pedaço de mim que é gente, nem tudo em mim é bicho. Dizer aos que me esperam e me esperaram que eu sou pássaro, que tudo que voa, que tudo que tem asa sou eu também… mas eu sinto, eu sinto, eu sinto, eu sempre senti. Eu sou um sentir! Eu sinto. Eu agradeço amor, eu agradeço Paixão e eu agradeço Tesão. Vou continuar te amando… vou continuar cuidando de vocês… eu vou te comprar um DVD porque te amo, eu vou te pagar uma cerveja Porque você me faz bem e eu vou te amar com o tempo, será inevitável… eu vou continuar comprando tua bolacha… aquela que você gostou… porque você se tornou especial para mim… eu vou continuar ouvindo – com restrições – o Janeci, pois você sabe como eu o acho bobo… eu continuarei sendo seu amante… porque a vida nos reservou esse lugar… eu continuarei a te visitar quando me quiseres porque entendi que em tua casa a porta estará sempre aberta a mim e ao meu corpo e meu tesão. Mas entendam: É possível que hajam impossibilidades… nenhum desses atos se legitimam apenas por mim.<br />
Olhando para a almofada amarela da minha cama ela me alerta mais uma vez: Heber, Heber, Heber: Em matéria de viver não se pode chegar antes”.<br />
Quase lúcido…mais água, mais riso… um pouquinho só mais de choro e um dormir juntinho de minha almofada amarela.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-2hQ4fM6lp3c/WbXPJV55wqI/AAAAAAAAFq8/aGZ61-wJQygrW6jZZt-WCoX8wuQYTq9GQCLcBGAs/s1600/562001_4320850376798_1355653649_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-2hQ4fM6lp3c/WbXPJV55wqI/AAAAAAAAFq8/aGZ61-wJQygrW6jZZt-WCoX8wuQYTq9GQCLcBGAs/s320/562001_4320850376798_1355653649_n.jpg" width="320" height="213" data-original-width="960" data-original-height="640" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-YzIuVAU_YW4/WbXPqGzXEXI/AAAAAAAAFrA/XAtQwF907EI7DD8c6g9Wuj9JlhG-FdZDwCLcBGAs/s1600/heber.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-YzIuVAU_YW4/WbXPqGzXEXI/AAAAAAAAFrA/XAtQwF907EI7DD8c6g9Wuj9JlhG-FdZDwCLcBGAs/s320/heber.jpg" width="320" height="240" data-original-width="500" data-original-height="375" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-oNOyu-_mY9g/WbXPwuYWowI/AAAAAAAAFrI/7nRZP4J7M0Ij37if5wSW6zwPdUQTGf64gCLcBGAs/s1600/PICT4156.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-oNOyu-_mY9g/WbXPwuYWowI/AAAAAAAAFrI/7nRZP4J7M0Ij37if5wSW6zwPdUQTGf64gCLcBGAs/s320/PICT4156.JPG" width="320" height="240" data-original-width="1600" data-original-height="1200" /></a></div>Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-36737389691690768062017-05-25T19:10:00.001-07:002017-05-25T19:11:17.183-07:00O sapateado em nós!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-BfpOtrMp4V0/WSeN3fkn7SI/AAAAAAAAFa8/PJprbSxQNfwdgalyrwj1SkETdqx7MqQwQCLcB/s1600/IMG_5023.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-BfpOtrMp4V0/WSeN3fkn7SI/AAAAAAAAFa8/PJprbSxQNfwdgalyrwj1SkETdqx7MqQwQCLcB/s320/IMG_5023.jpg" width="213" height="320" data-original-width="1067" data-original-height="1600" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-by-Y8nxyads/WSeN6dqx7II/AAAAAAAAFbA/EtKMf6nI3Z0m9hRhSxySJzjaWOiLUsZ-QCLcB/s1600/IMG_5089.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-by-Y8nxyads/WSeN6dqx7II/AAAAAAAAFbA/EtKMf6nI3Z0m9hRhSxySJzjaWOiLUsZ-QCLcB/s320/IMG_5089.jpg" width="320" height="198" data-original-width="1600" data-original-height="990" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-917Aj9wYCZY/WSeOYCEs8GI/AAAAAAAAFbE/-gg06UT0qrATz_4uO0vFMDwIN-BFQvmkACLcB/s1600/IMG_5285.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-917Aj9wYCZY/WSeOYCEs8GI/AAAAAAAAFbE/-gg06UT0qrATz_4uO0vFMDwIN-BFQvmkACLcB/s320/IMG_5285.jpg" width="320" height="213" data-original-width="1600" data-original-height="1067" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-neju4kYl_xk/WSeOZ4_YkRI/AAAAAAAAFbI/bGZbzWQo8GQ28wXiGdq8QmEavhiPlIXagCLcB/s1600/IMG_5124.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-neju4kYl_xk/WSeOZ4_YkRI/AAAAAAAAFbI/bGZbzWQo8GQ28wXiGdq8QmEavhiPlIXagCLcB/s320/IMG_5124.jpg" width="320" height="208" data-original-width="1600" data-original-height="1042" /></a></div><br />
Todo ano, ao se aproximar o dia 25 de maio eu fico ansioso. Aquela ânsia de criança que deseja um doce do pai ausente, um presente da madrinha que vem de longe, ânsia de passar a mão na cabeça de cachorrinho novo, desejo de que algo se revele, algo inesperado, súbito, potente de alegria.<br />
Passei o dia de hoje revendo com alegria, rebuscando em minhas memórias o encontro que tive com a arte do sapateado, o compromisso que assumi de forma espontânea e ingênua com a arte que me alimenta de alegrias e desafios cotidianamente. <br />
Lembrei com riso no canto da boca e balançando a cabeça das inúmeras vezes que relembrei sequências de aulas em paradas de ônibus e estações de metrô, muitas vezes fazendo desses espaços verdadeiras salas de ensaio (quem nunca praticou uma sequência de sapateado à espera de um ônibus que atire a primeira pedra). Fortaleza, Rio, Sampa, EUA, Colômbia, África… tantos lugares!<br />
Lembrei também de quando, em 2002 (se não me falha a memória), encontrei em uma sala de reuniões em Chicago nos EUA o sapateador Van Porter, que me viu com os sapatos de sapateado nas costas e me perguntou se eu sapateava, eu disse que sim e me pediu então que o mostrasse. Calcei o sapato e mostrei um pouco do samba que aprendi com Valéria Pinheiro. Aquele momento foi mágico, não sabia quem era Van Porter, não sabia do grande sapateador que ele era e quando lembro que me permiti “ter algo a mostrar” me sinto envergonhado, no bom sentido. Lembrei também das noites de insonia com Lane Alexander em quartos de hotéis ao longo do país, tínhamos mania de procurar espaços em hotéis para um pouco de prática do sapateado e criação de algumas sequências juntos!<br />
O bom da vida é que ela segue e ela segue com um propósito, não segue à toa. Fiquei rememorando as aulas que tive com Acya Gray, Sam Weber e Diane Walker, por intermédio de Lane Alexander que também me ensinou sobre sapateado, vida, generosidade e amor.<br />
Antes de tudo isso lembro uma quarta-feira fim de tarde nos arredores da Praia de Iracema em Fortaleza, no Teatro da Boca Rica o encontro com Valéria Pinheiro, seus olhos famintos a convidar para aulas, ali tudo começou. Ali tudo recomeçou, pois nosso “estar junto” vem de outras vidas. Certeza posta!<br />
Reflito 1: Devemos amar o sapateado como possibilidade, acidental ou não, de encontros.<br />
Cia VATÁ foi minha escola e minha universidade, o sapateado ali desenvolvido lançou-me a auto-desafios cotidianos, provações terrenas de desejos e descobertas que iniciam e finalizam na técnica de um sapateado que se mostra potente e íntegro porque se diz de forma peculiar, organizando o caos que pode ser entendido como reflexo da própria vida. Lugar de construção, trocas, aprendizagens, amores, medos e pequenas confusões. Traçados de vidas que se aglomeram a formar colchas de retalhos que propõem sentido único: a coragem.<br />
Reflito 2: O sapateado agrega, congrega, prega, APEGA.<br />
Atrevimento de dois: Cia. Do Barulho, primeira instância de criação em sapateado com Aspásia Mariana, estudos, tentativas, editais, um Mercado que não mais do que pinhões nos fustigava e cutucava dizendo que ali também havia amor. Partilha, parto, partida.<br />
Reflito 3: Sapatear a despedida também é sapateio.<br />
Entendi desde sempre que o sapateado poderia (sonho com isso) servir como mola de mobilização de pessoas, porque o sapateado é alegre e democrático, sua história vem de resistência a opressões e violações, é negro, é feminino, nasceu pobre e nunca achei justo que se tornasse propriedade de quem tem posses e pode pagar aulas em academias, viagens e festivais. Não. Não deve se manifestar apenas dessa maneira. Me incomoda MUITO que as pessoas o vejam, se infectem dele e ao encarar a realidade de sua aprendizagem (na maioria das vezes dentro das academias) se sintam frustradas. Ouço bastante lamentações de pessoas do tipo “sempre achei lindo, mas nunca pude pagar”. <br />
Sabemos que nós sapateadores temos formações caras, cursos são caros, aulas são caras, viagens são caras, os próprios sapatos são caros, o acesso não se dá de forma simples e não acho que isso seja culpa dos profissionais, na verdade não irei me alongar nesse mérito pois não é esse o objetivo.<br />
Reflito 4: É preciso propor a acessibilidade ao sapateado.<br />
Acessibilidade tem a ver com a possibilidade, possibilidade vem de “possível”. O que estamos a fazer para tornar possível o acesso ao sapateado? Como o sapateado está na periferia? Refaço: Ele está? Acredito que em algumas cidades essa possibilidade aconteça de forma legítima, mas aqui em Fortaleza não há fomento para essa área da dança e isso me inquieta.<br />
Hoje, fim de tarde, eu quis calçar o sapato e ir fazer aula, trocar aula em um bairro da periferia, esse foi meu desejo de hoje para comemorar esse dia tão bonito, súbito lembrei: Não há esse lugar! - Fortaleza é um lugar de não lugares!<br />
Nunca coube, nunca consegui me perceber em Festivais competitivos. Um adendo: O fato de não caber não quer dizer que eu seja contra. Porém, há uma instância de criação para os Festivais competitivos que acho violenta, a perspectiva de me colocar na condição de “ser pior” ou “ser melhor” do que o outro me assusta, pois não acredito que esse lugar seja um lugar confortável, prefiro acreditar que não. Esquizofrenia. Maltrata, exclui, ignora, sem levar em consideração muitas vezes o próprio sapateado e sua história de nascimento, sua ontologia. Assim como a história de vida das pessoas que fazem as escolas de sapateado que competem… longa discussão…<br />
Reflito 5: O que devemos amar é o sapateado em nós, não o prêmio em nós!<br />
Eu serei sempre aquele que, embora calado e tímido, estará sempre na torcida pela popularização do sapateado. Já trabalhei em algumas academias de dança, local também que não me encaixo pois a instância de produção de sapateado em academias tem uma dinâmica produtiva, quantitativa e isso também me agride. <br />
Me agride porque existe uma maneira de fazer sapateado nas academias que não tenho habilidade para executar. Tenho profunda admiração por professores de academias que conseguem montar um trabalho para uma competição por exemplo que deva durar 2 minutos e meio ou algo assim. Não consigo cronometrar o que meu pé quer dizer. Reforço: não estou dizendo que não acho admirável, estou dizendo que: Eu não sei fazer.<br />
Reflito 6: Reconheço o sapateado como a possibilidade de ser inteiro!<br />
Há um movimento no nosso país que tem instigado as pessoas a viverem Cias. De sapateado, isso é muito positivo pois nos faz pensar de forma agregada. Quando pessoas se juntam para sapatear a alegria parece se instaurar, permanece ali uma ambiência fluida de trocas que estão para além do som produzido pelas taps, é de vida que estamos falando ali, não só de sapateado. Isso é bárbaro, isso é de uma potência indescritível. <br />
Eu gostaria de hoje solicitar aos meus amigos sapateadores que em algum momento pensassem suas ações em sapateado em benefício de algum segmento social que não fosse apenas a competição. Pergunto: Como o que fazemos em sapateado pode ser útil a alguém? A população idosa? À população de pessoas doentes em hospitais? À população de rua? À crianças vítimas de exploração de trabalho e sexual? À comunidades carentes de cultura?<br />
Já pensaram em algum momento sobre o que mais podemos fazer com o sapateado que temos? Tenho me inquietado muito com isso e não estou falando de caridade. Abrir espaços, desflorar matas virgens, usar calçadas e praças, sair dos shoppings centers e dos grandes teatros ainda que por momentos breves.<br />
Estou a falar aqui de devolver ao mundo o que o mundo de forma tão generosa nos deu ou que lutamos muito para conquistar. Particularmente ando muito cansado e sem interesse em viajar para dar aulas sem um propósito outro que não seja aquele baseado no princípio da agregação, partilha e entrega, papo.<br />
Reflito 7: Para que(m) eu sapateio?<br />
Devaneios disseminados, sigo pensando e repensando o sapateado como uma forma de estar no mundo, como uma forma de não andar sozinho embora eu reconheça que, aparentemente somos muitos, mas olhando de perto somos bem poucos.<br />
Eu gostaria de hoje poder abraçar aos amigos/ídolos do sapateado brasileiro que encontrei ao longo de minha caminhada, reforço que o desejo pelo encontro é uma constante em meu coração.<br />
Obrigado a Cia. Dos Pés Grandes por ser o motor de incentivo, alimento do meu desejo e da minha alegria, sujeitos cúmplices da partilha deliciosa da alegria e afetos que o sapateado propõe.<br />
Obrigado à Cia. VATÁ, por ser casa, lugar que retorno sem precisar bater na porta ou perguntar se “posso?”<br />
Algumas referências:<br />
Cintia Martin, me encontrou no Rio de Janeiro, papeou, sorriu, abraçou e acolheu, obrigado por você ser sempre tão generosa, ouvinte, atenciosa… obrigado pela sua leveza, passarinho. <br />
Steven Harper, querido, abridor de portas, obrigado pelo TAP in Rio, por confiar no meu trabalho, por ser gentil, por possibilitar tantos jovens a se tornarem professores no Festival que é a maior vitrine do sapateado no Brasil.<br />
Adriana Brunato, pela ousadia da CBS – Cia. Brasileira de Sapateado – tempos lindos e inesquecíveis, não há como esquecer a sua trajetória.<br />
Bia Mattar, amiga, mestra, inesquecível as nossas aulas em Floripa em tempos de paixão, quando tudo era azul, olhos e mar.<br />
Juliana Castro, obrigado por Brasília sapatear… Tribo das Artes… saudades… bons tempos!<br />
Julhiana Garcia… que sapateia um Ribeirão de todas as cores...<br />
Bianca Morena e Luciano Oliveira, gentileza… alegria e luta por um Recife que sapateia.<br />
Lane Alexander, Katherine Krammer, Lynn Dally, Max Pollack, Roxane Semadeni, Acya Gray, Van Porter, Sam Weber all my love to You guys… always… all my gratitude.<br />
Trabalhei com pessoas incríveis, profissionais que tenho imensa admiração, aprendi e aprendo muito com vocês, por isso também agradeço.<br />
Agradeço a todas as escolas de sapateado que me convidaram, que me convidam para ministrar workshops e cursos, não listarei aqui para não correr o risco de esquecer e cometer injustiças.<br />
E não poderia deixar de ser diferente, Valéria Pinheiro, enquanto houver vida haverá nós! Te amo com imensidão de universo e leveza de nuvem. Mãe, amor.<br />
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Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-91213249382674274842016-08-10T12:11:00.002-07:002016-08-10T12:11:39.409-07:00INCOMPLETO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-B6J2fEc_mxQ/V6t8Jaz4iLI/AAAAAAAAEh8/QQo2HaPw0VoDy64NdigObO0HorC6K_-egCLcB/s1600/DSC_4912.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-B6J2fEc_mxQ/V6t8Jaz4iLI/AAAAAAAAEh8/QQo2HaPw0VoDy64NdigObO0HorC6K_-egCLcB/s320/DSC_4912.jpg" width="320" height="214" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-vSqeyOue1b0/V6t8FZgYNcI/AAAAAAAAEh4/e5zfWN12IAAu22sLlg2Dn8GnR_vBa6T3ACLcB/s1600/IMG_4758.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-vSqeyOue1b0/V6t8FZgYNcI/AAAAAAAAEh4/e5zfWN12IAAu22sLlg2Dn8GnR_vBa6T3ACLcB/s320/IMG_4758.jpg" width="320" height="178" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-tw3twGcs7qg/V6t8LLPnxZI/AAAAAAAAEiA/gDh-uiUKgdA1PNuHxe_fczFqVjD2GCwzACLcB/s1600/IMG_7142.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-tw3twGcs7qg/V6t8LLPnxZI/AAAAAAAAEiA/gDh-uiUKgdA1PNuHxe_fczFqVjD2GCwzACLcB/s320/IMG_7142.jpg" width="320" height="197" /></a></div><br />
Clicks de Carol Benjamin.<br />
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Estar junto é muito bom, mas dói.<br />
Porque estar junto consiste em aproximação excessiva, transborda riso, transborda suor, transborda adentramentos. Instância de permanência lúcida que legitima loucura.<br />
Sim: Loucura. Porque ser lúcido e não desistir de possibilidades existenciais e modos de vida constitui momentos de loucura… como rasgar roupas e correr pelado, como saltar de braços abertos em aridez, cimento, secura, fratura, cabeça quebrada.<br />
Minhas mãos estão cansadas e trêmulas, minha barriga dói, minha pele queima, perco o sono sem perder os sonhos.<br />
Entre empurrões, desejos, barulhos, frustrações o que há de virilidade aqui se transmuta em feminino, insanamente, como louco delirante endureço entre nós, trago dores nos pés e riso na alma. “Estar junto” tem a ver com perder-se.<br />
É de dança que falo, não de falos. É de dança que me dispo, me visto, escuto palavrões, vejo expulsões, rejeições e nãos.<br />
Surge um buraco em meu peito quando não alcanço, quando não os alcanço. Porque não estar junto me faz perder, escuro, prisão, desencanto.<br />
Nasce em mim alegria quando entro ali – barulho interno de notas erradas – mas também há medo, agonia. Nasce em mim desespero quando há ausência de um, porque ser um é ser parte imprescindível da música que crio.<br />
Muitas vezes eu me sinto como se eu tivesse dois pés esquerdos, braços em excesso e matemática mal apreendida. A dislexia em mim se transforma em apatia, tarde de sono, bolacha com café, olhos de demente, grande, grandessíssima, enorme confusão: tempo, contratempo, volume, intensidade, velocidade, pausas.<br />
Preciso muito dizer que há voz. Eu sapateio falando, eu falo muito, eu falo demais, eu ocupo tanto a minha boca que devido a isso não sei o que fazer com os meus pés. Mas vejo fortemente em nossa dança os pés pesados de um sapateio brasileiro de Valéria Pinheiro, ha aqui também um par de olhos azuis mais azuis do que o céu, referência de um outro lugar. Baião de dois, baião de dois, baião de dois.<br />
Mora em mim grande parte daquilo que mora em nós e embora não haja apego, há querência. Há o desejo de um estado de “ficância”.<br />
Crateús, Monsenhor Tabosa, Caucaia, Guaramiranga, Maracanaú, Juazeiro do Norte, Fortaleza, Araripina… tudo é Nova Iorque, tudo é grande, tudo tem eu e tudo tem a mim! Cidades visíveis, arquitetura de nosso dançar.<br />
Dudu “O Grande príncipe que traz fartura: ARO ALADE OLA, Rodrigo o empresário, Edson o Vendedor, Pedro Professor, Heber Diretor, Maurício Músico, Henrique Professor, Fábio Comunicador, Adonai Produtor, Paulo Flor, Aspásia Amor, Carol Torpor, Valéria Pinheiro Jequitibá, Carcará. Nós em algum lugar.<br />
Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-41658242503440851212016-08-10T11:59:00.002-07:002016-08-10T11:59:41.178-07:00OBServando<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-3Xj28YTB9vk/V6t5bDBdQFI/AAAAAAAAEho/ZONVi51lRaIjcS0sSzaeSW-RsZ52TkPQgCLcB/s1600/Reveillon%2B2007%2B033.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-3Xj28YTB9vk/V6t5bDBdQFI/AAAAAAAAEho/ZONVi51lRaIjcS0sSzaeSW-RsZ52TkPQgCLcB/s320/Reveillon%2B2007%2B033.jpg" width="320" height="240" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-2ZS8Jd6aCf8/V6t5ePcbNhI/AAAAAAAAEhs/HeCyVp9faqwdB7Tmx3ZoLZQ_q7tTChpegCLcB/s1600/Reveillon%2B2007%2B039.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-2ZS8Jd6aCf8/V6t5ePcbNhI/AAAAAAAAEhs/HeCyVp9faqwdB7Tmx3ZoLZQ_q7tTChpegCLcB/s320/Reveillon%2B2007%2B039.jpg" width="320" height="240" /></a></div><br />
O filme Como estrelas na terra – Toda criança é especial, aborda questões relacionadas a conjuntura da escola na atualidade e à necessidade de aprofundamento de estudo e intervenção no atendimento a crianças com as mais variadas manifestações de especialidades, não só no âmbito educacional mas no âmbito socioassistencial.<br />
O que mais chama a atenção é o filme se tornar ponto de “especialidade” para os expectadores pelo fato de Ishaan ter seus caminhos cruzados com um Professor que conseguiu fazer a leitura da conjuntura em qual a criança estava inserida e assim traçar metas de intervenção que o levasse a alcançar êxitos. Ora, mas não seria esse o papel principal de todo Professor? Estar atento as demandas da sala de aula, saber lidar com as diferenças e assim buscar oferecer uma educação igualitária e justa para toda a sua turma?<br />
O contexto educacional na atualidade se mostra de forma bastante perversa, a política que inclui os alunos com determinadas deficiências não cumpre seu papel de forma efetiva. A política educacional não oferece capacitações e cursos de qualificação profissional para os professores e esses tentam lidar de forma empírica com as mais variadas diferenças em sala de aula exercendo um fazer artesanal, como colcha de retalhos, uma intervenção deslocada de políticas emancipatórias, apenas atuações pautadas em “achismos” e formas supostamente castradoras pois sem saber como lidar com as diferenças e tendo a maioria da turma para fazer caminhar, este, no momento da agonia da transmissão e construção do conhecimento, exige o silêncio, a tranquilidade, a concentração e a calma dos alunos, ainda que a falta desses quesitos sejam da ordem da saúde, da diferença.<br />
Importante ressaltar que um Professor deveria ter acesso máximo a todas as formas de conhecimento que possam fazer com que seus alunos consigam superar as situações opressoras em que se encontram, os preconceitos e discriminações, o racismo, o classismo, o machismo. Percebe-se dentro da escola de hoje um conservadorismo que chega a ser constrangedor, professores falam mal de alunos – que em sua maioria são crianças em desenvolvimento – são fortalecedores dos discursos que reforçam machismos, racismos, e LGBTfobias, isso sem falar no conceito de belo que chega a ser desconcertante pois esse oprime de forma direta a criança e o adolescente. Outro ponto a colocar é a falta de entendimento dos professores da instância da juventude, pois não entendem o desejo dos meninos por usar brinco, piercings, bonés e o desejo das meninas de usarem roupas curtas, jeans rasgados, batons e cabelo vermelho ou de outras cores.<br />
Ao se depararem com essas manifestações de juventude é muito comum que suas falas sejam referidas nos mais primordiais conceitos conservadores e anulantes, pois passam a tratar de forma diferente os alunos. Muitas vezes podemos até ouvir coisas do tipo: “Projeto de marginal”, “Aquela menina com aquele short daquele tamanho, tá pedindo coisa”.<br />
O professor do filme, conseguiu não só observar, mas enxergou seu aluno com suas potencialidades e buscou exercer uma intervenção humanista pois,<br />
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“Uma educação humanista libertadora, na perspectiva freiriana, precisa ter como ponto de partida os fenômenos concretos que constituem o universo existencial de nosso povo. E, a partir desse universo, o desafio dialógico crítico converge para a luta em prol das transformações sociais necessárias e imprescindíveis para atingirmos uma vida mais digna, principalmente para os setores sociais que mais sofrem a opressão ou exclusão.” (ZITKOSKI, 2008)<br />
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Na educação, os alunos são “o nosso povo” e investir de forma qualificada na intervenção junto as necessidades dos alunos é concretizar o projeto de educação libertadora de Paulo Freire, pois isso incita liberdade, autonomia e independência. Pontos cruciais para se construir uma vida justa, baseada na criticidade, criticidade essa que os esclarecerá escolhas.<br />
É inadmissível que aceitemos a política educacional que ora se estabelece, esta não atende as demandas dos filhos da classe trabalhadora, a categoria dos assistentes sociais deve se aprofundar na discussão do serviço social dentro da política educacional, sabemos e já discutimos incessantemente que existem demandas dentro da escola que se atendidas pelo profissional do serviço social seriam encaminhadas de formas diferenciadas. Mas como traçar pontos de atuação dentro de uma política que no âmbito do cotidiano é excludente e negligente?<br />
Fico a me perguntar: Como acessar dispositivos de ordem prática que possam fomentar atuações de professores como o que vimos no filme? Indo mais além pergunto: Será que é possível tornar professores conservadores em professores como o de Ishaan? Isso teria a ver com processos formativos? E se pensássemos em processos formativos que levassem em consideração os conceitos da Questão Social juntamente aos da Educação? Quem facilitaria esses momentos junto aos professores? Os Pedagogos ou os Assistentes sociais? Os dois juntos será? Eis alguns questionamentos para uma outra discussão.<br />
O fato é que precisamos ressuscitar Paulo Freire, seu pensamento e sua obra, por enquanto percebo uma grane apatia na escola, na educação, nos professores, me pergunto: Onde está Paulo Freire, pois esse que dizem conhecer não é aquele que desejou por toda a sua vida uma sociedade justa e igualitária, sem opressores e oprimidos.<br />
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Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-48239546157534240442016-07-05T09:33:00.001-07:002016-07-05T09:33:28.224-07:00Obrigado Cia VATÁ<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/--t5K0iAP93g/V3vg4EVWd0I/AAAAAAAAEhQ/Q1BuNm94r4475UDTlr54Qev5zxZ8MjRrACLcB/s1600/13537535_10208887139350056_7797094675467636470_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/--t5K0iAP93g/V3vg4EVWd0I/AAAAAAAAEhQ/Q1BuNm94r4475UDTlr54Qev5zxZ8MjRrACLcB/s320/13537535_10208887139350056_7797094675467636470_n.jpg" width="320" height="213" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-pzTV3deadTI/V3vg5MXKqtI/AAAAAAAAEhU/fvYGr--eZtwcXOplSmscTJHzxWF_3CRegCLcB/s1600/13575826_1720605171527457_1555473186081019264_o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-pzTV3deadTI/V3vg5MXKqtI/AAAAAAAAEhU/fvYGr--eZtwcXOplSmscTJHzxWF_3CRegCLcB/s320/13575826_1720605171527457_1555473186081019264_o.jpg" width="213" height="320" /></a></div><br />
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Mãos trêmulas, pernas bambas, suor nas axilas, cegueira, visão turva, demência e instabilidade, algumas sensações atravessadas por mim ao chegar na Caixa Cultural para assistir ao Documentário da Cia. VATÁ. Sensações incitadas por emoções que não conseguirei traduzir em palavras, mas que revelam uma enorme gratidão, amor, respeito e devoção ao legado dessa Cia. que me foi casa (e ainda é) desde os meus primeiros passos em dança, desde que decidi abandonar o sertão central e vir para a cidade grande em busca de realizar o sonho de me tornar artista.<br />
Assistir a trajetória dessa Cia. Me fez olhar para a minha própria trajetória como artista na cidade de Fortaleza, mais do que isso, me fez olhar para a importância legítima da atuação da Cia. VATA ao longo desses anos na cidade de Fortaleza. Constato que uma artista comprometida com o seu fazer rompe as barreiras da língua, do lugar, das geografias impossíveis, dos afetos tristes. Não por ser exótico, mas por ter em suas mãos a incrível capacidade de construir obras que dialogam com o mundo, pois falam de afeto, falam de um lugar, de um afeto ao lugar, de um compromisso com o seu povo e com a sua história.<br />
A dignidade de, como diz nossa saudosa Dona Silton, “seguir o intuito” é algo que exige coragem. Coragem não como ausência do medo, mas como a determinação de acordar todos os dias e inventar possibilidades de existência, e quando não conseguir inventar, tratar de reinvenções, buscá-las em dores, amores, alegrias… driblar as tristezas e se vestir de força… talvez seja isso, seguir o “intuito” talvez seja permanecer no limite da loucura e do desespero, pois ser louco é ser transgressor e o desespero traz transbordamentos, instâncias primordiais para qualquer processo criativo.<br />
Valéria Pinheiro é mundana, ave de arribação, antropofagicamente um Carcará, pois quem teve a honra e o privilégio de trabalhar ao seu lado sabe que ela “pega, mata e come”, Valéria come o outro, se alimenta do outro, gosta de saber como, onde e por quê, tem olhos de menina, jeito de menina, curiosa… abre gavetas, folheia livros, meche em fios, sobe em escadas, pega a vassoura, varre, lava, cozinha… e em toda a nobreza de seus gestos eu vejo dança. Isso a faz um ser tão completo que para gestualizar talvez eu precisasse de centenas, milhares de braços para mostrar o tamanho, simbolicamente.<br />
A Cia. VATA está em festa, muitos fomos, muitos somos, muitos seremos, todos passamos e todos ficamos, VATÁ é água corrente de torneira aberta, rio que corre, não há parede nesse açude, não há fundo nesse poço. Há uma grande porta aberta, sempre a espera do desejo de fazer parte, talvez levemos tempo para entender isso, mas sim “fazer parte, cabe a se deixar fazer parte” e esse entendimento é cabível de vida, mundo, lugar, tamanhos.<br />
Dancei mais de dez anos nessa Cia. que me foi Universidade, lá eu amei, ri, chorei, sofri, aprendi… lutei, caí e me reergui. Fui Cabaçal, fui Ancestral, fui Orixá… suspendi, sambei, sapateei. E esse matulão que me foi ofertado está repleto de boas lembranças, impossível narrar aqui das tantas coisas incríveis vividas, as dores, os amores, os lugares, os países e continentes habitados em nossas andanças, mas impossível também não registrar um agradecimento infinito a essa universidade que me afetou e afeta a vida, o amor, o sexo, o entendimento e principalmente a possibilidade do dançar, a coragem cotidiana, o enfrentamento aos sentimentos esvaziados, aos afetos tristes, aos nãos, a persistência na alegria e na própria persistência. Sim, Valéria e a Cia VATÁ são persistência da persistência, um acontecimento de luta e resistência que devemos nos orgulhar.<br />
Desejemos vida longa à Cia. VATÁ, ao Teatro das Marias, ao sapateado brasileiro, particularmente desejo estar vivo para ir às comemorações dos 30 anos de Cia. VATA no Ceará, e mais uma vez assistir atônito, com vontade de chorar alto (pois baixinho chorei em muitos momentos), vir para casa correndo para deitar na cama e agradecer pelas oportunidades que tive, pelos sonhos que realizei junto, pelas conquistas, pelas viagens que me encheram de possibilidades e descobertas, agradecer principalmente o privilégio de através de Valéria poder descobrir a potência do sapateado e a possibilidade de um sapateado que fale de nosso povo, de nossas casas, de nosso país.<br />
Eu te agradeço Valéria Pinheiro, por ter me feito, por ter me empurrado, por ter segurado a minha mão e me levado para o mundo, eu te agradeço o ensino, a paciência, o olhar amoroso, a permanência, a resistência, o alimento e o abrigo, eu te tenho em mim para todo o sempre, você é a maior curuMÃE do mundo!<br />
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Com amor.<br />
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Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-7206412886834506782016-06-22T04:14:00.000-07:002016-06-22T04:15:58.850-07:00Sobre TCC<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://3.bp.blogspot.com/-PgDvAUxfAf8/V2pyqWeajCI/AAAAAAAAEgs/lZEBqToy3Z0txcP26n7qX7WQzxHqd0kigCLcB/s1600/PIPA%2Bpor%2BDelfina%2BRocha%2B%2528Edisca%2529%2B001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://3.bp.blogspot.com/-PgDvAUxfAf8/V2pyqWeajCI/AAAAAAAAEgs/lZEBqToy3Z0txcP26n7qX7WQzxHqd0kigCLcB/s320/PIPA%2Bpor%2BDelfina%2BRocha%2B%2528Edisca%2529%2B001.jpg" /></a></div><br />
Foto de Delfina Rocha, Espetáculo: Caçadores de PIPA da Cia. VATÁ. Direção de Valéria Pinheiro. <br />
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O Projeto Ético Político do Serviço Social demanda da categoria de profissionais, estudantes e instituições formativas o compromisso de construção de uma outra sociedade, pautada em direitos assegurados, justiça social, empoderamento e emancipação humana.<br />
As estruturas nas quais se legitimam o PEP são condicionadas pela afronta do capital, mundialização, globalização e a tendência econômica de teor liberal, a livre concorrência se estabelece como ponto precarizador da atuação do assistente social em seus espaços sócio ocupacionais, pois a categoria sofre, como as demais classes trabalhadoras, as refrações de explorações e da livre concorrência.<br />
Nesse processo, as atuações da categoria correm o risco de se fragilizarem e se transformarem em intervenções rápidas, pragmáticas, imediatistas, referenciadas pelo projeto econômico do grande capital, projeto esse que subtrai direitos, exclui o entendimento de classe social e perpetua culturas de violência e a apologia à culpabilidade dos indivíduos. Segundo Maria Lúcia Barroco, podemos chamar esse contexto de neoconservadorismo.<br />
O serviço social, como categoria profissional, tendo como base o código de ética como consequência do PEP, nos incita e fomenta intervenções profissionais pautadas em pesquisas, estudos, estágios, planejamentos, gestão que vão ao encontro do entendimento profundo e generalista das refrações da questão social – matéria-prima do trabalho do assistente social.<br />
Dessa forma, o Projeto de TCC proposto, pretende dar visibilidade e buscar algum entendimento das estratégias de sobrevivência das travestis que trabalham com prostituição no centro da cidade de Fortaleza no período noturno. Parece-me importante para a categoria que esse tema seja abordado pois percebemos claramente que o segmento social investigado é apontado com referências de estigma, preconceitos, abjeções, tais referências reforçam o conservadorismo e tornam importantes as intervenções no âmbito do serviço social dentro das políticas públicas. <br />
Podemos dizer que são seres que não são reconhecidos como legítimos seres humanos devido a grande falta de informação e do entendimento a partir de uma totalidade. Em sua maioria não frequentou a escola, não desenvolveram sociabilidade de forma a lhes garantirem princípios de autonomia e independência posto que o que se apresenta a priori em seus corpos e meios de vida é a diferença.<br />
Assim, o Projeto de TCC buscará mapear histórias de vidas a partir de estratégias de sobrevivência, e com isso, mapear e sugerir pontos para se pensar políticas públicas no âmbito municipal que possam atender demandas específicas e encaminhar projetos que contribuam no reconhecimento do segmento como seres de direitos, visando a emancipação e as garantias que lhes cabem.<br />
Percebo que a discussão no âmbito das políticas para a população LGBTT ainda se insere em uma instância de pouca visibilidade, são inúmeros os casos de assassinatos, em sua maioria, assassinatos com requintes de crueldade, inimagináveis à genericidade humana. A região Nordeste é a região que atualmente mais comete assassinatos às travestis, gays, lésbicas e Fortaleza sofre as consequências de uma política LGBT fragilizada, quase que subsumida no meio de questões que ao olhar do grande empresariado e da máquina pública, que atende demandas do capital, se perdem em pontuais ações de combate a todas as formas de preconceitos, estamos sujeitos a uma Parada da Diversidade e uma coordenadoria de políticas LGBT que apática, mais viola do que atende demandas.<br />
Pensar formas de enfrentamento a manifestações que anulam o outro como legítimo outro nos demanda conhecer, aprofundar pesquisas e entendimentos. Acredito que os assistentes sociais são imprescindíveis nesse contexto, pois está na história da formação da categoria: É necessário estarmos juntos dos movimentos sociais, da classe trabalhadora e de todos aqueles que sofrem as refrações agudizadas da questão social, eis um ponto a mais a ser observado, uma pedra a mais a cruzar no meio do caminho, uma ponte a mais a ser construída, para isso: Sigamos, como nos disse Carlos Drummond de Andrade “De mãos dadas”.<br />
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Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-61648007497499061602016-02-25T17:00:00.000-08:002016-02-25T17:00:03.905-08:00Na ausência do que sentir, eu digo!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-JZtUR8v6Fg4/Vs-ixW-FBsI/AAAAAAAAEbk/RccO0uoBP28/s1600/Muitas%2Bcoisas%252C%2Btodas%2Bdiferentes%2Be%2Bdistintas%2B146.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-JZtUR8v6Fg4/Vs-ixW-FBsI/AAAAAAAAEbk/RccO0uoBP28/s320/Muitas%2Bcoisas%252C%2Btodas%2Bdiferentes%2Be%2Bdistintas%2B146.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://2.bp.blogspot.com/-mTdH-AQRfbQ/Vs-i0lf34PI/AAAAAAAAEbo/EP415umEnM0/s1600/Muitas%2Bcoisas%252C%2Btodas%2Bdiferentes%2Be%2Bdistintas%2B147.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-mTdH-AQRfbQ/Vs-i0lf34PI/AAAAAAAAEbo/EP415umEnM0/s320/Muitas%2Bcoisas%252C%2Btodas%2Bdiferentes%2Be%2Bdistintas%2B147.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://4.bp.blogspot.com/-rVYpCyZ6O9g/Vs-i4i5naZI/AAAAAAAAEbs/5YnOcLdB9Sc/s1600/Muitas%2Bcoisas%252C%2Btodas%2Bdiferentes%2Be%2Bdistintas%2B148.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-rVYpCyZ6O9g/Vs-i4i5naZI/AAAAAAAAEbs/5YnOcLdB9Sc/s320/Muitas%2Bcoisas%252C%2Btodas%2Bdiferentes%2Be%2Bdistintas%2B148.jpg" /></a></div>
<b>Há uma coisa aqui…
Misto de incerteza e medo, presença e ausência. Será loucura?
Há um inacabado de estradas a serem percorridas, porém há chinelos quebrados, sapatos sem cadarços… janelas de cortinas fechadas impedindo a contemplação de um horizonte.
A dor de uma saudade, a dor de um fim, a dor de um “não me importo” é uma dor seca, rabiola de pipa que não sobe. Menino sem camisa, pés descalços… fome.
Existe um incentivo danado à coragem quando medo e incertezas em mim se instalam, através do medo me enxergo e corro a enfrentar o que venha. Através da incerteza eu reflito, autoanaliso, redescubro e crio formas novas de caminhar, estradas densas e por isso convidativas, facão em punho a arregaçar matas virgens, cheirosas, olhos vendados, tato e olfato apurados.
A vida se mostra em cada canto de experiência vivida, antes dos cantos existe o anúncio, em forma de lágrima ou de riso o anúncio aponta, informa, dirige, segura em minha mão e me incentiva a atirar-me contra a espada, pular de precipícios, peito aberto, poucos cabelos ao vento, corpo pesa. Eu nunca recuo.
Boca seca de hoje é a mesma boca cheia de ontem… beijos secam, palavras secam, comidas secam, água seca(?).
Buraco no peito, olhos de zumbi, um nada nas mãos e uma vontade indescritível de um recomeço sem dor, uma outra cidade que não essa e nem aquela, um outro quarto que não aquele hotel, um outro mundo que não aquele que eu pensei ser meu também, sim, eu pensei! Um barulho que não aquele de seu silêncio. Não, frio nunca mais.
Teu corpo doce e pequeno, tua mão atrevida entre minhas pernas, boca que me cheira, me lambe, me enlouquece. Há outros caminhos? Há outras paragens? Ultima olhada em tuas fotos, última mão em meu desejo, uma loucura tão sã se estabelece agora. Suspiro (pausa).
Água, beber água, trancar a porta do quarto, deitar na cama, levantar da cama, ligar a TV, abrir a janela (mas por hoje não há horizonte) só cortinas. Água, água, água, água.
Cigarro não mais, hotel não mais, moda não mais, dentes não mais, ser estrangeiro não mais, incêndio interno, difícil de apagar.
Um dia vem atrás do outro e as saudades se fantasiam de carnavais e posts de facebook, mensagens indiretas e frágeis de seres também fragilizados, cinismo explícito, ausência de coragem, sensatez em aridez. Foto em preto e branco.
Eu tenho um compromisso com a vida, foi com ela o pacto feito pelo cultivo à alegria, mas por hoje eu o quebro. Por hoje eu me dispo da roupa de guerrilheiro para mostrar um pouco que sou também constituído de fragilidades e inseguranças, mas informo: POR HOJE, SÓ POR HOJE.
Porque quando os caminhos mudam a gente tem o direito a tentativa de aprender a andar de uma outra forma, de construir uma outra maneira de andar que não aquela em que tentei segurar a tua mão, como aquela que me fez tímido te roubar um beijo entre carros, gentes, lojas e outros amantes, como aquela que me fez economizar dinheiro para te comprar flores em um dia de chuva, pés enlameados, roupas molhadas mas as flores intactas. Teu riso lindo.
Eu não te escrevo, eu não te escrevi, eu não vou chorar. Eu rio ao lembrar de teu riso também tímido, eu rio ao lembrar de teu corpo faceiro provocando o meu, eu rio por te ouvir tanto falar e só pensar em te ter em meus braços, eu rio de tanto que esperamos e nos debruçamos um ao outro em histórias, estórias, danças e até lágrimas, bar fulerage, cidade suja, fumaça, muita fumaça… fumaça me traz a incerteza do que se vê, porque embaça, confunde, irrita os olhos e provoca o desejo de ver de forma mais límpida, há fumaça entre nós, sempre houve.
Nós somos o que sobrou da luta entre distância e proximidade, somos um não lugar, pura abstração somos um ao outro, um retrato, um número, uma memória, mas somos. Sim nós somos.
Dias atrás sonhei com você, você chegava em uma bolha, algo como redoma, depois você se transformou em sabonete molhado, metáfora mais do que lógica para se falar de nossa estória, porque em mim sempre houve a tentativa de te segurar e você sempre foi uma coisa molhada e escorregadia, água corrente.
Nobre, muito nobre não ser água parada, Manoel de Barros já diz que “liberdade caça jeito” e embora eu nunca te tenha sido prisão, a minha liberdade te causa medo do aprisionamento (penso eu!)
Fumaça, fumaça, fumaça… que a limpidez nos chegue, que permaneçamos a partir de amanhã alegres, sim, amanhã, porque hoje eu tenho o direito de ser triste, SO POR HOJE, sim eu tenho esse direito. Ah… estou ouvindo o Hélio Flanders cantando “Me acalmo danando” de Ângela Rorô, você já percebeu como essa música é linda?
</b>Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-2703943631686264902015-10-25T16:28:00.000-07:002015-10-25T16:28:04.297-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-cdzojQsdEo0/Vi1lSOruRTI/AAAAAAAACzQ/QPvMcd4TX9A/s1600/FB_IMG_1445811213597.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-cdzojQsdEo0/Vi1lSOruRTI/AAAAAAAACzQ/QPvMcd4TX9A/s320/FB_IMG_1445811213597.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-qQaW2FFTYK0/Vi1lUtnUAQI/AAAAAAAACzY/8vkM04Cre5A/s1600/FB_IMG_1445811203664.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-qQaW2FFTYK0/Vi1lUtnUAQI/AAAAAAAACzY/8vkM04Cre5A/s320/FB_IMG_1445811203664.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-S2QfvXFNg_M/Vi1lWknZIqI/AAAAAAAACzg/9JzzVz4SSDk/s1600/FB_IMG_1445811133615.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-S2QfvXFNg_M/Vi1lWknZIqI/AAAAAAAACzg/9JzzVz4SSDk/s320/FB_IMG_1445811133615.jpg" /></a></div>
"ESCREVO-TE ESTAS MAL TRAÇADAS LINHAS..."
Estou há alguns dias movido pelo desejo de manifestar escrita. Essa coisa de escrever sempre vem com um misto de incerteza, medo ou retração, como algo que depois de solto no mundo não mais se prende, não mais se apaga, talvez até se ressiguinifique, mas é lançado, grafa tempo e espaço, vira memória, e depois de virar memória (... calma...talvez não vire memória, refletindo mais um pouco desconfio que não é uma questão de virar memória, porque mesmo antes de sair de mãos e mentes, já é memória.) Não há mais como construir o caminho de volta.
Li recentemente, muito recentemente a biografia de minha ex professora de balé clássico Wilemara Barros.
(Aqui, nesse inicio de escrita soltei o computador, deitei, bebi dois copos de água, contei meus livros, achei que fosse bobagem escrever, desisti.)
Escrever é um ato de partilha, coragem de bicho. Escrever sobre alguém, sobre a história de vida de alguém é cavar espaços para reconhecer o que se é enxergando-se no outro.
Refletindo um pouco mais, retomei as mãos o computador, tirei toda a roupa, deitei na cama, pus Maria Callas na vitrola e cuidadosamente fui movimentando me por essas letras que na rapidez da digitação parecia me a movimentação de um balé, um balé de dedos. Nada mais propícios a imagem e a sensação ja que é de dança que se escreve, de quem faz danca, de quem é danca.
É difícil definir a razão dessa escrita, mas sei que é preciso escrever, pois essa leitura me inquietou e me mecheu, como água quente jogada em bicho que estava dormindo, como buraco que se abre sobre pés, como casa que cai, como vida que se acaba inesperadamente.
Wilemara Barros é uma mulher incrível (me perdoem se parece piegas ou lugar comum a expressão através da qual me refiro a pessoa de Wilemara Barros), mas ao ler a Biografia de Wilemara, a sensação de incredibilidade do ser humano que a habita me salta a alma, me enebria os sentidos e me treme mãos. Garganta seca, nenhuma saliva, nada de cuspe.
Conhecer essa mulher fantástica, bailarina de profissão, menina de periferia, ousada, corajosa, não é tarefa muito fácil, pois Wilemara é tímida, fala pouco, observa muito, seu conhecer se confunde com o seu ser, ambos são imensos, como céu. Me sinto nuvem, espaçada... se adjetivo Wilemara como céu, adjetivo a todos que foram e que são seus alunos: nuvens...pois enquanto professora Wila é abarque, possibilidade, faz chover, molha...com Wila eu tambem chovi, ainda que como sereno leve, garoa, gotículas.
Lembro com muita nitidez de Wila nos corredores do Theatro José de Alencar na época do Colegio de Danca do Ceará, fui aluno da escolinha de rapazes do Professor Flávio Sampaio que funcionava naquela instituição. A escolinha de Flávio proporcionava aulas de balé clássico para rapazes que tinham o desejo de aprender a técnica clássica. As aulas iniciavam pontualmente as sete da matina, finalizavam por volta das nove, momento em que iniciavam as aulas dos alunos do Colégio de Dança do Ceará, foi nessa época que vi Wila pela primeira vez, foi nessa época também que pela primeira vez tive o privilégio de ser aluno da Diva da dança cearense (não confundamos a Diva da dança Wilemara Barros com as divas do rebolado da world music) fato que me deixou tocado, apaixonado pela danca classica, embora sempre tenha tido a noção de que aquela tecnica nunca seria por mim desenvolvida a contento, pois nunca tive fisico privilegiado, sempre fui um jogador de futebol em se tratando de alongamento e outras possibilidades que a tecnica classica exige. Mas, ainda assim, Wilemara me disse ser possível dançar e através dela desenvolvi muito apreço e paixão por aulas de balé clássico.
Mas não é sobre isso que eu deveria estar aqui escrevendo, dessa fase o que me ficou na memória foi mesmo a figura ímpar de Wilemara Barros, o cabelo, a cor, os óculos, os saltos, os mini shorts, as mini saias, as bolsas, o andar, o olhar... e o silêncio... Sim, Wila sempre foi muito silenciosa, coisa de quem sabe demais, coisa de quem tem asas, coisa de quem é céu.
Fui coreografado por Wila, música de Tom Jobim, academia Bailart. Nunca pensei que teria em algum momento, por menor que fosse, a confiança dessa magnífica professora em executar alguns passos por ela criados, passos ousados para um sapateador desastrado. Havia um chapéu, um paletó, uma ideia de espaço na cabeça dela, no meio disso tudo havia uma generosa injeção de coragem e incentivo vindo de sua parte. Dessa época, foi essa injeção e construção do possível para uma danca em mim, o que me fez ter coragem de dizer para mim mesmo que eu era uma pessoa de dança. Isso devo a Wila. Quando falo de dança, falo da possibilidade de uma dança outra sem os amados sapatos de sapateado nos pés, que me foram calçado por Valeria Pinheiro.
Ao ler a Biografia, revivi, ao falar do DEVIR de Fauller na conclusão do Colégio de Dança do Ceará, reconheci me por muitas vezes acompanhando aquela trajetória, pois estava la, ao lado dos grandes, dançando como bailarino convidado no trabalho de Valéria Pinheiro, dividi as coxias com Wila.
Pausa, visto cueca, procuro o programa da noite da apresentação, sei que era amarelo... não recordo o nome do programa. Busco, rebusco... não encontro. Volto para a cama e olho o computador... "jamais enviarei isso para Wila".
"Por que Wila é sempre tão doce, atenciosa e delicada comigo? Mas Heber, não é só com você, Wila é assim!" Meus pensamentos. Água, mais água, café, pão, biscoitinhos doces...grito do quarto após me trancar novamente e tirar toda a roupa :"mãe, a senhora pode me fazer um chá?"
Tenho a ingênua sensação de que para escrever sobre Wila, a nudez seria uma porta de acesso, porque se Wila é céu, se sou nuvem, se me molho, se Wila me choveu, Wila me deu nudez, me fez tirar roupa e me fez trocar de roupas.
Retornando - agora de bruços no chão de madeira do meu quarto, excitado -
Ano passado recebi uma mensagem do marido de Wila, meu querido Fauller, pessoa que tenho extrema admiração, que me e uma referência, que me é modelo, que me excita a criar, que me desafia, que me instiga, que me arrebenta. Na mensagem me convida para uma noite de performances em homenagem a Wilemara Barros pelos seus 50 anos de idade no Palco Principal do TJA.
No momento achei que era brincadeira, como eu, um sapateador desajeitado, sem muitas possibilidades físicas, iria me apresentar para homenagear a maior bailarina classica de Fortaleza? Não levei muito a sério, até sorri depois de desligar o computador, e naquela noite muito aflito eu não consegui dormir direito. Comecei a realizar que realmente o convite havia sido feito a mim e que eu teria que fazer algo, pois era da Wi lemara Barros que se tratava. Dor de barriga, suor noturno, medo, "o que as pessoas vão dizer?" Por que eu?
Organizei minha performance como pequenos bilhetes, coisas que eu gostaria de ter dito a Wila ha muitos anos, desde a época que foi minha professora de balé na escola de rapazes, havia coisas a serem ditas desde a época em que havia me coreografado na academia Bailart, desde a época em que nos encontramos pelos corredores da Boite Divine, desde a época em que foi minha professora na primeira turma do Curso Técnico em Dança... eu sempre tive muito o que dizer a Wila, porque sempre fui muito grato aos olhares, aos entendimentos, aos incentivos que dela vinham não só a mim, mas a todos os que juntos de mim sonhavam em ser bailarinos.
Ler a biografia de Wilemara, me fez rever a própria vida, minha trajetória pessoal, artística, sexual e hominidea.
Finalizei a leitura aos prantos, olhando as fotos, com as mãos tremendo, soluços me invadindo a garganta, boca aberta no travesseiro, mãos geladas...
E me calo, com a certeza e a dívida de muitos dizeres a Wilemara Barros, o maior deles é o de muito obrigado, obrigado por ter sido minha professora, por ter sido minha coreógrafa, por ter me injetado a possibilidade de uma nova danca, por ser tão calada e saber tanto, por ser corajosa, por ter corrido em busca de todo sim que lhe entregaram com o um não.
Wi lemara Barros é a própria dança, não faz dança porque é dança. A você minha querida Wila, muitos passos, muita vida, muita música, que minha dança, que também é tua, possa servir a ti sempre que me couber, enquanto tu fores alcançável.
Com amor, carinho e gratidão.
Heber Stalin
Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-52821642062255249882014-03-25T08:55:00.001-07:002014-03-25T08:55:54.245-07:00Modernidade e Pobreza: Algumas simples, bem simples considerações.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-7ifJF1ag1Hk/UzGmsx-SRGI/AAAAAAAACAI/n8P722Wyjr0/s1600/2+crian%C3%A7as.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-7ifJF1ag1Hk/UzGmsx-SRGI/AAAAAAAACAI/n8P722Wyjr0/s320/2+crian%C3%A7as.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-fDFf8_jpqdI/UzGmvoh3kmI/AAAAAAAACAQ/werDzyvXwgM/s1600/6007607350_9c6edf92ae_z.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-fDFf8_jpqdI/UzGmvoh3kmI/AAAAAAAACAQ/werDzyvXwgM/s320/6007607350_9c6edf92ae_z.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-HPO9tdJEpfw/UzGmxwW2h-I/AAAAAAAACAY/XumhuR8KMrs/s1600/estamira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-HPO9tdJEpfw/UzGmxwW2h-I/AAAAAAAACAY/XumhuR8KMrs/s320/estamira.jpg" /></a></div>
Fortaleza é uma cidade conhecida e reconhecida como uma das cidades mais perigosas do mundo, há uma esteria urgente de criminalização às pessoas pobres, que geralmente são estigmatizadas como os motores da violência urbana, quando na verdade o ato de gerir violência perpassa também, e se duvidar em proporção semelhante, a classe dominante.
O pensamento de que somente os pobres cometem crimes e violência seria no mínimo inocente e ingênuo, além de que, esse pensamento é um reforço às afirmativas de que os pobres é que são a escória do mundo. Dessa forma é preciso se levar em consideração o real processo que faz com que estejamos divididos em duas classes, a classe operária e a classe burguesa. Não há tempo suficiente para traçarmos uma discussão aprofundada sobre a construção histórica e social dessa relação, mas deixaremos algumas pistas para afirmar um lugar mínimo de um pensamento que dialoga com os processos de desalienação.
O discurso sobre modernidade, tão atual no mundo contemporâneo, faz pensar que todas as coisas são acessíveis para todas as pessoas, quando na verdade o que se estabelece como modernidade é ainda uma forma de se apartar pessoas a partir do seu poder de consumo, nada de novidade se levarmos em consideração o que acompanhamos dentro do desenvolvimento do capitalismo de sua gênese até os dias atuais observando as desiguais oportunidades impostas pelo sistema.
Karl Marx em seu texto Valor, Trabalho e mais-valia de 1865, já informava que:
“...para poder manter-se e reproduzir, para perpetuar a sua existência física, a classe operária precisa obter os artigos de primeira necessidade, absolutamente indispensáveis à vida e à sua multiplicação. O valor desses meios de subsistência indispensáveis constitui, pois, o limite mínimo do valor do trabalho.” (Mark,1865).
Observa-se que em se tratando de consumo e trabalho há uma disparidade de alcance bastante considerável, pois quanto mais o homem (classe operária) trabalha, mais o homem (capitalista) se beneficia, o lucro da classe capitalista, é composto exatamente do que falta à classe operária.
Dessa forma, a necessidade do ter, além de ser uma constante na vida do trabalhador enquanto ser social, é também uma eterna busca, é sede que não há água que sacie.
Essa busca incessante pelo atendimento das necessidades humanas traz consigo estratégias que vão além das relações cordias de aquisição e estão imbricadas nessa busca uma série de outras questões, uma discussão sobre identidade, mídia e cultura por exemplo nos dariam minimamente uma base para entendermos os caminhos que estrategicamente usamos para o cumprimento de nossas necessidades.
Um ponto bastante “legítimo” para se entender os níveis de modernidade tem a ver diretamente com a ascensão de um país dentro do cenário mundial de consumo e status. O Brasil se espreme, se sujeita a fazer parte de uma lógica competitiva que maltrata seus citadinos os colocando em situações de extrema pobreza e miséria que nem de longe dialogam com um real sentido do termo modernidade. Famílias em situação de extrema pobreza, pessoas morrendo de sede por falta de vontade política de se amenizar os problemas trazidos com as secas do Nordeste, assaltos, assassinatos e serviços públicos precarizados e sucateados; nem de longe esses quisitos dialogam com um conceito de modernidade que leve em consideração o bem-estar de pessoas, sem falar no desregrado sucateamento do patrimônio público das cidades, demolições, desocupações e total desrespeito ao povo brasileiro em detrimento de grandes eventos como a Copa do mundo, Olimpíadas, Copa das confederações dentre outros.
Não podemos ser complacentes com a assinatura de uma modernidade que desapropria pessoas de suas histórias de vida, de suas cidades, de seus nichos de convivência, essa forma de se legitimar a modernidade não é trangressora e sim regressora, pois assassina vidas, árvores, pessoas, causa doenças de várias ordens, propõe a loucura, o desespero, a tristeza, a angústia, a incerteza, um amanhã incerto.
O que está implicito nesse discurso de modernidade é um processo de globalização que em hipótese nenhuma é benéfico ao Brasil, pois o jogo de troca e lucro a título de globalização é sempre injusta. O Brasil não é uma grande potência financeira, seria ingênuo pensar que nessa perspectiva há equidade e igualdade, há sempre um maior que fala mais alto, há sempre a força do dinheiro que dita as regras, como disse o poeta bahiano, o que há no fim das contas é “A força da grana que ergue e destrói coisas belas”. Seguindo a lógica do capital, quem tem mais manda mais, quem tem menos não manda, tenta negociar, mas no fim das contas: Obedece.
Stuart Hall em seu livro “A Identidade cultural na pós - modernidade” faz uma discussão sobre as problemáticas do mundo contemporâneo e dentre outros importantes pontos traça um panorama do que se imbrica na discussão sobre modernidade e identidades na atualidade, em Hall:
“Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem flutuar “livremente”. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha. Foi a difusão do consumismo, seja como realidade, seja como sonho, que contribuiu para esse efeito de supermercado cultural” (HALL, pá. 75).
Quando Hall aborda na passagem do texto que a escolha nos parece uma possibilidade a todos, informa que aparentemente o mundo vive em plena igualdade. O que acontece na realidade é que as escolhas são determinadas por fatores sociais e históricos, não dá para acreditar que o mundo oferece oportunidades iguais a todos, essa é a máxima do sistema neoliberal, a lei do mercado livre, que nos sufoca e nos é perverso.
O que queremos dizer é que da mesma forma que o Brasil entra em negociações que o deixam em situações subalternas frente a outras potências mundias ( Japão e EUA), as pessoas também estão sempre vivendo essa relação no seu cotidiano, de exploração, de opções injustas. Sabemos claramente que uma política publica de educação por exemplo não coloca as pessoas em nível de competição igual, ou ainda somos ingênuos de pensar que um aluno da rede pública tem as mesmas possibilidades que um aluno da rede privada? Em se tratando de educação básica isso é um dissenso. É discurso de Liberais.
Ainda pensando sobre a modernidade e sua relação com o aumento da pobreza, é imprescindível que estejamos atentos para as questões relacionadas à política de transferência de renda do governo federal. Há uma histeria cega e louca que criminaliza a política de transferência de renda em detrimento da afirmativa de que os benefícios têm incitado uma preguiça ao trabalho. Essa afirmativa é perigosa, pois os benefícios de transferencia de renda – ainda que tenham inúmeros problemas – foram uma maneira de se retirar milhões de pessoas das situações de extrema pobreza e trabalho escravo assim como reavivar possibilidades inerentes à auto-estima.
A Socióloga Amélia Cohn, foi assessora de projetos sociais do Governo Lula e foi uma das responsáveis por estruturar o Programa Bolsa Família junto ao BID. Durante alguns anos trabalhando ao lado do então presidente, recebia cartas de beneficiários do PBF, nas cartas os beneficiários relatavam e agradeciam o benefício, as cartas eram direcionadas ao Presidente. Amélia relata:
“Em 2007, realizei um estudo para a Secretaria Nacional de Renda para a Cidadania sobre o Bolsa Família – comentamos sobre cartas, mensagens, recados e falas que ouvimos dos beneficiários. Uma delas era particularmente para Rosani: Uma mulher que lhe havia dito que com os 2,00 que haviam sobrado depois de fazer o rancho (as compras todas do mercado) com o dinheiro que havia recebido, ela havia podido comprar um batom, coisa que há muito tempo era seu desejo. E que isso era para ela uma grande felicidade. Nós (claro que não simplesmente por sermos mulheres) entendíamos muito bem a felicidade de nossa companheira, pelo lado da sua auto-estima; mas também estávamos plenamente conscientes de que da parte da opinião pública, nada mais condenável do que esse “gasto”. Para muitos, demasiados mesmo, essa dimensão da auto-estima, que para nós era inquestionávelmente intrínseca à cidadania e, por extensão, à democracia, é absolutamente invisível, ou mesmo inexistente.” (COHN, 2012)
A modernida aos olhos da classe burguesa é uma inerente aos que consomem, essa forma de dialogar com o conceito de modernidade exclui a classe pobre e estigmatiza os desejos dessa mesma classe de se alcançar determinadas possibilidades importantes para a sua existência. Assim o discurso punitivo ao PBF e outros benefícios deve ser mediado, ainda que existam lacunas que a organização do benefício não conseguem cumprir.
É bastante recorrente na fala dos que criticam o PBF a máxima de que as pessoas que o recebem “não trabalham porque não querem”, esse pensamento é alienado, pois não leva em consideração a realidade em sua totalidade observando as condições injustas de oportunidades na disputa pelo mercado de trabalho, segundo Cohn:
“E o importante é que, embora vital para a sua sobrevivência, para essas pessoas com inserção precária no mercado de trabalho, ou com possibilidadesprecaríssimas de acesso à renda, essa fonte de renda não configura, ao contráriuo do que muitos pensam, uma escolha ao não trabalho.. Apresenta-se, sim, como uma alternativa fundamental frente à inexistência do trabalho como fonte de segurança da satisfação de suas necessidades básicas e de suas famílias.” (COHN. 2012).
Reforçamos que é necessário dismistificar o Bolsa Família como um sustento de vagabundos, pois essa maneira de enxergar o programa é também uma maneira de culpabilizar as pessoas por serem pobres quando o que acontece de fato está grafado na história do país desde seu descobrimento, uma história marcada pela injustiça social, oligarquias, coronelismo, ditaduras religiosas que aumentam as desigualdades, e afunilam uma ascenção social aos que têm mais oportunidades.
Não dá para discorrer sobre a relação modernidade e pobreza sem perpassar por questões relacionadas ao Programa Bolsa Família e a atual conjuntura da cidade de Fortaleza frente às pressões impostas pelo evento Copa do Mundo. O que se percebe é que há cada vez mais o aumento da classe pobre, a grosso modo: quem é rico cada vez fica mais rico e quem é pobre cada vez mais pobre, o ciclo da pobreza aumenta na mesma proporção em que o ciclo da riqueza diminui.
Entendendo da importância dessa discussão para uma formação comprometida com as mazelas da questão social, nos ocupamos em nos deter sobre o imbricamento dessas questões em nossa cidade, claro que de forma bastante tímida, pois a discussão sobre a relação modernidade e pobreza é inesgotável, são muitos autores, muitos pontos de vista e muitas correntes filosóficas que a abordam de formas diversas.
Sabemos que o curso de serviço social é hegemonicamente Marxista e acreditamos nas teorias de Marx a partir de seu método de observação crítico-dialético que é necessário entender a realidade através de uma leitura de conjuntura que leve em consideração o ser social em sua historicidade, essa leitura foi o nosso ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho.
Entendemos porém que para além da classificação de classes e desenvolvimento do capitalismo, o autor não viveu tempo suficiente para traçar discussões relacionadas a determinados temas, viveu em uma época na qual não existiam recursos tecnológicos, e-mails, computadores e a modernidade se estabelecia de uma outra forma.
É no âmbito da não negação dos escritos e na totalidade do pensamento de Marx , na abertura subjetiva a leitura de autores como Hall e Bauman que pretendemos ampliar a discussão sobre o tema sugerido e nos propomos a dialogar sobre os conceitos de modernidade e pobreza.
Para isso, nos debruçamos sobre a cidade, pondo em choque elementos que a partir do processo de transnacionalização do capital se legitimam na cidade causando um verdadeiro caos no desenrolar de seu cotidiano.
O recurso escolhido foi a fotografia, pois essa estratégia chega de forma direta e impactante sendo uma ótima alavanca para se proporcionar o debate.
Foram fotografadas as redondezas do Castelão, que é hoje o alvo de maior especulação imobiliária da cidade, uma casa simples de dois quartos, durante o período em que a copa acontecerá, será alugada por até 10,000,00.
As reformas do estádio estão suprimindo a classe pobre que vive nos arredores, trazendo problemas relacionados ao saneamento básico, demolições, remoções e sem falar nas catástrofes de deslizamentos nos períodos de chuvas.
O metrô da cidade também será abordado, mostrando as obras e o mau funcionamento, causando transtornos e em alguns casos complicando mais ainda o deslocamento outrora feito de ônibus.
A Seca também será mostrada nas fotos de crianças que vivem nos interiores e que são cerceadas do direito à alimentação e uma vida saudável, muitas delas sendo sujeitas à situações de trabalho infantil, similar ao que acontece na urbe Fortaleza.
A intenção primeira é ampliar o debate sobre a relação pobreza e modernidade e fazer refletir o posicionamento ético e político da formação e do profissional que estará em breve atuando nessas ambiências
Concluimos com esse trabalho que é urgente uma discussão aprofundada sobre a cidade, sobre as pessoas, sobre o capital e estratégias de enfrentamento. É bastante doloroso nos perceber em um momento como esse (copa do mundo e extrema “modernização”) de mãos atadas, pois o desejo do povo não é o mesmo desejo do Estado.
O que nos fica é a certeza de que nós, enquanto futuros asistentes sociais, teremos um trabalho grande frente ao caos que o sistema impõe, especificamente no caso de Fortaleza, pegaremos uma cidade cheia de contas a pagar, o preço de sediar uma Copa do Mundo é um preço alto, a inflação voltará com tudo, o desemprego, a miséria se estabelecerá ainda de forma mais agravante. È preciso ter claro que se hoje está ruim, após a copa estará pior.
Dessa forma tecemos nossos agradecimentos ao Professor Renato Ângelo por nos ter colocado de frente a uma discussão tão necessária para a cidade, acreditamos que metodologias de ensino que colocam o aluno face a face com o seu futuro campo de trabalho são disciplinas marcantes e inesquecíveis. E que nunca nos falte o sentimento de rebeldia e o desejo de revolução.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução, Plínio Dentzien. Rio de Janeiro – Zahar 2001.
COHN, Amélia. Cartas ao Presidente Lula – Bolsa Família e Direitos Sociais. Rio de Janeiro – Pensamento brasileiro 2012.
MARX, Karl 1818 - 1883. O leitor de Marx. Organização de José Paulo Netto. Rio de Janeiro. Civilização brasileira 2012.
VELOSO, Caetano. In Sampa. São Paulo 1978.
Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-72904554311988495092014-03-25T04:59:00.001-07:002014-03-25T04:59:35.383-07:00O que digo sobre o Sapateado.<a href="http://3.bp.blogspot.com/-aFphHVZRwUM/UzFvHjOmM_I/AAAAAAAAB_I/c5SR9X8SwIE/s1600/3593_501504256551590_488377545_n.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-aFphHVZRwUM/UzFvHjOmM_I/AAAAAAAAB_I/c5SR9X8SwIE/s320/3593_501504256551590_488377545_n.jpg" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-SfaD7EZdYfw/UzFvKQaP9hI/AAAAAAAAB_Q/D3DRdN4RxDk/s1600/3672_501506346551381_1764342088_n.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-SfaD7EZdYfw/UzFvKQaP9hI/AAAAAAAAB_Q/D3DRdN4RxDk/s320/3672_501506346551381_1764342088_n.jpg" /></a><a href="http://2.bp.blogspot.com/-zU-utM2jFts/UzFvNG8fkaI/AAAAAAAAB_Y/JUF4XQFIEZc/s1600/59722_501507109884638_1258292688_n.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-zU-utM2jFts/UzFvNG8fkaI/AAAAAAAAB_Y/JUF4XQFIEZc/s320/59722_501507109884638_1258292688_n.jpg" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-QEBLIFYKdgE/UzFvRv2PfrI/AAAAAAAAB_g/c_Iul29ukNQ/s1600/297951_501504429884906_1856792481_n.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-QEBLIFYKdgE/UzFvRv2PfrI/AAAAAAAAB_g/c_Iul29ukNQ/s320/297951_501504429884906_1856792481_n.jpg" /></a><a href="http://2.bp.blogspot.com/-MgFdMwhBqTw/UzFvUQ3LGuI/AAAAAAAAB_o/mfZ_tCCY2e4/s1600/379882_501504796551536_1880808705_n.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-MgFdMwhBqTw/UzFvUQ3LGuI/AAAAAAAAB_o/mfZ_tCCY2e4/s320/379882_501504796551536_1880808705_n.jpg" /></a>
Entrevista dada à Revista DANCE Magazine.
QUEM FOI (É) SUA GRANDE INSPIRAÇÃO ? POR QUE?
Minha primeira e grande inspiração foi e continua sendo a Coreógrafa da Cia. VATÁ Valéria Pinheiro, ela foi a grande revolucionária do sapateado no Brasil e no mundo, foi a primeira brasileira a dançar nos palcoa do coração do sapateado americano que é os EUA, mais especificamente a cidade de NY. Seu estilo único e autoral é algo que revela sua alma inquieta e criadora.
O SAPATEADO NO BRASIL APRESENTA HOJE ALGUMA PARTICULARIDADE? SE SIM, QUAL?
Sim, muitas, algumas positivas e outras negativas. A particularidade do sapateado brasileiro e que é um específico de nós sapateadores brasileiros é o domínio sobre a música brasileira, isso é bastante particular, os brasileiros conseguem sapatear com muito mais propriedade e domínio dos ritmos, somos um povo dançante, que tem swing na alma, brasilidade na veia, essa possibilidade de ser maleável na aquisição de ritmos acho extremamente positiva, o sapateado é uma dança que propõe e produz alegrias e conversa diretamente com a essência da alma brasileira. Me incomoda um pouco territorializar o sapateado em um campo de competitividade, esse é um dos motivos pelos quais nunca me coloquei enquanto sapateador junto com a Cia. Dos Pés Grandes (Cia. Que dirijo), acho que de alguma forma, a competitividade coloca em evidências outras questões que na maioria das vezes estão aquém do que o sapateado realmente se propõe enquanto arte que tem uma historicidade complexa e de luta.
COM A ONDA DOS MUSICAIS O SAPATEADO ESTÁ SE TORNANDO CADA VEZ MAIS POPULAR NO BRASIL?
Aqui no Ceará a onda dos musicais ainda está em processo de andamento, existe um movimento forte de pesquisa em algumas academias, essas tentam fazer o melhor, apreendem bastante em cursos e festivais pelo Brasil e também no exterior. Não tenho muita propriedade para falar de musicais porque faço um sapateado extremamente intimista, não me afetam muito os musicais modernos da sociedade contemporânea. Claro que não tem como esquecer a história dos musicais na construção do cinema, eu vi Cantando na chuva ainda criança, ainda hoje me emociono quando assisto, me enche os olhos, meias de seda, um americano em Paris... enfim, tenho uma relação com musicais no âmbito do cinema, em se tratando de teatro, de palco, tenho visto poucos, quando estou em São Paulo ou nos EUA tento ver alguns, não dá pra morrer sem ver CATS por exemplo. Mas um sapateado de cunho apenas espetacular não me interessa muito, me interessa o que o sapateado causa na minha vida, que sentidos e afetos ele produz.
ESSES MESMOS MUSICAIS DÃO CONTA DE ABSORVER OS PROFISSIONAIS?
O Brasil é um país que comporta um grande número de sapateadores, cidades como São José dos Campos, Rio de Janeiro, e ainda mesmo algumas cidades do interior de Minas Gerais têm sapateador por metro quadrado espalhado nos cantos. Os grandes centros urbanos oferecem maiores oportunidades profissionais para quem deseja essa linha de atuação no sapateado, aqui no Ceará as oportunidades ainda são tímidas, acho que nossas demandas ainda são outras. É dificil falar disso, eu sou um sapateador alternativo, não trabalho em academias, não participo de festivais competitivos e trabalho com pessoas que não têm alto poder aquisitivo, por essas questões me interessam outras coisas na relação com o sapateado, como por exemplo a forma como ele potencializa minhas alegrias e cuida da minha qualidade de vida.
COMO É A CENA HOJE FORA DO BRASIL? QUAIS SÃO OS DESTAQUES?
A Cena fora do Brasil é muito condicionada aos desejos e olhares de quem analisa de fora. Eu ainda acho que os EUA são a grande potência do sapateado mundial, eles recriam o sapateado em uma rapidez sem limites, os mestres de sapateado americanos continuam sapateando, e confesso que embora a juventude esteja sempre surpreendendo com novos estilos, a tradição aparece e é preservada o tempo inteiro. O espaço dos mestres é legitimado, a maioria dos sapateadores jovens sabem quem foi Buster Brown, Jimmy Slyde, Steve Condos e outros, dessa forma o sapateado se mantém vivo, a essência dele é mantida nos passos e movimentos dos jovens, existe uma ambiência de cumplicidade entre a tradição e o contemporâneo na relação cotidiana do sapateado nos EUA.
Atualmente Jason Samuel Smith representa de forma bastante direta a juventude do sapateado americano, posto que durante muito tempo foi do Savion Glover, ambos trabalham com funk e conseguem captar a juventude para um processo de descoberta do sapateado, acho esse movimento fascinante. Gosto muito do Trabalho de Lane Alexander de Chicago, Lane tem uma generosidade nos pés que é fora do comum, faz um sapateado poético, intimista, desafia a virtuose, é sapateado para ver e ouvir, ver a BAM de Lane Alexander sapateando me dá vontade de voar, de chorar, me afeta todos os sentidos, é um sapateado que me faz pensar. Existe sapateado que fecho os olhos e só escuto, existem outros que mechem internamente, comunicam, me interessa muito um sapateado comunicativo no qual eu consiga trocar algo e viver uma relação de mão dupla, um ir e vir. Tenho essa sensação também quando vejo Roxanne Buterfly, Roxanne é pura paixão e desprendimento no palco, sua felicidade é contagiante, o sapateado feito por ela é sofisticado, limpo, mamou em Jimmy Slyde, aprendeu demais com o mestre e divide esses conhecimentos sem apegos ou mesquinharias.
COMO VOCÊ OLHA O SAPATEADO HOJE?
Acho que o sapateado é uma arte extremamente sofisticada, uma arte que desperta desejos e paixões, me incomoda pensar que o sapateado é uma arte elitista, e me incomoda muito mais quando percebo profissionais que não questionam o elitismo dentro do sapateado. Gosto de pensar o sapateado como um “possível” a todos, sou extremamente feliz com o sapato de sapateado nos pés e desejo que as pessoas pudessem vivenciar essa sensação, penso sempre no momento de meus exercícios de sapateado na criança que está no trânsito em situação de trabalho infantil, na mulher que sofre violência doméstica, na população LGBT que sofre preconceitos, o sapateado me alivia dores da alma.
Tenho um entendimento de que o sapateado, a prática dele pode tornar as pessoas mais sensíveis e comunicativas, lamento que no Brasil essa arte esteja ainda dentro de um ciclo de pessoas que podem pagar preços altos pelas aulas nas academias, existe porém uma grande parte da população que nunca terá acesso porque as aulas são caras, o sapato é caro... enfim.
Acho que poderíamos estar fazendo muito mais pelo sapateado no Brasil, popularizando-o, possibilitando – o às pessoas que têm dificuldades de acessá-lo devido a problemática da falta de dinheiro. O sapateado em si é uma arte popularizada, existe de fato, sua existência é inquestionável, o que temos que pensar daqui pra frente é a sua difusão, jogá-lo nas escolas, em cursos formativos, em programas de qualidade de vida. Acho que conheço apenas 3 experiências no Brasil que têm no sapateado o motor propulsor de transformação, Luiz Baldjão faz um trabalho lindo com crianças em um morro em São Paulo, Christiane Matallo também proporciona essa experiência a algumas crianças em Campinas e em Araguari o Estúdio A tem jogado excelentes profissionais de sapateado ao metier da classe, porém, continuo achando que poderíamos fazer mais, somos poucos mas somos muitos na multiplicidade.
Gostaria que o compromisso do sapateador brasileiro fosse o próprio sapateado e a perpetuação dele como um “possível” e não um compromisso pautado em montagem de coreografias para os grandes festivais competitivos.
Acho extremamente importante festivais formativos como o TAP IN RIO de Steven Harper e Adriana Salomão e o INTERNACIONAL de Christiane Matallo como espaços de difusão e formação do sapateado, são momentos de encontros fantásticos, feito e pensado por pessoas fantásticas que agrega valores, diferenças e estilos.
Ainda acho que o sapateado precisa ser mais praticado, vivenciado e experienciado, eu desejo um país com mais sapateadores porque eu desejo um país mais alegre, e alegria é também uma forma de revolução.
Heber Stalin
Fundador, Bailarino, Coreógrafo e Diretor Geral da Cia. Dos Pés Grandes.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-64647494669378168262013-11-29T07:03:00.003-08:002013-11-29T07:03:55.786-08:00Relato de um pesquisador tímido.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-wH9SapHZWP8/UpisT58PYNI/AAAAAAAAB-U/0QJ5dfXdKfc/s1600/travesti.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-wH9SapHZWP8/UpisT58PYNI/AAAAAAAAB-U/0QJ5dfXdKfc/s320/travesti.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-9zosEx6BdDo/UpisXE_ItkI/AAAAAAAAB-c/NCFUxEP7U1Q/s1600/Cantor+sertanejo+casado+e+com+filhos+%C3%A9+preso+por+tirar+a+roupa+e+se+insinuar+para+travesti.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-9zosEx6BdDo/UpisXE_ItkI/AAAAAAAAB-c/NCFUxEP7U1Q/s320/Cantor+sertanejo+casado+e+com+filhos+%C3%A9+preso+por+tirar+a+roupa+e+se+insinuar+para+travesti.jpg" /></a></div>
A cidade de Fortaleza é mundialmente conhecida pela beleza exuberante de suas praias, um misto de província e urbe que translucidamente reflete nas ruas as gritantes desigualdades sociais, estas aparecem nos mais diferentes setores do desenrolar da vida, na economia, no poder aquisitivo das pessoas, nas sacolas de supermercados das donas de casa, nas cadeiras na calçada, nas crianças que brincam com os brinquedos mais diversos, em Fortaleza, um pneu velho e uma lata enferrujada brilham aos olhos de uma criança da mesma forma que um brinquedo eletrônico da mais alta tecnologia.
Assim como em outras urbes, a cidade e seus esconderijos, tais quais as suas vitrines urbanas, apresentam-se como nichos econômicos, sociais e culturais para o desenrolar da vida. Bares, barracas de praias, praças, calçadas de comércio, esquinas, teatros, cabarés, se configuram como espaços de legitimação da vida cotidiana, esses espaços compõem o desenrolar da vida, espaços de diversão e entretenimento para uns e locais de trabalho para outros.
Dessa forma, o local de observação e pesquisa desse trabalho é a cidade de Fortaleza, mais especificamente o centro da cidade entre as ruas Solon Pinheiro e Jaime Benévolo à altura do Colégio Marista, região habitada de forma intensa durante o dia e escassa de pessoas durante a noite, é um espaço cercado por prédios residências, casas e muitos pontos comerciais.
Há lixo pelas calçadas, muitas pontas de cigarros, poças dágua, olhando de forma mais focada, é possível identificar fitas coloridas, pedaços de comida, latas de cerveja amassadas, um bilhete de alguém “ fui comprar pão, volto já”, e em uma parede um pouco mais distante, um desenho da folha da maconha com o escrito “legalize já”. Há passantes, transeuntes, curiosos, pessoas que em suas atitudes matreiras e escapulidas se confundem com ratos, num frenético ir e vir, procurando uma forma de habitar o espaço sem a percepção dos que ali tentam a sobrevivência.
Odor de urina e fezes se confundem com a essência dos perfumes dos que ali trabalham, o vermelho da boca de batom em choque com o loiro de perucas me transportam para uma cena de filme do cineasta latino Pedro Almodovar, as mínimas roupas, os saltos altos, as bolsas, o cigarro, a atitude corporal, tudo pronto para ser produto, tudo pronto para consumo.
Antes de abordar, fui abordado por Carla, uma travesti, garota de programa de 19 anos de idade que trabalha há dois anos no mesmo ponto, esquina da Solon Pinheiro com Bárbara de Alencar.
Carla usa peruca loira, tem 1.72 de altura, olhos grandes, usa cílios postiços, não usa tanta maquiagem porque sua pele é macia e fresca, tem dentes perfeitos, traços femininos no rosto e no corpo. O corpo de Carla é bonito, pernas compridas, cintura fina, bumbum redondo, não tem pêlos, seus ombros não são largos. Cheira agradável, é simpática, delicada mas quando necessário se torna violenta “adoro a minha vida, não deixo ninguém tirar” (sic).
Vestia mini-saia preta, top azul marinho, usava salto-alto preto, portava uma bolsa pequena, de segurar na mão, dentro da bolsa uma cédula de 20,00, três camisinhas, batom, perfume bem pequeno, uma carteira de cigarro Hilton, a chave de casa e um bisturi “porque às vezes eles não querem pagar” (sic).
As amigas de Carla me olharam de forma esquisita, haviam três do outro lado da rua, uma delas morena, usava shorte jeans com as nádegas de fora, top de brilho prata e salto também prata, peruca morena com luzes claras, portava bolsa cinza de corrente prateada, falava com frequência no celular. Sua parceira de esquina era loira, peruca channel, usava calcinha fio-dental e sutian florido, esta não usava bolsa, dobra seu vestido e o pendura no poste de luz para exibir o corpo para os possíveis clientes. Sentada em um batente havia outra também morena de jaqueta preta, aparentemente saia curta, maquiada, peruca longa, estava sem usar o salto, mas o mesmo estava ao seu lado, chorava muito no momento de minha pesquisa, segundo Carla: “ A mãe está doente, em tempo de morrer” (sic).
Carla parece ser a mais requisitada do grupo, é também a mais jovem, enquanto observava de longe, de dentro do carro, três abordagens foram feitas à Carla, em uma delas ela entrou no carro e retornou em torno de 20min.
Ela é forte, tem personalidade marcante, fala de forma direta, não se incomoda em falar de si mesma, não se envergonha do que faz e diz ser temente a Deus, relata que Deus vai entender e que só faz o que faz porque precisa de dinheiro, não tem mais pai nem mãe, morava com uma tia no interior e era abusada pelo tio e primos desde os 8 anos de idade. Carla não sabe ler nem escrever, mas sabe contar dinheiro e relata que tem vontade de estudar, mas o preconceito é muito grande.
A rotina do trabalho das garotas de programa travestis inicia por volta das 20:00h. Dependendo da necessidade começam o trabalho mais cedo, o dia da semana também é determinante, o movimento para elas aos sábados e domingos pode iniciar até mesmo às 18:00h.
A maioria delas mora pelo centro, levam o tempo de uma hora ou uma hora e meia para ficarem prontas, o processo de maquiagem é longo, têm que subir as sobrancelhas, passar fita gomada ou fita durex no topo da testa para subir os traços e ficarem mais femininas, muitas camadas de base, depois muitas camadas de pó, depois lápis, rimel, delineador, unhas postiças. Passo seguinte é cuidar do corpo, cremes, depilação, limpeza interna. Depois pentear e tratar a peruca, grampos, fivelas, acessórios, por fim a escolha da roupa.
Sobre a roupa Carla fala que gosta de usar vestidos, mas o vestido não atrai clientes, é necessário mostrar bunda e peitos para que os clientes se sintam atraídos, “porque eles vem muitas vezes bêbados, aí eles querem logo é fazer” (sic).
Chegando ao ponto de trabalho, se dividem nas esquinas, entre idas e vindas de esquinas pra esquinas há brincadeiras entre elas, dividem cigarros, emprestam batons, camisinhas e as vezes dividem o lanche.
Ficam sempre em pé, andando em saltos altos, quando o farol dos carros entram na rua, imediatamente vão mostrando a região das costas para que os clientes possam apreciar e quem sabe pagar um programa. Carla relata que já chegou a fazer mais de 500,00 em uma única noite de trabalho. Não existe hora certa para se finalizar a noite de trabalho de Carla e suas colegas, às vezes trabalham até as 6:00 da manhã, às vezes fazem apenas um programa para garantir o aluguel ou a alimentação da noite ou do dia seguinte. “Porque a gente também tem os nossos problemas, tem dias que eu to com nojo de tudo, até de mim” (sic).
Há minimamente companheirismo entre elas, elas riem juntas, brincam, mandam beijinhos, contam piadas, aconselham umas às outras, lembram umas às outras da importância do uso da camisinha, partilham, são cúmplices, “eu ajudo a quem precisar de mim, só não vou ajudar se for pra roubar”.
A falta de acessos as políticas públicas por parte de Carla e suas colegas de trabalho se deu desde cedo e se dá ainda hoje devido os preconceitos relacionados à orientação sexual, no caso específico de Carla, a violação de direitos foi marcante, pois era abusada pelo tios e primos após a morte de seus pais, com dificuldades psicológicas de superar a violação, abandonou a escola, a vida em comunidade e perdeu a noção de que somente através de Educação é que ela poderia superar as violações e as negações de seus direitos, não conhece o Conselho Tutelar, não conhece o papel das ONGS, não sabe o que é uma política pública e não sabe qual o papel do assistente social. A alienação de Carla e suas amiagas é bastante notável.
Como falar de valores nessa perspectiva? Como achar formas de se falar de políticas públicas e acessos se estes são fragilizados em sua totalidade? Como pensar ações que possam sanar minimamente as carências de direitos de Carla e outras profissionais da rua? Como pensar em juventude frente às ditaduras corruptas e eletivas do neoliberalismo? Como pensar em inclusão na política de saúde, educação, habitação e assistência social para esse segmento da sociedade que fica à margem de todas as realizações político-sociais do mundo contemporâneo? Como fazer a sociedade entender esse segmento para além da culpa? Como estrategar falas que tirem a culpabilização da prostituição dos travestis em detrimento do cerceio dos acessos? s~çao muitas as questões que vão ficando após o encontro com Carla.
Acredito que o encontro com Carla foi transformador para nós dois, Carla me encheu de perguntas, quis saber de minha vida pessoal, se eu era casado, se gostava de meninos ou de meninas, me falou que eu era bonito (rsrsrsrsr). Pediu camisinha, do outro lado da rua escutei “Ei Carla tu vai é casar com ele é?”.
Dividi com Carla o tempo de uma hora e dez minutos de conversa, durante esse tempo Carla se mostrou muito atenta ao que eu dizia, ao que eu perguntava, ao que eu queria saber, respondia tudo de modo muito direto, ao final me perguntou se eu não queria tirar foto, perguntou se eu voltaria, “quando quiser pode vir.” (sic.).
Esse mergulho no campo foi muito importante, pois percebo que há muito o que se entender quando estamos na pesquisa, me senti muito confuso, perdi a noção do campo, não sabia mais, confesso que ainda não sei, se Carla ou se o local de seu trabalho são o meu objeto de pesquisa nesse trabalho, o fato é que a partir do contato com Carla pude mapear meus preconceitos, medos, subjetividades e afetividades, é possível se mapear a demanda de políticas públicas para esse segmento, é possível se mapear demandas também afetivas, são muitas as carências, falamos de algumas eu e Carla, mas muitas outras ficaram subentendidas, escondidas, guardadas para quem sabe em um outro momento aparecerem de forma teimosa.
Me despedi de Carla e segui rumo ao carro, nesse trajeto olhei para trás e vi claramente que a dinãmica de trabalho ali instaurada não se modificou. De dentro do carro vi Carla rir com as colegas, reforçar o batom, acender um cigarro e voltar para a esquina da Solon Pinheiro com Bárbara de Alencar, da mesma forma que a encontrei. Vestida de nua, despida de políticas públicas, desejando um futuro melhor. E eu segui. Assim como Carla. Seguimos ao nosso modo Carla e Eu.
Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-80321427472849875952013-11-29T06:51:00.001-08:002013-11-29T06:51:38.219-08:00Um primeiro dia, uma impressão marcante<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-cAOeMLMOrEo/UpipalhrrcI/AAAAAAAAB-A/xX80p41aJM4/s1600/DSC_0079.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-cAOeMLMOrEo/UpipalhrrcI/AAAAAAAAB-A/xX80p41aJM4/s320/DSC_0079.JPG" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-xQsIaLglKhA/Upipd6CWwrI/AAAAAAAAB-I/jw94Ury8mEc/s1600/DSC_0104.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-xQsIaLglKhA/Upipd6CWwrI/AAAAAAAAB-I/jw94Ury8mEc/s320/DSC_0104.JPG" /></a></div>
Comecei o estágio supervisionado I em Serviço Social no dia 12.09 do corrente ano, esse dia foi um diferencial na minha vida acadêmica, pois foi a primeira vez que me deparei com a intervenção do serviço social dentro de uma política que é extremamente frágil e que na qual eu jamais havia despertado o desejo de estar inserido.
A chegada ao ambiente hospitalar foi muito brusca, não há delicadeza que rompa com a dinâmica hospitalar, são tensões, movimentos, paragens, dores, tristezas, odores, tudo se mistura ao ambiente, o misto de salvar vidas com o desespero da morte é uma constante no cotidiano do serviço social hospitalar, os estreitos corredores assim como as salas de atendimento são verdaeiros labirintos, cheios de desconhecimentos, incertezas e angústias dos que ali buscam encaminhar as demandas de seus familiares em estada hospitalar.
Foi assim que começou o primeiro dia de estágio, com o rompimento da minha vida pequeno-burguesa pela realidade social dos que sofrem e agonizam na política de saúde.
O serviço social na instituição é bastante dinâmico, as assistentes sociais entram e saem, sobem e descem, algumas correm, algumas sentam exilando o cansaço, pessoas reclamam na porta do serviço social, idosos, crianças, mulheres, travestis, todos se aglomeram na porta do setor na tentativa de uma mínima notícia de seus familiares, querem saber se já morreram, se estão de alta, se a cirurgia foi bem, há também fome nessas pessoas, algumas desejam entrar para se alimentar ao lado dos seus pacientes, há um desejo enorme de ter, o verbo predominante é o “querer”.
A dinâmica hospitalar muito me tocou nesse sentido, as imagens são fortes, o cheiro é forte, o desespero é forte, as fragilidades são fortes, é preciso dizer que o que há de mais forte no meio disso tudo é a intervenção ( embora em alguns momentos frágeis) das assistentes sociais, que calmamente vão tentando encaminhar as demandas que a elas chegam, elas resistem com muita determinação, fazendo valer a construção do projeto ético-político da categoria e o Código de ética da profissão que têm como compromisso maior o atendimento das demandas da classe trabalhadora.
Adentrando então o espaço do Serviço social, me armei de papel e caneta e adentrei a sala de atendimento da emergência hospitalar para juntamente com a supervisora mapear demandas e traçar encaminhamentos.
Nesse primeiro dia, tudo era grande e novo para mim. O primeiro atendimento foi à uma mãe que teve a filha espancada na noite anterior, o companheiro da filha a espancou, depois a amarrou e cortou a cabeça ao meio com uma faca, do meio da testa até ao pescoço, na tentativa de abrir a moça ao meio e chegar ao coração. No desenrolar da ação dele, a comunidade se revoltou e o espancou até a morte.
Esse atendimento me tocou demasiadamente, traços de crueldade, ação desumana, tentei no entanto me abster de comentários, pois sabia que ali haviam questões que cabiam ao profissional que já tem experiência em casos como esse, e se gundo a supervisora, casos como esse fazem parte do cotidiano do IJF, todos os dias chegam mulheres vítimas de violência doméstica com situações tão esdrúxulas e impactantes como aquela.
Faz parte da dinâmica e do funcionamento do Serviço Social do IJF a rotina de atendimentos em sala e também o atendimento diretamente na emergência, dessa forma, o assistente social fica um determinado tempo na sala e outros determinados tempos diretamente na emergência, nos corredores, local onde existem cabeças quebradas, pernas, braços, bacias quebrados, muito sangue.
Finalizando os atendimentos em sala, subimos para os corredores da emergência do IJF, a emergência é um local que comparo a um campo de concentração, são cabeças partidas ao meio, ossos saindo de corpos, olhos esbugalhados, mãos e pés amarrados, há de tudo na emergência do IJF. O cheiro lá é ainda mais forte, um misto de álcool, afetamina, urinas, fezes e sangue, tudo compõe o cenário de um campo de guerra, soma-se a isso o desespero dos que acompanham, pessoas aflitas, implorando pela presença de médicos que em sua maioria passam pelos corredores como se não fizessem parte do que ali acontece, no meio disso tudo está a figura do assistente social que é o único profissional da saúde que atenta de forma mais direta e tranquila, sendo empático com as dores dos que ali se encontram.
O assistente social vai de leito em leito da emergência, com seu caderno de entrevista social, material informativo sobre DPVAT e cartão de acompanhante, na maioria das vezes é até recebedor de críticas, pois todos reclamam da ausência de médicos para o assistente social.
Feito a vistoria na emergência e cumpridos os atendimentos e preenchimentos de cartão de acompanhante é hora de descer mais uma vez para o Serviço Social, pois lá existem mais atendimentos a serem feitos.
Ao chegar à sala, havia uma notícia de óbito, a supervisora pediu que eu não participasse porque “não conversamos ainda sobre isso” (sic). Fiquei fora da sala de atendimento esperando a finalização do atendimento, ansioso para saber qual seria o próximo passo daquela primeira tarde de estágio.
Após o atendimento do óbito, a supervisora pediu 5min. Saiu e voltou com olhos vermelhos e disse que era natural chorar, confessou que às vezes faz atendimentos que necessita sair, chorar um pouco e voltar para poder concluir.
Calmamente, fomos conversando sobre os instrumentais, a forma de divisão das assistentes sociais por setores do hospital e da dinâmica instaurada no hospital, juntos chegamos à conclusão de que o hospital é um reflexo direto da conjuntura social da cidade, pois o hospital é como um termômetro das questãoes de violência contra a mulher, abandono de idosos, negligência com crianças e adolescentes entre outros, tudo se ver ali, tudo esbarra lá.
Chegada a hora de finalizar o dia de estágio, o microfone geral chama pela supervisora na emergência, pois havia chegado ao hospital muitos casos que precisavam da intervenção do serviço social, a supervisora se levantou, vestiu o jaleco, agradeceu e fiquei olhando sua corrida rumo ao elevador, papel caindo das pastas, uma procura frenética pela caneta nos bolsos, cabelos assanhados, e eu pensei: Isso não é teatro, isso é a vida acontecendo, para quem sofre nela e pra quem “cuida” do sofrimento dela.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-82461020729725820682013-11-04T17:27:00.000-08:002013-11-04T17:27:15.871-08:00"Das coisas que fazemos JUNTOS"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-kr494qQG2-Y/UnhA4UdISuI/AAAAAAAAB9g/mD01pGLQ6Vo/s1600/967402_10202059888836100_112947025_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-kr494qQG2-Y/UnhA4UdISuI/AAAAAAAAB9g/mD01pGLQ6Vo/s400/967402_10202059888836100_112947025_n.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-b9FLCdKOqGA/UnhA7RCBO2I/AAAAAAAAB9o/GSXB2KFtw5A/s1600/1374656_10202059890156133_1082322574_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-b9FLCdKOqGA/UnhA7RCBO2I/AAAAAAAAB9o/GSXB2KFtw5A/s400/1374656_10202059890156133_1082322574_n.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-35Z4EDxd21U/UnhA_nvcsCI/AAAAAAAAB9w/nThzqj7E43s/s1600/1418425_10202059887716072_1895635869_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-35Z4EDxd21U/UnhA_nvcsCI/AAAAAAAAB9w/nThzqj7E43s/s400/1418425_10202059887716072_1895635869_n.jpg" /></a></div>
A Cia. dos Pés Grandes está de filho novo, o resultado de mais de um ano pesquisa chegou aos palcos de forma tímida em setembro desse ano no Teatro Antonieta Noronha, dentro do Projeto Sala de Ensaio.
Em Outubro a Cia. Recebeu convite da Bienal Internacional de Dança do Ceará para apresentação do processo no Teatro Dragão do Mar em Fortaleza e no Galpão da Cena de Itapipoca, interior do Estado.
O trabalho reflete a pesquisa sobre algumas vertentes do esporte, tendo sido mais especificamente vivenciado a partir da técnica do boxe e do atletismo. Alia-se a isso o desejo de se investigas as possibilidades de se fazer coisas juntos, em um mundo tão cheio de incompatibilidades, a urgência do encontro e de desenvolver coisas simples juntos parece um desafio cotidiano.
O processo foi rico, dinâmico, como todo processo que envolve muitas pessoas (somos 12) a incompatibilidade entre presença e ausência foram marcantes na caminhada.
O que mais se presentificou portanto foi o desejo de permanência, de estada, de partilha, "ficância" e uma tentativa incansável na sala de aula de equalizar as individualidades de um grupo misto, com especificidades unas e a-similares.
Muito ainda a se pensar e se afetar dentro do trabalho, muito a dizer e muito a escutar.
O elenco é composto por:
1. Heber Stalin - Pedagogo e Assistente social em formação, Na área de dança é formado pelo CTD, primeira turma, foi aluno do Curso de extensão da UFC - Dança e Pensamento, é Fundador, diretor geral, coreógrafo e bailarino. (chato, imaturo, embora seja o mais velho, reclama de tudo, quer sempre mais, tem manis de perfeição, cobra mais do que devia, é comprometido com a categoria profissional e com o fazer artístico)
2. Dudhu Abreu - Aluno do curso de artes cênicas do IFCE, bailarino, sapateador e integrante de outras Cias. de teatro e dança da cidade. ( Menino lindo, cara de caçula)
3. Edson Sousa - Bailarino, aluno do CTD, ex integrante do CEM tendo dançado vários repertórios em outras Cias. de dança da cidade. (Irresponsável de vez em quando, mas o talento para o sapateado - que ele nem sabe que tem - é algo a destacar - é amor, meu amor pra sempre)
4. Fabinho Vieira - Estudante de Publicidade e Propaganda, Formado pelo Colégio de direção teatral de Fortaleza, sapateador, integra outros coletivos artísticos na cidade, promove festas (Coração, pedaço que tava faltando, fashion, por mais barulhento que seja, o silêncio de sua existência é bálsamo para a minha criação, amor que veio pra ficar, vejo desejo nele inteiro)
5. Henrique Casimiro - Estudante de Secretariado executivo da UFC, Integrou a Cia. há dois anos e retornou para a pesquisa que ora se apresenta ( é xodó, criança grande, responsabilidade, o bumbum mais lindo da Cia. é pura inteligência, estratégico, segura a minha mão e me diz sempre: "Estou aqui Heber", sua integridade e caráter são verdadeiros tesouros.)
6. Jota Nogueira - Servidor Público, componente tb do Coral da UFC. ( é manso, leve, risonho, cachinhos dourados, brilha em tudo o que fala, tem altivez, é nobre, fala pouco, gosto de papear de vez em quando, parece meio voador, é dócil, é gostoso também.)
7. José Avantam - Estudante de pedagogia da UECE, Trabalha com TI, sapateia há 10 anos ( É o meu mais velho, carinho e amor antigo, olhos de menino medroso, corpo de menino bebê, é um poço de fragilidade e doçura, quando fala parece um bebê, vivemos muitas estórias juntos, é parte da minha vida, está em mim, amor mais antigo, gratidão)
8. Lucas Teófilo - Ator formando pelo IFCE, Cantor. (... misto de amigo e marido, aquele que me traz p a realidade, que me cutuca, me dá um banho de água fria, me dá tapas na cara, é aconchego, é segurança, é tudo o que há de cumplicidade, é presença - se desejar será um grande sapateador - sapateou muito rápido, o suficiente pra sapatear em mim. Príncipe)
9. Rodrigo Silva - Micro empresário, sapateador primoroso (Não tenho muito o que falar, Rodrigo é filho pródigo, a realização de minhas conquistas está nele, estilo, responsabilidade, amor ao sapateado, é meu cúmplice, meu corpo, meu olhar, tudo de mim está nele, é a perpetuação da minha dança quando eu não estiver mais aqui. Gratidão e amor eterno. Lágrimas).
10. Rubéns Lopes - Estudante do curso de dança da UFC, Diretor da Anagrama Cia. de Dança. (ai... e agora? Ele é a minha pérola negra, execução perfeita do que sonhei um dia executar, competência física e intelectual, bailarino de referencia, é lento, moroso, macio, gostoso, lindo. Gratidão, a ausencia dele em mim nunca vai existir. Paixão. Companheirismo, aquele que me entende e resolve. AMOR)
11. Saymon Morais - Ator formado pelo IFCE, Professor de Teatro. (Lindo, príncipe, pavão, gosta de ser olhado, é carinhoso, às vezes arisco, é sensível fisicamente e emocionalmente, se preocupa com o que faz, é terno, rir excessivamente, me faz bem, parece um menino em alguns momentos, dá vontade de por no colo.
12. Wallan Abreu - Pessoa de dança e de mundo, surfista, atleta ciclista. ( amante do mar, da terra, da lua e do sol, é manso, romântico, persistente, determinado como um leão, riso largo e lindo, pernas compridas, sangue de muitos, boquinha cheirosa. quanto mais luta no sapateado mais tenho adimiração.)
Pessoas lindas, generosas, dispostas.
Obrigado pela partilha.
Sigamos.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-26265368623438142092013-11-04T16:49:00.001-08:002013-11-04T16:49:16.545-08:00Minha dança na escrita do cotidiano paralelo<a href="http://2.bp.blogspot.com/-crCNP5r-ras/UnhAHE6LUtI/AAAAAAAAB9Q/JCPr-6jeWxE/s1600/IMG_2662.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-crCNP5r-ras/UnhAHE6LUtI/AAAAAAAAB9Q/JCPr-6jeWxE/s320/IMG_2662.JPG" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-qc3Oeo6DJJc/Ung_0r1PwJI/AAAAAAAAB9E/xbjPsZAp8yM/s1600/indo.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-qc3Oeo6DJJc/Ung_0r1PwJI/AAAAAAAAB9E/xbjPsZAp8yM/s320/indo.jpg" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-uWVfOTLMf8o/UnhAHRE3N1I/AAAAAAAAB9M/rK1Q6FQ9Cx4/s1600/554919_10151902251909228_1214627508_n.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-uWVfOTLMf8o/UnhAHRE3N1I/AAAAAAAAB9M/rK1Q6FQ9Cx4/s320/554919_10151902251909228_1214627508_n.jpg" /></a>
Comecei o estágio supervisionado I em Serviço Social no dia 12.09 do corrente ano, esse dia foi um diferencial na minha vida acadêmica, pois foi a primeira vez que me deparei com a intervenção do serviço social dentro de uma política que é extremamente frágil e que na qual eu jamais havia despertado o desejo de estar inserido.
A chegada ao ambiente hospitalar foi muito brusca, não há delicadeza que rompa com a dinâmica hospitalar, são tensões, movimentos, paragens, dores, tristezas, odores, tudo se mistura ao ambiente, o misto de salvar vidas com o desespero da morte é uma constante no cotidiano do serviço social hospitalar, os estreitos corredores assim como as salas de atendimento são verdaeiros labirintos, cheios de desconhecimentos, incertezas e angústias dos que ali buscam encaminhar as demandas de seus familiares em estada hospitalar.
Foi assim que começou o primeiro dia de estágio, com o rompimento da minha vida pequeno-burguesa pela realidade social dos que sofrem e agonizam na política de saúde.
O serviço social na instituição é bastante dinâmico, as assistentes sociais entram e saem, sobem e descem, algumas correm, algumas sentam exilando o cansaço, pessoas reclamam na porta do serviço social, idosos, crianças, mulheres, travestis, todos se aglomeram na porta do setor na tentativa de uma mínima notícia de seus familiares, querem saber se já morreram, se estão de alta, se a cirurgia foi bem, há também fome nessas pessoas, algumas desejam entrar para se alimentar ao lado dos seus pacientes, há um desejo enorme de ter, o verbo predominante é o “querer”.
A dinâmica hospitalar muito me tocou nesse sentido, as imagens são fortes, o cheiro é forte, o desespero é forte, as fragilidades são fortes, é preciso dizer que o que há de mais forte no meio disso tudo é a intervenção ( embora em alguns momentos frágeis) das assistentes sociais, que calmamente vão tentando encaminhar as demandas que a elas chegam, elas resistem com muita determinação, fazendo valer a construção do projeto ético-político da categoria e o Código de ética da profissão que têm como compromisso maior o atendimento das demandas da classe trabalhadora.
Adentrando então o espaço do Serviço social, me armei de papel e caneta e adentrei a sala de atendimento da emergência hospitalar para juntamente com a supervisora mapear demandas e traçar encaminhamentos.
Nesse primeiro dia, tudo era grande e novo para mim. O primeiro atendimento foi à uma mãe que teve a filha espancada na noite anterior, o companheiro da filha a espancou, depois a amarrou e cortou a cabeça ao meio com uma faca, do meio da testa até ao pescoço, na tentativa de abrir a moça ao meio e chegar ao coração. No desenrolar da ação dele, a comunidade se revoltou e o espancou até a morte.
Esse atendimento me tocou demasiadamente, traços de crueldade, ação desumana, tentei no entanto me abster de comentários, pois sabia que ali haviam questões que cabiam ao profissional que já tem experiência em casos como esse, e se gundo a supervisora, casos como esse fazem parte do cotidiano do IJF, todos os dias chegam mulheres vítimas de violência doméstica com situações tão esdrúxulas e impactantes como aquela.
Faz parte da dinâmica e do funcionamento do Serviço Social do IJF a rotina de atendimentos em sala e também o atendimento diretamente na emergência, dessa forma, o assistente social fica um determinado tempo na sala e outros determinados tempos diretamente na emergência, nos corredores, local onde existem cabeças quebradas, pernas, braços, bacias quebrados, muito sangue.
Finalizando os atendimentos em sala, subimos para os corredores da emergência do IJF, a emergência é um local que comparo a um campo de concentração, são cabeças partidas ao meio, ossos saindo de corpos, olhos esbugalhados, mãos e pés amarrados, há de tudo na emergência do IJF. O cheiro lá é ainda mais forte, um misto de álcool, afetamina, urinas, fezes e sangue, tudo compõe o cenário de um campo de guerra, soma-se a isso o desespero dos que acompanham, pessoas aflitas, implorando pela presença de médicos que em sua maioria passam pelos corredores como se não fizessem parte do que ali acontece, no meio disso tudo está a figura do assistente social que é o único profissional da saúde que atenta de forma mais direta e tranquila, sendo empático com as dores dos que ali se encontram.
O assistente social vai de leito em leito da emergência, com seu caderno de entrevista social, material informativo sobre DPVAT e cartão de acompanhante, na maioria das vezes é até recebedor de críticas, pois todos reclamam da ausência de médicos para o assistente social.
Feito a vistoria na emergência e cumpridos os atendimentos e preenchimentos de cartão de acompanhante é hora de descer mais uma vez para o Serviço Social, pois lá existem mais atendimentos a serem feitos.
Ao chegar à sala, havia uma notícia de óbito, a supervisora pediu que eu não participasse porque “não conversamos ainda sobre isso” (sic). Fiquei fora da sala de atendimento esperando a finalização do atendimento, ansioso para saber qual seria o próximo passo daquela primeira tarde de estágio.
Após o atendimento do óbito, a supervisora pediu 5min. Saiu e voltou com olhos vermelhos e disse que era natural chorar, confessou que às vezes faz atendimentos que necessita sair, chorar um pouco e voltar para poder concluir.
Calmamente, fomos conversando sobre os instrumentais, a forma de divisão das assistentes sociais por setores do hospital e da dinâmica instaurada no hospital, juntos chegamos à conclusão de que o hospital é um reflexo direto da conjuntura social da cidade, pois o hospital é como um termômetro das questãoes de violência contra a mulher, abandono de idosos, negligência com crianças e adolescentes entre outros, tudo se ver ali, tudo esbarra lá.
Chegada a hora de finalizar o dia de estágio, o microfone geral chama pela supervisora na emergência, pois havia chegado ao hospital muitos casos que precisavam da intervenção do serviço social, a supervisora se levantou, vestiu o jaleco, agradeceu e fiquei olhando sua corrida rumo ao elevador, papel caindo das pastas, uma procura frenética pela caneta nos bolsos, cabelos assanhados, e eu pensei: Isso não é teatro, isso é a vida acontecendo, para quem sofre nela e pra quem “cuida” do sofrimento dela.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-24740306928860830692013-03-25T15:18:00.002-07:002013-03-25T15:18:44.201-07:00POR ONDE SE VÊ A DANÇA CONTEMPORÂNEA. Maravilha de texto.<a href="http://3.bp.blogspot.com/-tLUxhEYOREk/UVDL8Zj5e-I/AAAAAAAAB7A/uVsgiTkrW3U/s1600/PAAAAMToPSNmzvP01SrgwQSytwkqvO5IZYrOncPDdIG3jghrpjJ7mjS2yB17fc-CvQQ-KJMQUamkMnzxmJv4dhjBGF0Am1T1UBdcCisj3rkRx4Tp8CP3bmNAtCER.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-tLUxhEYOREk/UVDL8Zj5e-I/AAAAAAAAB7A/uVsgiTkrW3U/s320/PAAAAMToPSNmzvP01SrgwQSytwkqvO5IZYrOncPDdIG3jghrpjJ7mjS2yB17fc-CvQQ-KJMQUamkMnzxmJv4dhjBGF0Am1T1UBdcCisj3rkRx4Tp8CP3bmNAtCER.jpg" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-7rlo0HDYlig/UVDL_ThHZrI/AAAAAAAAB7I/0-FhTyHDrrw/s1600/PAAAANsLf4rNL25Lp_D4WiLhaVT10qrr_4t5lsUIDN-mr9eykDgvj1paTnOwppGgWQTOEmmEtkqTGInTHKEaBtRuRNkAm1T1UHDbo9OPDTj0wFpOEORNbfvJaNuR.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-7rlo0HDYlig/UVDL_ThHZrI/AAAAAAAAB7I/0-FhTyHDrrw/s320/PAAAANsLf4rNL25Lp_D4WiLhaVT10qrr_4t5lsUIDN-mr9eykDgvj1paTnOwppGgWQTOEmmEtkqTGInTHKEaBtRuRNkAm1T1UHDbo9OPDTj0wFpOEORNbfvJaNuR.jpg" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Wgs7PI4HV9g/UVDMHqWSjeI/AAAAAAAAB7Q/cvU6oRRyJy4/s1600/IMG_1127.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Wgs7PI4HV9g/UVDMHqWSjeI/AAAAAAAAB7Q/cvU6oRRyJy4/s320/IMG_1127.JPG" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-Q-R18vs3rxQ/UVDMVNdapeI/AAAAAAAAB7Y/w0wZu4jmYss/s1600/uy.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-Q-R18vs3rxQ/UVDMVNdapeI/AAAAAAAAB7Y/w0wZu4jmYss/s320/uy.jpg" /></a>
O que é a dança contemporânea ou dança pós-moderna? Esta
continua sendo a pergunta de muitos bailarinos, coreógrafos,
professores, pesquisadores, espectadores e alunos de dança, em todos os
encontros, cujo foco de discussão seja esta linguagem cênica. E, de certo,
tal questão persistirá por um longo tempo, sem resposta absoluta,
simplesmente, por se tratar de um modo diferente de pensar e criar a
dança em outros ambientes, com diferentes linguagens artísticas e com
distintos materiais. A partir de um trânsito livre de idéias, investigação e
experimentação, a dança contemporânea encontra a sua própria lógica
na fusão de diversos signos que, pelo corpo que dança, se convertem em
signos esteticamente coreografados.
A inter-relação entre dança e teatro; dança e performance; dança e
literatura; dança e artes plásticas; música e tecnologia, há muito,
estabeleceu diálogos no campo da criação, e isto, não é exclusivo da
dança contemporânea, porém, a dança em meados dos anos 40, revela ao
mundo outras maneiras de pensar-fazer tais relações na cena
coreográfica contemporânea. Mas, como definir um movimento artístico
de maneira única, em uma sociedade que se distanciou de uma vida
disciplinar absoluta, que deixou para trás a filosofia clássica de uma
sociedade “como sistema delimitado e sua substituição por uma
perspectiva que se concentra na forma como a vida social está ordenada
ao longo do tempo e do espaço” (Giddens apud HALL, 2005, p.67).
A sociedade contemporânea está “condenada” a viver com as
diferentes redes de informações, numa velocidade que dá pouco tempo ao
corpo para se organizar, com os avanços e surgimentos de produtos com
tecnologias mais avançadas, quer seja para o conhecimento usual no
cotidiano ou para o uso na cena. A dança contemporânea nasce com os
preceitos da contemporaneidade e carrega, em si, as constantes
modificações dos processos do mundo globalizado, o que implica dizer
que este gênero de criação vive as questões referentes ao seu tempo, mas,
seria muito ingênuo pensar esta prática em função do tempo
contemporâneo, apenas.
A questão da reflexão sobre a dança contemporânea não está
restrita ao tempo, no sentido dos acontecimentos nele ocorridos, mas, na
proposição dos signos estéticos configurados à imanência de sua
poética, capazes de criar e transformar a realidade dos materiais
derivados de outros fazeres, em um saber-fazer-dizer, de modos REVISTA ENSAIO GERAL, Belém, v.1, n.1, jan-jun|2009
diferentes. Do seu jeito particular de sentir, de ver, de recriar e resignificar, ao sabor do devir (DELEUZE, 2006), num jogo de deixar vir a
ser a essência de sua própria criação e do seu olhar do mundo.
Uma criação que transporta uma estética que articula vários
elementos provenientes de outras áreas do conhecimento e encontra um
modo particular e, ao mesmo tempo universal, que não se escraviza a
uma técnica de criação e, muito menos, de preparação corporal. A toda
nova criação, o artista encontra o seu rumo de investigação, o campo de
experimentações e vivências é, inegavelmente, conquistado por cada
criador que elabora o seu método de pesquisar e de estar em cena.
A professora e pesquisadora Denise Siqueira prefere pensar,
conceitualmente, dança contemporânea como um “guarda-chuva que
abarca construções coreográficas muito diversas de variados lugares e
culturas ao redor do mundo” (SIQUEIRA, 2006, p. 107). Neste terreno
movediço, por onde caminha este gênero de dança, não dá para tecer
nenhum diálogo uníssono, sobretudo, pela ousadia e coragem criativa
(MAY, 1975) de colocar o corpo na cena. Corpo este, também, formado
por vários acontecimentos grudados na memória de cada célula corporal,
que transporta tanto no cotidiano, quanto para a cena coreográfica,
diferentes modos e estados de ver, sentir e de estar em comunicação no e
com o mundo.
Trata-se de uma dança que não exclui absolutamente nada, nem
ninguém, ao contrário, é capaz de abraçar diferentes linguagens e objetos
da cena na mesma montagem. Uma de suas características concentra-se
na possibilidade de articulação com várias áreas do saber, em dinâmicas
e processos de criações marcadas pela pluralidade de idéias e estéticas,
em constante recriação, reconfiguração e de reconhecimento de uma
linguagem transdisciplinar que, pelo diferencial do fazer-dizer diverso,
convida artistas, críticos e público em geral ao diálogo do múltiplo.
A maneira como se pensa a cena de dança contemporânea tornase grande desafio, tanto para os artistas, quanto para o público que,
constantemente, é chamado a descobrir outra maneira de ver, sentir e de
dialogar com a obra coreográfica, tarefa essa, cada vez mais difícil e
estranha, para alguns olhos que ainda tentam conviver e se acostumar
com a velocidade das informações de um mundo, hoje, com fronteiras
tênues.
Mas de quais fronteiras, na dança, estamos falando? E há quanto
tempo dizemos e lemos em vários artigos que as fronteiras são tênues? A
impressão é que ainda temos receio de assumir que as porteiras já se
abriram e romperam completamente, ou será que não? Talvez, nos
sintamos mais tranqüilos em pensar que ainda há um fio não rompido,
esteticamente, do período que antecedeu o fazer-pensar na pósmodernidade. Daí, continuarmos a falar de ensino e pesquisa em dança
contemporânea, que ainda faz uso de técnicas sistematizadas há mais de REVISTA ENSAIO GERAL, Belém, v.1, n.1, jan-jun|2009
três séculos. Então, de que dança contemporânea falamos e fazemos? E
como afirmar que estamos diante de uma montagem de dança
contemporânea? E será que ainda precisamos de afirmação desta ordem?
Contudo, não estamos pensando que é preciso esquecer,
definitivamente, os acontecimentos do passado, afinal, eles foram
importantes para as transformações que vivenciamos agora, mas,
fazendo um convite para refletir sobre a criação em dança que continua
em ascensão nos fenômenos contemporâneos e, portanto, como fruto de
um mundo de ruptura, de fragmento e desterritorializado em constante
transmutação.
Na contramão de tantas questões paradigmáticas, este gênero de
dança felizmente existe e agrega, em seu fazer, valores e reconhecimentos
de uma arte em constante processo, aberta às inúmeras experimentações
e leituras que, inscritas no corpo, não podem ser entendidas fora dele e,
além disso, propõe um discurso que inaugura outra perspectiva de olhar
e fazer a dança.
A experimentação e a liberdade de criação encontram, na dança
contemporânea, o campo fértil para o sentido do novo, naquilo em que o
corpo-sujeito que dança, ainda não vivenciou, algo diferente, que propõe
distanciamento dos estereótipos coreográficos já existentes. A condição
de experimentar e vivenciar os acontecimentos no corpo contemporâneo é
inegavelmente maior.
Observamos que existiram momentos nos processos criativos que
pareciam querer iniciar certa sistematização de seqüências de
movimentos, quer sejam de aulas desta estética coreográfica, ou nas
criações propriamente. Nos anos 80, as coreografias contemporâneas
enfatizavam em suas composições os elementos da corrida, saltos,
rolamentos, acrobacias, quedas e, praticamente nada, além disso. Em
todos os festivais, lá estavam os mesmos elementos colocados em ordens
diferentes, sem nenhuma pesquisa que apontasse um elemento surpresa.
Na década seguinte, a reflexão acerca deste movimento nos fez
avançar em direção às novas pesquisas que imprimissem na cena a
diferença, reconhecendo, de modo contumaz, os métodos subjetivos de
cada criador, como o meio de reflexão, ousadia, estranhamento e
coragem de lidar com diferentes materiais na concretização de uma
dança mais autoral, que não se encontra em nenhuma fronteira tênue,
que não quer se fechar em códigos geradores de conceitos estereotipados,
que não divide a performance, o teatro, o canto, a literatura, as artes
plásticas, ou qualquer outro fenômeno de comunicação. Ao contrário,
junte as várias linguagens para criar uma terceira, cujo significado
encontra-se no interior das formas imbricadas de um corpo capaz de
dançar e cantar, simultaneamente, de falar um texto enquanto dança, de
pintar o chão com o corpo enquanto dança, de improvisar para criar a
dança no instante em que entra no palco. Então, onde está a fronteira? REVISTA ENSAIO GERAL, Belém, v.1, n.1, jan-jun|2009
Não há fronteiras para ver e fazer a dança, como não há regras
rígidas para criar, na cena contemporânea. Os coreógrafos e
pesquisadores contemporâneos têm a liberdade de trabalhar com corpos
desprovidos de preconceitos, livres de quaisquer paradigmas que possam
frear a liberdade de experimentar o inesperado.
É difícil afirmamos que a tendência estética na dança
contemporânea vai nesta ou naquela direção, acredito que a tendência
esteja estreitamente conectada à idéia de cada criador, portanto, são
muitas as direções neste campo de investigação. Aqui, impera a idéia
conceitual daquilo que queremos, como criadores, comunicar pela
estética de nossos resultados artísticos.
Por onde se vê a dança? Por onde se dança? Não se vê por um
único canal, não se dança da mesma maneira e nem no mesmo tempoespaço. O que está por trás de cada criação deve ser descoberto, como
nos lembra Mikail Bakhtin, no interior das formas e conteúdos que,
numa fração de segundos, na dança, passam à frente de nossos olhos,
em movimentos e fluxos coreográficos que, temporariamente, na cena,
imprimem a semântica que lhe é peculiar (BAKHTIN, 2000).
A dança de que falamos nos lembra o mestre Mercer Cunningham,
pode ser concebida e encenada em qualquer lugar, para qualquer corpo,
com ou sem música, com ou sem narrativa e o acaso é mais uma
característica do que pode a dança e o corpo na cena contemporânea.
Trata-se de uma gramática coreográfica que não se restringe a um único
código de movimento, portanto, um fazer múltiplo: de múltiplos olhares,
de múltiplas escolhas, de múltiplos diálogos e dramaturgias.
O pensamento e o fazer que redimensionam a dança
contemporânea, em todo o seu sistema simbólico, encontram na
alteridade a principal chave para o olhar diverso de cada obra escrita no
corpo. A perspectiva de criação é certamente a mais distinta, uma vez
que se distancia da idéia de sistematização de um único fazer, e não se
deixa aprisionar por uma determinada regra. As técnicas, os materiais e
os artifícios usados pelos artistas não estão vazios, ao contrário, em suas
formas estão contidos inúmeros significados que, somados às idéias do
criador em dança, revelam outras possibilidades de comunicação numa
perspectiva inovadora.
Neste universo ousado de recriar e inovar, novos instrumentos
deste mundo industrial capitalista entram em cena, nos processos
criativos coreográficos. O mundo das sofisticadas máquinas de alta
tecnologia ganha mais espaços na dança. Assim, o computador é, hoje,
não apenas mais uma ferramenta para gravar e reproduzir CD, DVD, ou
para simplesmente digitar um texto. Na dança, é mais um relevante
instrumento, que modifica o fazer e o olhar de criadores, que
experimentam os recursos tecnológicos e reinventam outros modos
diferentes de usar os aparatos da tecnologia, na fusão com a dança. REVISTA ENSAIO GERAL, Belém, v.1, n.1, jan-jun|2009
A linguagem do audiovisual, entrelaçada com a linguagem da
dança, fez insurgir no mundo da dança contemporânea o que hoje
conhecemos como linguagem da vídeodança. Uma prática artística que
nada tem a ver com o registro simples e fiel de uma obra coreográfica, ao
contrário, tem uma relação entre corpo, câmera, tempo-espaço, numa
proposição de fusão entre linguagens em ambientes diversos. Para o
professor Alexandre Veras “uma invenção de um espaço de pesquisa que
explora diversas relações possíveis entre a coreografia, como um
pensamento dos corpos no espaço e o audiovisual, como um dispositivo
de modulação das variações espaços-temporais” (VERAS, 2007, p.15).
O cenário da dança contemporânea expande-se no campo do não
limite e é tanto da natureza cibernética, quanto da natureza corporal. A
questão está na escolha dos materiais e na maneira operacional dos
mesmos, em signos estéticos, de modo que a recepção, o processamento
e a comunicação sempre se darão entre os corpos.
À guisa da reflexão particular acerca do contexto da dança
contemporânea, vale comungar com a pesquisadora e professora Helena
Katz, que vê a dança como “o pensamento do corpo, e esse corpo, como a
mídia básica, exemplar dos processos de comunicação da natureza”
(KATZ, 2003, p.262), é pela natureza do corpo que as informações se
cruzam e, deste mesmo lugar, emerge a recepção, a comunicação e a
transformação na dança.
Um exercício permanente de organizar os signos e seus sistemas
conceituais para, em seguida, convertê-los em movimentos metafóricos
do corpo que é dança e assim, aprofundar o olhar de quem dança e
dialoga à luz de uma poética contemporânea, eminentemente,
transdisciplinar e herdeira de vários filamentos ramificados, ao longo da
evolução do fazer-pensar-dançar. Aqui reside a idéia do “guarda-chuva”
como o local que abriga todas as poéticas coreográficas contemporâneas,
entre elas, a dança-teatro, a vídeo-dança e todas as outras possibilidades
de fusão estética coreográfica que o artista continua a investigar.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 2006.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de
Janeiro: DP&A, 2005.
KATZ, Helena. A dança, pensamento do corpo. In. NOVAES, Adauto.
(Org.). O homem máquina: a ciência manipula o corpo. São Paulo
Texto de
Waldete BRITO
Doutoranda em Artes Cênicas (UFBA). Mestre em Artes Cênicas-UFBA.
Intérprete Criadora, Diretora Artística e
Professora da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA). Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-21204785599805918292013-03-25T15:10:00.003-07:002013-03-25T15:10:32.865-07:00Texto importantíssimo na minha vida!<a href="http://4.bp.blogspot.com/-fHbXYVKnG5o/UVDK5NilhcI/AAAAAAAAB6Y/P0FHfq9TWMg/s1600/100_1608.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-fHbXYVKnG5o/UVDK5NilhcI/AAAAAAAAB6Y/P0FHfq9TWMg/s320/100_1608.JPG" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-0fWUSw5G6_g/UVDK_EbM3zI/AAAAAAAAB6g/-usAT3iuhjs/s1600/100_1610.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-0fWUSw5G6_g/UVDK_EbM3zI/AAAAAAAAB6g/-usAT3iuhjs/s320/100_1610.JPG" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-zISGC53hBEI/UVDK_cEPdkI/AAAAAAAAB6k/Kx6N2cCCRIs/s1600/100_1611.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-zISGC53hBEI/UVDK_cEPdkI/AAAAAAAAB6k/Kx6N2cCCRIs/s320/100_1611.JPG" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-ms6XlnlxcI8/UVDLB6PzAoI/AAAAAAAAB6w/-pl-ZSA-gfA/s1600/100_1614.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-ms6XlnlxcI8/UVDLB6PzAoI/AAAAAAAAB6w/-pl-ZSA-gfA/s320/100_1614.JPG" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-GGuu8ctR1QI/UVDLJYfEiYI/AAAAAAAAB64/zSMhXZwHTiE/s1600/100_1612.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-GGuu8ctR1QI/UVDLJYfEiYI/AAAAAAAAB64/zSMhXZwHTiE/s320/100_1612.JPG" /></a>
– Tu faz dança? Que legal! Mas que tipo de dança?
– Dança contemporânea.
O sujeito fica parado e depois de vencer o constrangimento:
– Mas o que é essa tal de dança contemporânea?
Daí o vivente, que faz dança contemporânea e sabe bem o que faz, se vê em apuros para dar uma resposta clara. Afinal, dança contemporânea não é uma técnica ou método que vem com rótulo. Então, ele arrisca:
– Sabe o Quasar Cia. de Dança? – que o vivente acha referência no país e crê ser bastante conhecida.
O sujeito permanece na mesma.
– E o Grupo Corpo? – ele lembra, já entrando em desespero. – E Deborah Colker? – ainda que não fosse o melhor exemplo que você quisesse dar.
– Ah, já vi na televisão, responde o sujeito finalmente com um brilho no olhar de quem agora pode encerrar a conversa.
E o vivente, com a certeza de que não conseguiu explicar e que melhor que explicar era sugerir que assistisse a um espetáculo.
A realidade é esta que o suposto diálogo acima ilustra. A idéia de dança contemporânea não consolidou uma referência para a maioria do público (e mesmo para a comunidade de dança), ainda mais num Estado que vê com desconfiança aquilo que não é tradição. E isso vale muitas vezes para quem produz, ou acha que produz, dança contemporânea. Basta ver a confusão em tantos festivais competitivos. O território da dança contemporânea é um vale-tudo. Passos de jazz com música experimental. Neoclássico ao som do diálogo dos bailarinos. Dança de rua com um toque de vanguarda. E a obra, nesta lógica estapafúrdia, é avaliada por especialistas de toda ordem, menos de dança contemporânea.
Esta realidade tem como origem a rara circulação de informações e o consumo de informações descontextualizadas e superficialmente elaboradas. A qualidade dessas informações é essencial e precisa ser difundida a quem pretende preparar um treinamento, criar, julgar e apreciar a dança contemporânea. Não dá para saborear morangos e reclamar de que não têm gosto de figos. Ninguém curte uma partida de futebol sem conhecer as regras do jogo. Nesse sentido, é preciso apresentar alguns fatos, ainda que de forma sintética, para que eles possam falar desta tal de dança contemporânea.
Fato 1. A dança contemporânea não é uma escola, tipo de aula ou dança específica, mas sim um jeito de pensar a dança. Forjada por múltiplos artistas no mundo, teve nas propostas da Judson Church, em Nova York, na década de 60, sua mais clara formulação de princípios. Dentre eles, o de que cada projeto coreográfico terá de forjar seu suporte técnico. E que ter um projeto é percorrer escolhas coerentes, como o fez Trisha Brown – e também, longe dali, na Alemanha, Pina Bausch, com sua dança-teatro, nos anos 70. Tal princípio implicou tanto a preservação de aulas de balé nutridas por outras técnicas e linguagens quanto o abandono do balé e a incorporação, por exemplo, de técnicas orientais. Assim, passou a se constituir uma infinidade de alternativas, como o teatro-físico do DV-8 (companhia inglesa composta só por homens, que aborda a homofobia e que recorreu ao uso de corpos que expressam força, agressividade e sexualidade, coisa que o balé não podia fornecer).
Fato 2. Não há modelo/padrão de corpo ou movimento. Portanto, a dança não precisa assombrar por peripécias virtuosas e nem partir da premissa de que há “corpos eleitos”. Na dança contemporânea, a máxima repetida por pedagogos ortodoxos de que “não é tu que escolhes a dança, mas a dança que te escolhe” não tem sustentação. E, dessa forma, pode-se reconhecer a diversidade e estabelecer o diálogo com múltiplos estilos, linguagens e técnicas de treinamento.
Fato 3. Dança é dança. A dança contemporânea reafirma a especificidade da arte da dança. Dança não é teatro, nem cinema, literatura ou música. Apesar de poder ganhar muito com a cooperação dessas artes. A dança não precisa de mensagem, de história e mesmo de trilha sonora. O corpo em movimento estabelece sua própria dramaturgia, sua musicalidade, suas histórias, num outro tipo de vocabulário e sintaxe.
Fato 4. The Mind is a Muscle, proclamou Yvone Rainer quando a dança pós-moderna norte-americana abalava o estabilishment. Pensamento e corpo, tão separados na tradição ocidental, não são entendidos como lugares estranhos um ao outro. Até mesmo a ciência já traz evidências de que razão e emoção não são opostos. O pensamento se faz no corpo e o corpo que dança se faz pensamento. Isso não implica uma cerebralização fria, no caminho de uma dança conceitual, nem na biologização vazia da dança. Tal princípio não exime a qualidade técnica, nem o sabor e o prazer de dançar. Ele ressalta a complexidade que precisa ser compreendida.
Tais fatos precisam começar a ecoar, se o objetivo é saber o que é esta tal de dança contemporânea, que as pessoas insistem em dizer que fazem e que insiste em permanecer em cartaz em teatros, calçadas, estúdios. (Não foi à toa que Fato. se chamava o recente e provocante espetáculo da coreógrafa gaúcha Tatiana da Rosa.) Fatos que estão se estabelecendo em obras sensíveis e inteligentes, construídas dentro destes princípios na temporada 2005, em Porto Alegre, como In-compatível, de Eduardo Severino, ou Bu, da Meme – Centro Experimental do Movimento. A mesma qualidade está no trabalho de Nei Moraes, em Caxias do Sul, e Luciana Paludo, em Cruz Alta.
A partir desses fatos, pode-se muito (mas não se pode qualquer coisa). A liberdade trazida pela perspectiva da dança contemporânea não dispensa idéias fortes e a inventividade das grandes obras de qualquer forma artística, nem um domínio técnico (ainda que isso não caiba mais apenas nas esfera do aprendizado de passos corretos). A dança contemporânea evidencia que escolhas estéticas revelam posturas éticas. Numa época de tantas barbáries impostas ao corpo, é preciso recuperar esta ética quando se escolhe fazer arte com o corpo – seja o seu, seja (principalmente) o dos outros.
A dança contemporânea parece ter aceitado a provocação, com ecos de contemporaneidade, de Jean George Noverre. O mestre de dança, em 1760, ao falar sobre o balé e as rígidas regras da dança da época, afirmava: “Será preciso transgredi-las e delas se afastar constantemente, opondo-se sempre que deixarem de seguir exatamente os movimentos da alma, que não se limitam necessariamente a um número determinado de gestos”. Num mundo de tantas conquistas e descobertas sobre nós, seres humanos, seria no mínimo redutor ficar tratando a dança como apenas uma repetição mecânica de passos bem executados. Fazer tais passos, na música, ursos, cavalos e poodles também fazem. Creio que o ser humano pode ir mais longe que isso. Talvez este seja o incômodo proposto por esta tal de dança contemporânea. O de que podemos ser mais e muitos. Airton Tomazzoni.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-4081704884298263682013-03-25T15:00:00.001-07:002013-03-25T15:00:23.758-07:00Além do Ponto. <a href="http://2.bp.blogspot.com/-bVNk8Xu31QE/UVDHlMwOMVI/AAAAAAAAB5w/2wlPb71Zw0k/s1600/PQAAABt4aLuI6onW3fFevocSMEbzpHd1ZDWme08ibvOUEFEp9vk6Hk3zJmNk3prN69_lVER316o0NHMi8a595kZcLigAm1T1UFkws6vcxmWEPBoVj2pjINij2jRo.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-bVNk8Xu31QE/UVDHlMwOMVI/AAAAAAAAB5w/2wlPb71Zw0k/s320/PQAAABt4aLuI6onW3fFevocSMEbzpHd1ZDWme08ibvOUEFEp9vk6Hk3zJmNk3prN69_lVER316o0NHMi8a595kZcLigAm1T1UFkws6vcxmWEPBoVj2pjINij2jRo.jpg" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-z-ugdP6WKnQ/UVDHmL3u-_I/AAAAAAAAB54/RsfEgXMMXlA/s1600/100_2189.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-z-ugdP6WKnQ/UVDHmL3u-_I/AAAAAAAAB54/RsfEgXMMXlA/s320/100_2189.JPG" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-WZ01au-uh4A/UVDHqaMOL6I/AAAAAAAAB6A/q_SJCWtlPRc/s1600/PQAAAEDHaOeqqJO679gIPSNc1VlXc55w9Le311XaMkh_vo0x-2o6eTWbPQkgeA9uPSqq5xQSe9SF24t66UQlmgq2m8QAm1T1UG1Nup1WkdsuOhQsnRS4vY_e4XPD.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-WZ01au-uh4A/UVDHqaMOL6I/AAAAAAAAB6A/q_SJCWtlPRc/s320/PQAAAEDHaOeqqJO679gIPSNc1VlXc55w9Le311XaMkh_vo0x-2o6eTWbPQkgeA9uPSqq5xQSe9SF24t66UQlmgq2m8QAm1T1UG1Nup1WkdsuOhQsnRS4vY_e4XPD.jpg" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-s3VyChC2Kw8/UVDHuMf9HKI/AAAAAAAAB6I/ywSsrIJ3vgc/s1600/PQAAAEcU3LTd-4cEQlStfFETAUPdCr700LsP6vouko791FHFm-6M_YSQ-4jOp3XV4Wa9kUcBBRKN-O7g_hRbGLec6zUAm1T1UEXbJ1z5pnKoTvXfSw0ql8OlFVaB.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-s3VyChC2Kw8/UVDHuMf9HKI/AAAAAAAAB6I/ywSsrIJ3vgc/s320/PQAAAEcU3LTd-4cEQlStfFETAUPdCr700LsP6vouko791FHFm-6M_YSQ-4jOp3XV4Wa9kUcBBRKN-O7g_hRbGLec6zUAm1T1UEXbJ1z5pnKoTvXfSw0ql8OlFVaB.jpg" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-rAZNhJGiXxc/UVDHxUqV7OI/AAAAAAAAB6Q/RFwLdB52unI/s1600/PQAAAGYAgNhF24RO5IOC_0ns4wIZZAYlzEpPRJemMdncr4dEbCvPT-XLa_OceiM70enk2XiyXMDG7r7kvu3aMBGrarwAm1T1UGDcFyb44IB5oF-eaWUoJRk_6ipb.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-rAZNhJGiXxc/UVDHxUqV7OI/AAAAAAAAB6Q/RFwLdB52unI/s320/PQAAAGYAgNhF24RO5IOC_0ns4wIZZAYlzEpPRJemMdncr4dEbCvPT-XLa_OceiM70enk2XiyXMDG7r7kvu3aMBGrarwAm1T1UGDcFyb44IB5oF-eaWUoJRk_6ipb.jpg" /></a>
Maravilhoso texto de Caio Fernando Abreu, do livro Morangos Mofados, uma das primeiras leituras intensas que tive na vida... aos 14 anos de idade!
ALÉM DO PONTO
Chovia, chovia, chovia e eu ia indo por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre perdia todos pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse o táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado da chuva, porque aí beberíamos o conhaque, fazia frio, nem tanto frio, mais umidade entrando pelo pano das roupas, pela sola fina esburacada dos sapatos, e fumaríamos, beberíamos sem medidas, haveria música, sempre aquelas vozes roucas, aquele sax gemido e o olho dele posto em cima de mim, ducha morna distendendo meus músculos. Mas chovia ainda, meus olhos ardiam de frio, o nariz começava a escorrer, eu limpava com as costas das mãos e o líquido do nariz endurecia logo sobre os pêlos, eu enfiava as mãos avermelhadas no fundo dos bolsos e ia indo, eu ia indo e pulando as poças d’água com as pernas geladas. Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar na casa dele meio bêbado, hálito fedendo, não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando a pé naquela chuva toda, e eu andava, estômago dolorido de fome, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava, roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, se sorrisse, e quase certamente sim, quando o encontrasse, para que não visse o dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era. Começou a acontecer uma coisa confusa na minha cabeça, essa história de não querer que ele soubesse que eu era eu, encharcado naquela chuva toda que caía, caía, caía e tive vontade de voltar para algum lugar seco e quente, se houvesse, e não lembrava de nenhum, ou parar para sempre ali mesmo naquela esquina cinzenta que eu tentava atravessar sem conseguir, os carros me jogando água e lama ao passar, mas eu não podia, ou podia mas não devia, ou podia mas não queria ou não sabia mais como se parava ou voltava atrás, eu tinha que continuar indo ao encontro dele, que me abriria a porta, o sax gemido ao fundo e quem sabe uma lareira, pinhões, vinho quente com cravo e canela, essas coisas do inverno, e mais ainda, eu precisava deter a vontade de voltar atrás ou ficar parado, pois tem um ponto, eu descobria, em que você perde o comando das próprias pernas, não é bem assim, descoberta tortuosa que o frio e a chuva não me deixavam mastigar direito, eu apenas começava a saber que tem um ponto, e eu dividido querendo ver o depois do ponto e também aquele agradável dele me esperando quente e pronto. Um carro passou mais perto e me molhou inteiro, sairia um rio das minhas roupas se conseguisse torcê-las, então decidi na minha cabeça que depois de abrir a porta ele diria qualquer coisa tipo mas como você está molhado, sem nenhum espanto, porque ele me esperava, ele me chamava, eu só ia indo porque ele me chamava, eu me atrevia, eu ia além daquele ponto de estar parado, agora pelo caminho de árvores sem folhas e a rua interrompida que eu revia daquele jeito estranho de já ter estado lá sem nunca ter, hesitava mas ia indo, no meio da cidade como um invisível fio saindo da cabeça dele até a minha, quem me via assim molhado não via nosso segredo, via apenas um sujeito molhado sem capa nem guarda-chuva, só uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito. Era a mim que ele chamava, pelo meio da cidade, puxando o fio desde a minha cabeça até a dele, por dentro da chuva, era para mim que ele abriria sua porta, chegando muito perto agora, tão perto que uma quentura me subia para o rosto, como se tivesse bebido o conhaque todo, trocaria minha roupa molhada por outra mais seca e tomaria lentamente minhas mãos entre as suas, acariciando-as devagar para aquecê-las, espantando o roxo da pele fria, começava a escurecer, era cedo ainda, mas ia escurecendo cedo, mais cedo que de costume, e nem era inverno, ele arrumaria uma cama larga com muitos cobertores, e foi então que escorreguei e caí e tudo tão de repente, para proteger a garrafa apertei-a mais contra o peito e ela bateu numa pedra, e além da água da chuva e da lama dos carros a minha roupa agora também estava encharcada de conhaque, como um bêbado, fedendo, não beberíamos então, tentei sorrir, com cuidado, o lábio inferior quase imóvel, escondendo o caco do dente, e pensei na lama que ele limparia terno, porque era a mim que ele chamava, porque era a mim que ele escolhia, porque era para mim e só para mim que ele abriria a sua porta. Chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu, mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora. E bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele o teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque no meu corpo sujo gasto exausto batendo feito louco naquela porta que não abria, era tudo um engano, eu continuava batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo batendo nesta porta que não abre nunca. In Morangos MofadosHeber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-31245676418302804592013-03-25T14:51:00.000-07:002013-03-25T14:51:00.849-07:00Impressões de uma descoberta de corpo e dança.<a href="http://1.bp.blogspot.com/-s1hUq19dW9E/UVDF6MLe_uI/AAAAAAAAB5Q/Tu1iIf9hQME/s1600/IMG_0951.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-s1hUq19dW9E/UVDF6MLe_uI/AAAAAAAAB5Q/Tu1iIf9hQME/s320/IMG_0951.JPG" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-M2ZVmFDQ9yM/UVDF-_rBS6I/AAAAAAAAB5Y/g_Y4Q0z5kJU/s1600/IMG_0992.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-M2ZVmFDQ9yM/UVDF-_rBS6I/AAAAAAAAB5Y/g_Y4Q0z5kJU/s320/IMG_0992.JPG" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-BXGEgMapRUQ/UVDGDWDKOWI/AAAAAAAAB5g/zEswpXFF4Oc/s1600/IMG_0937.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-BXGEgMapRUQ/UVDGDWDKOWI/AAAAAAAAB5g/zEswpXFF4Oc/s320/IMG_0937.JPG" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-S7nrF5JwlVw/UVDGXp4EltI/AAAAAAAAB5o/ZNLmdwwCxpc/s1600/IMG_0943.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-S7nrF5JwlVw/UVDGXp4EltI/AAAAAAAAB5o/ZNLmdwwCxpc/s320/IMG_0943.JPG" /></a>
"alongamento, luta, coreografia, repetição, suor, sorrisos, dança, dança, dança, sapateado, cansaço, pausa, água, água, água, café, correção, conseguir, tentativa, música, reencontro, hoje eu é que digo: QUE DOMINGO LINDO! Rodrigo Silva, sua alegria de estar ali contagia a todos! Como é bom senti-la! Rubéns Lopes, você é essencial, Wallan Abreu, sua empolgação é linda, Dudhu Abreu, adoro sua presença tão nova e já tão marcante entre a gente, Samuel Lopes, a tua observação não é a toa, tenho certeza, Dario Dariurtz, ficou faltando você ali com a gente que sapateia menos hoje rsrsrs, Saymon Morais, seus braços balançaram menos hoje hein rsrsrs Heber Stalin, foi lindo te ver feliz por ver aquele palco cheio de gente nova e antiga, além da energia que te alimenta e você sempre faz questão de dizer! LINDOSSSSSSSSSS!!!! Bom finzinho de domingo a todos!"
Lucas Teófilo
Ator, Bailarino da Cia. dos Pés Grandes.
Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-12791662576685024352013-03-25T14:41:00.002-07:002013-03-25T14:41:52.544-07:00Santo Agostinho me faz dançar!<a href="http://2.bp.blogspot.com/-fIozz4atPcw/UVDEETOdAAI/AAAAAAAAB44/6rxFPps9wpM/s1600/IMG_2667.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-fIozz4atPcw/UVDEETOdAAI/AAAAAAAAB44/6rxFPps9wpM/s320/IMG_2667.JPG" /></a><a href="http://1.bp.blogspot.com/-UgSEhSvtBgM/UVDEFMcmgeI/AAAAAAAAB5A/sO8CVtGqPUM/s1600/IMG_2673.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-UgSEhSvtBgM/UVDEFMcmgeI/AAAAAAAAB5A/sO8CVtGqPUM/s320/IMG_2673.JPG" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-5xdXW0bojK8/UVDEI73HQJI/AAAAAAAAB5I/90u4sO6x7V0/s1600/IMG_2674.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-5xdXW0bojK8/UVDEI73HQJI/AAAAAAAAB5I/90u4sO6x7V0/s320/IMG_2674.JPG" /></a>
"Eu louvo a Dança, pois ela liberta as pessoas das coisas, unindo os dispersos em comunidade. Eu louvo a Dança que requer muito empenho, que fortalece a saúde, o espírito iluminado e transmite uma alma alada. Dança requer o homem libertado, ondulado no equilíbrio das coisas. Por isso eu louvo a Dança. A Dança exige o homem todo ancorado em seu centro para que não se torne, pelos desejos desregrados, possesso de pessoas e coisas, e arranca-o da demonia de viver trancado em si mesmo. Ó homem, aprende a Dançar! Caso contrário, os anjos não saberão o que fazer contigo." Santo Agostinho.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-57903305493966765912013-03-25T14:34:00.001-07:002013-03-25T14:34:34.825-07:00Cidadania? Pura LUTA!<a href="http://4.bp.blogspot.com/-4etwWOJEDRo/UVDBv_K8uJI/AAAAAAAAB4Y/mhy9ee0mTWo/s1600/IMG_2677.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-4etwWOJEDRo/UVDBv_K8uJI/AAAAAAAAB4Y/mhy9ee0mTWo/s320/IMG_2677.JPG" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-Ube_4GJaZ3E/UVDB3jaodyI/AAAAAAAAB4g/weHZK-B1exA/s1600/IMG_2679.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-Ube_4GJaZ3E/UVDB3jaodyI/AAAAAAAAB4g/weHZK-B1exA/s320/IMG_2679.JPG" /></a><a href="http://4.bp.blogspot.com/-1bXdEERigDs/UVDB8Vjr-mI/AAAAAAAAB4o/V4V4URICQGo/s1600/IMG_2680.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-1bXdEERigDs/UVDB8Vjr-mI/AAAAAAAAB4o/V4V4URICQGo/s320/IMG_2680.JPG" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-4P5977u-Ptk/UVDB_D_tAWI/AAAAAAAAB4w/RP7G5QKu-Nk/s1600/IMG_2681.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-4P5977u-Ptk/UVDB_D_tAWI/AAAAAAAAB4w/RP7G5QKu-Nk/s320/IMG_2681.JPG" /></a>
É bastante paralisante o momento que antecede uma escrita sobre cidadania e seguridade social no Brasil, principalmente se levarmos em consideração o caos instaurado pela lógica do capital, a imperatividade do neoliberalismo e a fragilidade do conhecimento do que se é direito ou não por parte dos brasileiros. É importante dizer, que quando se fala sobre “Fragilidade do conhecimento” não é na tentativa de culpabilizar o povo brasileiro, pois é sabido que, essas mesmas fragilidades são inerentes à perversidade do sistema capitalista que retalha as possibilidades do conhecimento garantindo o saber apenas aos que por ele podem pagar, ou seja, à classe burguesa.
Diferente dos modos de operacionalização de seguridade social desenvolvida em países de primeiro mundo como Alemanha e Inglaterra, o Brasil fica à mercê única e exclusivamente da capacidade produtiva do trabalhador como mérito ao seguro. Ou seja, se o trabalhador está servindo ao mercado ele terá sua seguridade, ou parte dela, garantida; quanto aos que não trabalham – porque não conseguem competir no mercado de trabalho, ou porque não conseguiram acessar políticas públicas que lhes garantissem a concorrência a vagas no mercado de trabalho – ficam à mercê de benefícios operacionalizados no âmbito da política de assistência social ou ainda à tutela de programas assistencialistas e de caridade.
Sobre isso, Ivanete Boschetti ressalta que:
“Historicamente, o acesso ao trabalho sempre foi condição para garantir o acesso à seguridade social. Por isso, muitos trabalhadores desempregados não têm acesso a muitos direitos da seguridade social, sobretudo à previdência, visto que essa se move pela lógica do contrato, ou do seguro social. A seguridade social brasileira, instituída com a constituição brasileira de 1988, incorporou princípios desses dois modelos, ao restringir a previdência aos trabalhadores contribuintes, universalizar a saúde e limitar a assistência social a quem dela necessitar.” (BOSCHETTI. 2008)
A autora se refere aos modelos Bismarckiano e Beveridgiano como propulsores de uma lógica de seguridade social. O Primeiro desenvolvido na Alemanha ainda no século XIX tinha caráter privatizador, era garantido ao trabalhador alemão os direitos à seguridade conforme sua capacidade monetária de contribuir. O segundo modelo, desenvolvido na Inglaterra nos idos de 1940, após a segunda guerra mundial, dizia respeito a uma seguridade de caráter universalizante, segundo a autora “os direitos têm caráter universal, destinados a todos os cidadãos incondicionalmente ou submetidos a condições de recursos, mas garantindo mínimos sociais a todos em condições de necessidade” (BOSCHETTI, 2008).
No Brasil, se fizermos uma análise comparativa poderíamos talvez colocar que a seguridade social segue o modelo Bismarckiano com o discurso de um modelo Beveridgiano, posto que a política neoliberal do país nos empurra massivamente o slogan de um “país de todos” baseado talvez, na ideologia do modelo Beveridgiano que objetivava a luta contra a pobreza. Porém, quando se trata de privatização, está se falando também de aumento de pobreza, nessa perspectiva, é impossível se falar em equidade social e cidadania.
É justamente no âmbito da impossibilidade que os conceitos de cidadania e equidade social se misturam no cenário da seguridade social brasileira, ora, se na lógica do capitalismo, sistema desigual, que oprime, aliena e ludibria a classe trabalhadora (cidadãos?) em detrimento de uma exploração cada vez maior e mais assoladora, como falar em seguridade social e lógica social? Como falar em igualdade de direitos de acessos? Uma previdência que se instaura – como de direito – apenas àqueles que por elas podem pagar, pode ser reconhecida como uma política de seguridade social? Qual é a lógica social desse fato? Somente conhecendo por dentro as artimanhas do capitalismo e levando em consideração suas características de apartheid é possível se achar, ainda que revoltosamente, uma lógica.
O que temos que ter em mente é lucidamente o fato de que vivemos regidos por um sistema que se manifesta de forma cruel, não leva em conta os que sofrem com a precarização do trabalho – ou melhor – necessita da precarização do trabalho, pois dessa forma tem cada vez mais a seus pés trabalhadores pedindo para serem explorados, e assim não prega em condições nem mesmo mínimas as diretrizes (se é que estas existem) de cidadania. Em se tratando de Seguridade Social podemos dizer então que o capitalismo não possibilita a todos o acesso ao emprego, que por sua vez o emprego – principalmente os extremamente precarizados – não possibilita o acesso à previdência, e que por ser assim organizada essa estrutura, vai desembocar diretamente na assistência social, que dentro da organização da previdência é oferecida a quem dela necessita.
Dessa forma, o modelo de seguridade social brasileira, para além do que coloca Ivanete Boschetti em seu texto “Seguridade social no Brasil: Conquistas e limites à sua efetivação” está relegada ao assistencialismo e às ações de filantropia desenvolvidas por instituições de caridade, pois é sabido que existem famílias que vivem há mais de dez anos da oferta de cestas básicas de determinadas instituições, assim, o que deveria ser dever do Estado fica a mercê da população, o Estado tem intervenção mínima e o neoliberalismo confortavelmente ganha forças, como um caminho que não tem mais volta.
Um país marcado por ditaduras e coronelismos, que tem uma história de desenvolvimentismo em detrimento de uma história de desenvolvimento e de populismo em detrimento de popular, não poderia de forma rápida e acrítica se chegar a uma lógica de seguridade social que abrangesse a todos. As resoluções para esse problema talvez tenham realmente suas raízes fincadas no passado, no início da organização do país como nação “independente”. Pagamos alta a conta por uma independência que não permite autonomia aos que aqui trabalham e se nos governantes se instaura o peso da dívida externa, que é paga com os descontos dos salários dos trabalhadores, nos trabalhadores se instaura, cordialmente como disse Sérgio Buarque de Holanda, o peso do “muito obrigado” a quem a lhes ofereceu o pão para saciar a fome.
Nessa realidade o país vai se travestindo de emergente, negando os direitos dos trabalhadores e enriquecendo cada vez mais uma pequena parte da população, enquanto isso, o ciclo da pobreza aumenta e com ele uma série de questões que ao senso comum são apenas cotidianidade.
Por fim, a Seguridade no Brasil é frágil, quase inexistente para parte da população e totalmente inexistente para uma grande massa, pensar em cidadania nessa perspectiva é tentar disfarçar o que políticas paliativas tentam esconder por dentro de suas artimanhas de alcance e populismo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSCHETTI, Ivanete – Seguridade social no Brasil: conquistas e limites à sua efetivação. – Direitos Sociais e competência profissional – 2008
HOLANDA, Sérgio Buarque – Raízes do Brasil. 26ª edição. Cia. Das Letras. São Paulo. 1995.
Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-61283561785985786282013-03-25T14:25:00.001-07:002013-03-25T14:25:39.550-07:00Recomeçar... trocar roupas, mudar peles...<a href="http://1.bp.blogspot.com/-tjhKPHJdJQ0/UVDARt2dpJI/AAAAAAAAB4E/W_l750tgfX0/s1600/IMG_2662.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-tjhKPHJdJQ0/UVDARt2dpJI/AAAAAAAAB4E/W_l750tgfX0/s320/IMG_2662.JPG" /></a><a href="http://3.bp.blogspot.com/-_7NdYGsrrHQ/UVDAWtMX68I/AAAAAAAAB4M/MCR9s9II50w/s1600/IMG_2668.JPG" imageanchor="1" ><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-_7NdYGsrrHQ/UVDAWtMX68I/AAAAAAAAB4M/MCR9s9II50w/s320/IMG_2668.JPG" /></a>
O Haver
Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai! eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo que existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e de sua força inútil.
Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa tola capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será e virá a ser
E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante.
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
Na busca desesperada de uma porta quem sabe inexistente
E essa coragem indizível diante do grande medo
E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio
Pelo momento a vir, quando, emocionada
Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada.
Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-65826953335561453672012-06-28T07:24:00.000-07:002012-06-28T07:24:34.629-07:00Vermelho na ALMA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-D7j8csWnNe8/T-xmDj3MRBI/AAAAAAAAB3E/q1V6Cf9SfoM/s1600/DSC00632.JPG" imageanchor="1" style="clear:left; float:left;margin-right:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="240" width="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-D7j8csWnNe8/T-xmDj3MRBI/AAAAAAAAB3E/q1V6Cf9SfoM/s320/DSC00632.JPG" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-W637CfZ0klc/T-xmD1QbtRI/AAAAAAAAB3Q/jh4hIcnhxAU/s1600/DSC00633.JPG" imageanchor="1" style="clear:left; float:left;margin-right:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="240" width="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-W637CfZ0klc/T-xmD1QbtRI/AAAAAAAAB3Q/jh4hIcnhxAU/s320/DSC00633.JPG" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-3MWY3R-KI6k/T-xmEucOmsI/AAAAAAAAB3c/avuwV2keJug/s1600/DSC00572.JPG" imageanchor="1" style="clear:left; float:left;margin-right:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="240" width="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-3MWY3R-KI6k/T-xmEucOmsI/AAAAAAAAB3c/avuwV2keJug/s320/DSC00572.JPG" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-cGWi9e2Rw5Q/T-xmE805gUI/AAAAAAAAB3o/9ywA0gBZhMs/s1600/DSC00770.JPG" imageanchor="1" style="clear:left; float:left;margin-right:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="240" width="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-cGWi9e2Rw5Q/T-xmE805gUI/AAAAAAAAB3o/9ywA0gBZhMs/s320/DSC00770.JPG" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-3T2auhG56pU/T-xmFVtTYEI/AAAAAAAAB30/gCqh39Of2dg/s1600/DSC00705.JPG" imageanchor="1" style="clear:left; float:left;margin-right:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="240" width="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-3T2auhG56pU/T-xmFVtTYEI/AAAAAAAAB30/gCqh39Of2dg/s320/DSC00705.JPG" /></a></div>
De trabalho e de encontro a vida se fortalece e se faz intensa, interessante, alegre, discursiva, polêmica, inbtegrativa, afetiva, estável, leve, pesada... é contraditória. Porém é a Vida!
Dançar onde estiver, com quem estiver, da forma possível de potencializar alegrias, enganar o tédio,ou como disse o poeta transformá-lo em melodia, com os pés, com os braços, com olhares, com assovios, com silêncios.
Eu quero um hoje potente, com alegrias verdadeiras, risos espontâneos e pessoas acreditando cada vez mais em revoluções, sejam elas pequenas, médias ou grandes, mas que existam dentro de nós.
Eu quero uma paixão doce, leve, quase inssustentável de tanta delicadeza e leveza, beijo na boca silenciado, molhadinho, com gostinho de um "novamente".
seria bom investigar mais possíveis, se espalhar feito água corrente nas mãos e pés de minha paixão, eu quero cafuné de dormir junto, acordar de travesseiro no chão, ser lençol, ser travesseiro, ser tapete.
Ahhhhhhhhhhhhh
eu quero mesmo é um samba, uma cerveja, a cia. de meus amigos e a possibilidade do beijo descuidado, o encontro desencontrado.
Vamos trabalhar, tanta coisa pra fazer... mesa na cabeça, cadeiras na callçada, trabalho em militância, vermelho na alma.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6617809645330407969.post-8092894683025722602012-06-28T06:55:00.000-07:002012-06-28T06:55:40.122-07:00Observações de um estudante de Serviço Social<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-hTQs3RtpGxE/T-xevLtTJuI/AAAAAAAAB2c/M2S3qlQGy_0/s1600/pipa%2Bmeire-2.jpg" imageanchor="1" style="clear:left; float:left;margin-right:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="225" width="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-hTQs3RtpGxE/T-xevLtTJuI/AAAAAAAAB2c/M2S3qlQGy_0/s320/pipa%2Bmeire-2.jpg" /></a></div>
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<a href="http://3.bp.blogspot.com/-tTDeyppd9xM/T-xevve27uI/AAAAAAAAB2o/bgDgq-AZboo/s1600/DSC_2659.JPG" imageanchor="1" style="clear:left; float:left;margin-right:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="213" width="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-tTDeyppd9xM/T-xevve27uI/AAAAAAAAB2o/bgDgq-AZboo/s320/DSC_2659.JPG" /></a></div>
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O mundo hoje vive uma crise, crise essa imposta pelo sistema vigente, o capitalismo. Este tem em sua gênese implícito poder de enriquecer cada vez mais quem é rico e empobrecer cada vez mais quem é pobre criando assim, além de uma enorme desigualdade social um enorme poder de pauperizar a classe trabalhadora. Não existe mais nos dias de hoje devido à crise do capitalismo, segurança no que diz respeito ao trabalho, ricos e pobres, ou seja, classe dominante e classe trabalhadora tentam resistir dentro de suas antagonias às limitações e exigências impostas pela ordem do capital.
A situação de desemprego no país é de ordem do sistema capitalista, vivemos em uma sociedade que visa o lucro tendo como base principal a exploração do trabalho do homem pelo próprio homem. São inúmeras as situações vexatórias pelas quais passam o trabalhador brasileiro, principalmente os trabalhadores informais e os que atuam na abrangência dos subempregos.
No meio das mais variadas formas de emprego estão os catadores de recicláveis, segundo o autor Fernando Paz no site http://passapalavra.info/?page_id=39, os catadores se organizam como uma
“complexa relação social de produção, que possibilita a reintrodução dos materiais recolhidos no circuito da economia produtiva, na forma de novas mercadorias. Tendo, de um lado, como objetivo máximo do capital, a lucratividade em todas as fases do processo de reciclagem e, de outro lado, uma imensidão de trabalhadores em busca da sobrevivência”.
Dessa forma os catadores vão criando estratégias de sobrevivência e de lucro tendo como ponto de partida o cerceamento de seus acessos às políticas públicas as quais o direito constitucionalmente os é dado, nesse processo, se colocam em situações de extrema vulnerabilidade social, colocam em risco a sua integridade física e a saúde mental, além de situações de exposição ao câncer de pele e outras doenças. Na maioria das vezes o lucro que esses trabalhadores obtêm é irrisório, o grau de exploração é imenso, aqui, lixo, mercadoria, exploração e corpo são as palavras chaves do excedente e acúmulo de capital de quem opera no âmbito gerencial esses processos.
Segundo Marx:
“antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla o seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços, pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para a sua própria vida. A atuar, por meio desse movimento sobre a natureza externa a ele, e ao modifica-la, ele modifica a sua própria natureza” (p.148).
Acontece que no que diz respeito ao trabalho dos catadores de recicláveis, esse foco muda, o trabalhador aqui não se apropria da matéria na intervenção a fim de transformá-la em benefício próprio, ao contrário, ele interfere no processo apenas como veículo portador da matéria-prima, e só se coloca na condição de veículo se tiver as condições necessárias (o carro), ou seja, os meios de produção. As relações de produção acontecem de formas fragmentadas e frágeis. A natureza aqui, que deveria ser modificada, se perpetua como forma de alienação e cada vez mais agrava a condição de exploração. Essa situação não é muito diferente da dos profissionais liberais, porém as condições estruturais e físicas no ambiente de trabalho são bastante diferentes.
Segundo fontes da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico-PNSB coleta-se no Brasil diariamente 238.864 mil toneladas de resíduos domiciliares, hoje se estima que um em cada 1000 brasileiros seja catador. Eles se dividem em categorias e subcategorias como mostra a tabela abaixo:
CATADORES
DEFINIÇÕES
Trecheiros
Vivem em trechos, entre bairros distantes ou cidades distantes, catam para comprar comida, catar é estratégia de combater a fome.
Catadores de Lixão
Catam diuturnamente, catam há muito tempo, criam seus horários, trabalham como catadores quando estão sem trabalhos de pintores, pedreiros e outros.
Catadores individuais
Catam por si, preferem ser independentes, usam carrinhos emprestados, são emergencialistas.
Catadores organizados
Legalizados ou em fase de legalização, são ligados à ONGs ou OSCIPs.
Dentre os catadores organizados existem:
GRUPOS
FUNCIONAMENTO
Grupos em Organização
Pouca ou nenhuma infraestrutura, porém um enorme desejo de se organizarem e se fortalecerem enquanto organizados.
Catadores organizados autogestionários
Funcionam como cooperativas, decisões são tomadas de forma democrática, não há uma liderança única ou chefe, todos os associados são donos.
Redes de cooperativas autogestionárias
Forma de fortalecer os grupos na busca de quantidade e qualidade, em rede os grupos podem vender por melhores preços por terem juntos maiores quantidades. Podem coletar em rede outros materiais como óleo de cozinha e alimentos.
Coopergatos
Grupos autogestionários que tem um dono que manda e os outros obedecem, funciona como empresa privada, mas os trabalhadores não recebem benefícios sociais.
Cooperativas de sucateiros
Alguns sucateiros que tem relações pra lá de exploratórias com os catadores, se regularizam como cooperativa mas agem como empresa privada, é bastante frequente nos dias de hoje esse tipo de cooperativa.
Cooperativas de apoiadores
Grupo organizado por pessoas que não tem histórico de catação.
Observa-se segundo essas tabelas que existe um movimento ainda caótico na tentativa de organização da classe. O ideal seria não se pensar em fortalecer essa classe de trabalhadores sem antes pensar em estratégias de trabalho que tenham em sua prioridade a dignidade humana, percebe-se na divisão tabelar uma enorme concorrência para quem fica com a maior parte do lixo, porque em uma sociedade de consumo como a que vivemos hoje o lixo é fonte de renda, posto que tudo deixa de ter valor em um espaço de tempo muito pequeno, a enorme quantidade de lixo que produzimos diariamente segundo a PNSB, é a fonte de dinheiro e riqueza para uma pequena parte da população.
O fato é que os trabalhadores envolvidos nesse processo são expostos a vários riscos, para além do risco físico (peso excessivo, quebra de carros sobre os corpos, cortes e fraturas entre outros) e das condições climáticas (sol, chuva, frio, calor), existem as que dizem respeito diretamente às relações sociais, como atos de opróbio, situações vexatórias, assaltos, preconceitos e exploração. Como pensar então em estratégias de combate à exploração física desses trabalhadores? Como pensar em estratégias que articulem na mente desse trabalhador intenções de cuidados? É possível pensar em estratégias que fomentem no âmbito desse trabalho processos educativos e informativos sobre a situação na qual eles estão inseridos?
Seria inocente e ingênuo pensar que em uma sociedade capitalista como a nossa esse tipo de trabalho seja banido, o capitalismo coloca o trabalhador em uma luta incessante pela sobrevivência, esse trabalhador não mede esforços para conseguir o mínimo de dignidade, leia-se dignidade um prato de comida por dia, (muitas vezes é essa a realidade dos catadores de nossa cidade). O que se pode se fazer é ficar atento e entender que para esse público foi esse trabalho que restou como opção.
Precisa-se entender que estamos falando – por mais assustador que seja – de trabalho e que é preciso ressaltar que esses trabalhadores estão desenvolvendo um trabalho que deveria ser feito pelo Estado, eles cobrem, portanto uma lacuna da falta de ação planejada dos planos de governo dos estados e municípios.
Não existem muitas ações que cuidem desses trabalhadores, se existem não são pensadas no âmbito dos governos, é preciso urgentemente investir em educação de qualidade, saneamento básico, política de habitação e assistência social, para que os trabalhadores futuros possam ter direito a trabalhos com mais dignidade e direitos assegurados.
Não podemos fechar os olhos para a gravidade da situação do trabalhador da reciclagem, são muitas exposições nas quais ele se coloca em busca de um mínimo de sobrevivência. Enquanto isso os governantes vão fazendo de conta que não enxergam tal problemática ou adiam a solução de um problema que segundo vimos nas tabelas só cresce e agrava, corre o risco de virar moda ou exemplo de pai para filho. E evitemos olhar às pessoas e confundi-las com o lixo, temamos que um dia essas duas se misturem de forma intrínseca a ponto de não conseguirmos identifica-las em suas especificidades.Heber Stalinhttp://www.blogger.com/profile/07901263860055063352noreply@blogger.com0