segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Na luta!







Lutar para existir de forma digna, alimentar desejos, abrir desejos, com um facão em punho na noite escura e deserta, abrindo caminhos e fortalecendo a estrada já existente.
Meus olhos saltam ao novo e meu corpo enfrenta a dificuldade com tesão e êxtase.
Estradas longas se cruzam e entrecuzam não para encurtar caminhos, mas para descobrir atalhos que acionam potências.

Meu pé é barulhento, minha mão está sangrenta, meu corpo não desiste, resiste, sendo feliz.

na boca seca uma vontade de dizer "vem".

cantando..."só uma palavra me devora, aquela que meu coracão não diz..."

Dados do livro resenhado:
Título da obra: Corpo e alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe
Nome do autor: Loic J. D. WACQUANT
Editora :Relume Dumará
Número de páginas: 293


Publicado na íntegra 12 anos depois de uma primeira aterrissagem no terreno do boxe, Corpo e Alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe, de Löic Wacquant é um livro instigante. Instigante pelo modo como o autor nos conduz a uma viagem pelo mundo do boxe e pelas sensações corporais produzidas pela sua prática.

Neste livro, Wacquant se vale de vários aportes originais. Em primeiro lugar, adota como ponto de partida nessa pesquisa sobre os lutadores de boxe o “aprendizado pelo corpo” da ordem social. O trabalho também conduz o leitor por um intrincado labirinto de reflexões sobre a construção social da masculinidade e da virilidade entre os boxeadores, e de seus pressupostos teóricos e práticos. Discípulo de Pierre Bourdieu, ele há muito vem lançando seu olhar sobre os homens que entram nessa sangrenta mas gloriosa profissão, desvelando algumas das particularidades do habitus pugilista (Wacquant,1998)[1].

Conhecido por seus trabalhos pioneiros sobre a juventude pobre em vários países, o autor atualmente é professor de sociologia da Universidade da Califórnia, Berkeley e pesquisador do Centre de Sociologie Européenne du College de France. Seus principais temas de trabalho incluem: Marginalidade Urbana, Relações Raciais, Violência e Estudos sobre Instituições Penitenciárias. Possui trabalhos publicados no Brasil como Prisões da Miséria [Jorge Zahar, 2001], Punir os Pobres [Freitas Bastos,2001], Os condenados da Cidade [Revan, 2001]. Integra ainda coletânea A miséria do Mundo [Vozes, 1997], sob a direção de Pierre Bourdieu, com o artigo “A Zona”.

O presente trabalho apresenta análise sociológica e relato, conceito e descrição do cotidiano do boxeador. Um dos méritos do livro é a riqueza do material coletado: duas mil e trezentas páginas de notas sobre o mundo do boxe. E por isso essa obra é uma referência para quem se dedica ao campo tradicionalmente denominado da etnografia urbana.

Os principais pontos teóricos e metodológicos estão detalhados nos três textos que formam o livro 1- A Rua e o Ringue; 2- Uma Noitada no Studio 104; 3) “Busy Louie” nas Golden Gloves, e que passam por três eixos centrais a) os impasses da conversão moral e sensual ao cosmos pugilístico; b) a compreensão do ofício de boxeador; c) os questionamentos impostos pela sua inserção num clube de boxe do gueto negro de Chicago.

Quanto à sua entrada no campo, Wacquant começa afirmando que sua “aventura” de fato começou em 1988, quando procurava um ponto de observação mais acurado que permitisse tocar de perto a realidade cotidiana do gueto, uma investigação que desenvolvia na Universidade de Chicago em colaboração com William Julius Wilson[2], pesquisador negro de origem norte-americana, que se dedicou a estudar, no final dos anos 80, o agravamento das condições sociais do subproletariado negro residente nas áreas pobres da cidade. A colaboração com Wilson abrangia justamente o exame das estratégias sociais utilizadas pelos jovens negros do gueto, objeto original da pesquisa. Talvez por causa disso, Wacquant descreva de modo contundente o “acaso” de sua chegada na academia de boxe situada no bairro de Woodlawn, “um lugar precário e degradado”, levado por um amigo francês e judoca da Universidade.

Dessa “janela”, porém, o autor enxerga a oportunidade de questionar o que chama de visão do gueto como um universo “desorganizado”, e nos lembra que o falso conceito underclass, é analiticamente insuficiente para a compreensão da realidade do gueto. Insuficiente porque sob essa marca degradante estariam circunscritas, de modo indistinto, pessoas em situações muito diferentes, como beneficiários da assistência social, desempregados de longo termo, mães solteiras, famílias monoparentais, criminosos, membros das gangues, drogados e sem-teto.

O desafio de aprender um esporte, dentre todos, considerado o mais exigente, e ao mesmo tempo ser capaz de retraduzir essa compreensão dos sentidos em linguagem sociológica, sem com isso minimizar suas particularidades mais distintivas, foram alguns dos percalços também anotados pelo autor, sublinhando a maneira decisiva como influenciaram no desenvolvimento desta experiência etnográfica. No entanto, são também o que constitui a possibilidade de realização de uma sociologia do boxe. Como observa, mais adiante na página 22, “tudo deve ser feito para escapar ao objeto pré-construído, ao exotismo pré-fabricado da profissão, seus mitos de heroísmo e ascensão social, tão presentes na mitologia sobre as lutas, que trazem a ameaça de excesso de sociologia espontânea”. Por isso, o objetivo de Wacquant neste trabalho foi apreender a lógica social e sensual que informa o boxe, pelo seu lado menos conhecido e espetacular, percorrendo os ritos ínfimos e íntimos da vida do gym, atividade levada a cabo pelo pesquisador inserindo-se na realidade nativa com a qual se confrontou. Durante três anos, Loic Wacquant integrou uma equipe na academia, iniciando-se nos rudimentos do ofício de boxeador e onde cultivou relações de amizade com treinadores e boxeadores do lugar, observando in vivo a gênese social e o desenvolvimento das carreiras pugilísticas.

Para compreender o ofício do boxeador, o desafio e a proposta que Wacquant se coloca é em primeiro lugar tematizar o corpo, não apenas de uma posição distanciada, mas partindo do próprio corpo como instrumento de investigação e vetor de conhecimento. Neste empreendimento, o autor lança mão da noção operativa de habitus, um dos conceitos centrais que preside a obra de Marcel Mauss (1974), desenvolvido anos mais tarde por Pierre Bourdieu, autor que irá ressaltar mais a questão do habitus [ou hexis] como uma forma pré-reflexiva do corpo introjetar as experiências do mundo, transmutando-se em uma “política incorporada”. Desse modo, Wacquant situa o boxe tanto como uma técnica corporal, resultado das montagens biopsicossociais dos atos mais ou menos habituais na vida do indivíduo e na história da sociedade, quanto como uma “disposição incorporada"[3]. Para Wacquant, pôr fisicamente em jogo o corpo nesta investigação consistiu em uma dimensão tanto mais enriquecedora quanto permitiu novas possibilidades interpretativas.

Em A Rua e o Ringue, o texto mais denso do livro, o autor articula três níveis de discussão, bastante imbricados, para demonstrar a aquisição da aprendizagem do esporte: 1) as representações sobre o mundo do boxe, suas “leis” e suas “promessas” 2) a regulação da violência, a cultura da rua e a masculinidade 3) A “gestão” do corpo do boxeador, enquanto uma pedagogia visual e mimética.

Para descrever como se dá o trabalho de conversão ginástica, perceptiva, emocional e mental do boxeador na sociedade norte-americana contemporânea, o autor retoma Émile Durkheim para abordar o boxe como uma escola de moralidade, isto é, como “uma máquina de fabricar o espírito de disciplina, indispensável à eclosão da vocação pugilística" (:32). Assim, desde logo, afirma ser o habitus pugilístico, uma empresa que se funda sobre uma dupla antinomia: uma atividade que parece estar situada na fronteira entre natureza e cultura, mas que exige uma gestão quase racional do corpo e do tempo de modo muito complexo. Uma outra contradição diz respeito ao boxe apresentar-se como um esporte extremamente individual, mas que não põe só em causa o indivíduo, sendo obra da razão prática coletiva e individual. Parafraseando seu mestre Bourdieu, nos lembra da importância do esporte como uma prática corporal que encerra um conjunto de questões teóricas de primeira importância, pois “o esporte é junto com a dança, um dos terrenos em que se coloca com acuidade máxima o problema das relações entre a teoria e a prática, e também entre a linguagem e o corpo” (: 34).

Uma contribuição importante desse estudo é mostrar como é necessária alguma integração sócio-econômica para levar a cabo o regime e a moral do treinamento exigidos para obter este aprendizado. O autor assegura como fundamental uma boa dose de ascetismo físico e mental para enfrentar os desafios do esporte, pendor que os jovens saídos das famílias mais despossuídas têm de desenvolver para ganhar competência esportiva, sob a pena de serem sumariamente eliminados pelos treinadores, os verdadeiros senhores dos templos pugilísticos. Paradoxalmente, as “leis” da disciplina espartana do boxe penitenciam severamente os mais excluídos. Em suma, contrariando a mitologia coletiva sobre os lutadores como seres situados nas escalas mais baixas da hierarquia social, a análise de Wacquant mostrou que o perfil socioeconômico dos pugilistas profissionais é mais elevado que o do segmento mais empobrecido da população masculina do gueto.

Não é fácil escrever sobre os boxeadores sem esbarrar em estereótipos sobre sua “natureza selvagem”, e esse é um dos pontos altos do livro: a forma como Wacquant vai montando episódios que trazem depoimentos desses homens que sacrificam seus corpos, nos oferecem as categorias de julgamento que ordenam o mundo dos afetos e dos desejos dos lutadores entrelaçados à possibilidade de ascensão social - da exclusão e da pobreza ao estrelato, freqüentemente efêmero, mas que ainda assim os instiga a uma vida diferente. A partir de dados etnográficos detalhados, Wacquant descreve, em terceiro plano, a apropriação, por impregnação progressiva, de um conjunto de mecanismos corporais e de esquemas mentais que informa o boxe como ofício do corpo, para além de sua descrição como esporte puramente bárbaro. Diante das questões que dão ao capítulo sua unidade, a gestão do corpo é o tema em que o autor mais se detém. Como afirma na página 78, “as regras da arte pugilística remetem a movimentos do corpo que só podem ser apreendidos completamente em ato”. Somente através disso, pode-se entender um pouco da pedagogia peculiar do boxe, que se faz pela repetição e imitação e, paulatinamente redefine um a um todos os parâmetros da existência do lutador. Disso resulta um saber prático, composto de esquemas corporais, emocionais, visuais e mentais, relacionado essencialmente a um processo rigoroso de educação do corpo, constantemente remodelado segundo exigências próprias ao campo. Não é à toa que o autor assinala como indispensável ao conhecimento adequado do objeto, a apreensão indígena da embriaguez sensorial do boxe, domínio no qual a teoria tem pouca utilidade, uma vez que a compreensão pelo corpo ultrapassa e precede a compreensão visual e mental (: 89). Sua posição no campo tem como base o “abandono”, colocando em xeque antigos pressupostos que tentam focalizar racionalmente uma distinção entre o corporal e o mental, modos típicos de consciência que, segundo Wacquant, estão fora de propósito no universo do boxe, onde não há uma “razão raciocinante”. Por isso, ele qualifica a aprendizagem bem sucedida do boxe, como um processo que se inculca de modo lento, uma sensibilidade pugilística incorporada feita da combinação de disposições quase antinômicas: pulsões e impulsos inscritos no mais profundo do indivíduo biológico no limite do cultural e do selvagem, modificada a cada instante pelo seu agente, embora não inacessível ao cálculo explícito da consciência individual (:119).

No segundo texto, Uma Noitada no Studio 104, o autor nos fala mais detidamente de dois anos de submersão intensa, descrevendo desde uma jornada, reuniões de boxe e festividades em bares do bairro até o comparecimento às etapas dos torneios, lutas e comemorações sociais. Sua contribuição neste capítulo é nos conduzir aos meandros da realidade nua e crua dos pugilistas, seus treinos prolongados, as penúrias enfrentadas como moradores do gueto negro, as privações familiares, sexuais e alimentares vividas por estes seres, suas alegrias e êxtases nas conquistas diárias, enfim a uma descrição densa da história da vida privada do lutador, vivenciando batizados, casamentos e funerais. Aqui ele assinala mais uma vez que realmente estava lá. A riqueza deste capítulo repousa nas inúmeras transcrições de trechos de seu diário de campo. Surpreende o modo como pôde captar o panorama, os antecedentes e o contexto de onde emergem os pontos de vistas desses homens e os conhecimentos práticos acerca desse ofício. Trata-se do testemunho de um pesquisador que participou do cotidiano da Rua 63, a ponto de lançar dúvidas sobre sua verdadeira missão ali como sociólogo. É o que demonstra o comentário de seu companheiro de treino duro (sparring) Curtis, que se espanta ao ver o pesquisador agindo como tal, tomando notas em seu diário e usando o gravador: “um dia, você vai se suicidar Louie, porque você escreve demais”. Na noitada do bar Studio 104. Wacquant pôde também compartilhar de um contexto cultural específico da sociabilidade da classe popular afro-americana, com direito a conversas furtivas sobre mulheres, brigas, boxe, prisão, futebol americano e rap music. Isso ocorreu graças aos longos anos em campo que forneceram os fios com os quais teceu a camaradagem com os companheiros deste circuito.

O terceiro texto Busy Louie, descreve passo a passo sua preparação e a apresentação na temporada de 1990, em um campeonato importante, o Chicago Golden Gloves. Para este evento nosso sociólogo boxeador condicionou, ao longo de sete semanas, suas costelas e sua mente para agüentar os treinos duros, deixando que seus parceiros o golpeassem centenas de vezes. Segundo Wacquant, só um raro estado de corpo e mente permite a um ser humano empreender tal atividade. Não se consegue isto por um simples estado de vontade. Só isso o fez compreender o que realmente significa preparar-se para um combate: dia após dia, submetendo-se aos rigores intratáveis e incontornáveis do treinamento. E este pode ser comparado a um verdadeiro ritual de mortificação, ao modo de uma religião em que o sacrifício é a palavra de ordem (:272). O resultado desta luta de muitos meses, não significa propriamente o final, segue sendo um desafio à imaginação, à originalidade da pesquisa, e serve como modelo de prática etnográfica.


Dividindo um pouco do meu lugar nesse momento! se naum vale pelo lugar em si pode valer pela leitura e pelas conexões sugeridas.

saudade boa.

Me deu uma saudade disso,

me emocionei revendo... deu vontade de repetir.

http://www.youtube.com/watch?v=Ynt78soWM20

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Do que me passa ( camisetas rasgadas, pés cansados)


teria muito o que escrever, em dias de olhares focados em mim mesmo de mim mesmo por eu mesmo, percepcao em zoom. Sensacão de estada mais do que de ida, sensacao boa, desestabilizante.
Olhar para o lugar do desconforto e me transportar para o tal, parece que o mundo me chama, um convite eu escuto, um convite eu canto.
o lugar do medo é o lugar de onde se olha para o umbigo, tentativa de descobrir uma outra forma de falar do que doeria, do que machucaria, do que faria chorar.
E Rimos, sorrisos largos de meninos, agressões, formas de dizer e fazer parte. Comunhão pederastia, pornografia.
Projeto em comunhão, cartas, falas, musicas, tenis, boxe, luta, Santos, Imagens, risos, cansacos, olhares, testas, barrigas, pesos... amor. corpogaydade.

prometo voltar logo.

Pra reforcar:

"existir é como respirar, só que mais silencioso"

"Cada ser humano tem uma história de vida inacreditável"

"O amor e uma grande coincidência"