terça-feira, 31 de outubro de 2017

sendo confuso...


Congregar: Ficar junto, juntar-se, reunir-se, unir-se, juntar-se, ligar-se, misturar-se.
Tenho pensado de forma muito cuidadosa que, uma opção de vida que se realiza no exercício de construção de um “estar junto” diz muito de mundo, de qual mundo se escolheu cultivar, de qual mundo se optou viver. Minto, refaço: diz muito do que tenta-se realizar enquanto vida, tentativa de exercício de liberdades e verdades que se confundem com exotismo, beira, margem, ilusão de ótica que tenta sintonizar, de maneira confusa e violenta, poiesis múltiplas. Para alguns olhares isso é pura loucura, inexistências.
Não. Uma vida não é só aquilo que entendemos como realidade, a vida também é utopia, poesia, ilusão… alegria(?), dor(?). Em um coletivo esse exercer a vida é um turbilhão, confusão de imagens e sons que rimam com desespero e solidão. Porque para ser muitos, suspeito que seja extremamente necessário ser um pouco sozinho.
Importa dizer: querer junto é também querer sozinho. Querer pelo outro gera dor, andar junto consiste também em exercer um pouco de solidão e estranheza, se jogar ao desconhecido segurando a mão do conhecido, se sujar de carvão e pó para fazer uso de sabão e água, suco de limão com doce de leite… o que vaza disso é justamente a capacidade de suportar o peso do outro… algo como resistir junto. Resistir talvez tenha a ver com seralegresozinhodevezemquando. Disso é preciso lembrar. Isso é urgente exercitar.
Tenho medo de relações tempestuosas e demasiadamente intensas… aquelas que o beijo na boca mais parece um pedido de casamento, juras, tesão e gozo em excesso (sem tirar o mérito e a delícia do prazer do gozo), é preciso atenção. Gosto da expectativa, de todas elas… da dúvida de qual roupa usar para um encontro, do anseio pelo toque, do coração acelerado, da música cantada alta de olhos fechados ao pensar em quem tem te tirado o sono mas te aquietado o coração.
Me toma uma impressão de que, relações esvaziadas são relações que não produzem junções. Fico me perguntando o que nos leva a trilhar caminhos e fazer opções por relações que se realizam de maneira aligeirada, imprecisa, sexuada em demasia e extremamente rasas de sentidos. Porta rolante de entradas de bancos. Corrimão de escada… um para todos.
Gozar perdeu o sentido… relações parecem dizer muito de si e de seu tempo pela contagem de gozos, de curtidas em redes sociais, aplicativos de encontros. O mais estranho é: Nos acostumamos a isso, nos sujeitamos… parece-me que uma reflexão mais aprofundada sobre isso nos torna caretas, atrasados… velhos.
Em relações de longa duração… até mesmo nestas, a vida e a permanência parecem se adensar e se ritmar ao passo da indiferença, da apatia, da invisibilidade do outro. O que estamos a fazer quando olhamos para isso e não conseguimos movimento? nos rendendo a contemplação do que está estabelecido como único possível? Não consigo responder! Mas suspeito que é necessário mexer, cutucar, puxar, empurrar, chamar, propor.
Há momentos, e estes são muitos, em que tudo o que é desejo é também desespero e inabilidade de lidar com o que se apresenta como real. Isso causa dor se você se importa, se você olha de perto. Caso contrário a vida segue o rumo manco e mudo em direção a um nada. O esvaziamento de vida, talvez tenha a ver, em algumas situações, com o uso excessivo e a vivência esvaziada de situações que nos sugam, degradam e desumanizam. Sobre isso, urge também, estar atento.
Não se agrega através de descartáveis, agrega-se através de partilhas, construídas cotidianamente, em cantinhos descuidados ou/e em espaços de legitimação do exercício de liberdades. Faz-se necessário olhar para isso, e perceber até onde conseguimos e queremos a partilha, o agregar, o estar junto e tudo o que significa o verbo. Parece bem bobo, mas aviso de forma repetida e plagiada: “As aparências enganam”.
Existe um misto de inquietação e incertezas aqui, lago de águas paradas que juntam paragem e não propõem movimento. Sobre isso e apesar disso é necessário se manter firme, rindo quando possível, chorando quando necessário e produzindo alegrias quando o peito e a boca pedem. Existe também confusão, indecisão, disritmia, caos… imagino o caos como movimentos exagerados e inaudíveis, essa imagem me angustia e me emite tensão.
Não… não estou louco, eu até acredito que esteja bastante lúcido, pois tenho olhado para isso como um garoto que senta abraçando as pernas de frente para o mar e o observa… diferente do lago de águas paradas, o mar é movimento e incita seguir. É disso que se trata, é disso que se vive quando o peito aperta, a mão treme e a sensação de queimação por dentro surge de forma paralisante.
Quebrar as correntes e correr… peito e cara ao vento, pés descalços… talvez assim a voz se movimente aqui dentro e “ais” sejam emitidos… os “ais” são importantes… são palavras mudas que dizem da gente, do nosso lugar, do nosso tamanho, do nosso momento. É importante gritar “ais”. Um “ai” é um testemunho de que dentro da gente ainda existe força, para resistir, para resistir, para resistir. E não esqueçamos, sigamos: sendoalegressozinhosdevezemquando… mesmo que por uns tempos apenas “de vez em quando”.


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