quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Foi não, É! Obrigado Valéria Pinheiro!






Vinha da aula, dirigindo, ouvindo uma música que sugere uma rítmica e passei súbito a lembrar e rememorar os meus primeiros momentos de encontro com a técnica do sapateado. Preciso contextualizar um pouco.
Vim de Crateús para Fortaleza com o intuito de estudar para passar no vestibular, chegando à cidade bela me inquietei bastante com o movimento das esquinas do meu cursinho, eram cervejas, pessoas, comidas, muitas novidades para um garoto, que embora desde cedo cosmopolita, estava residindo, habitando outra instância de cidade (Grande?).
No meio de tantas novidades deparei-me com um teste para compor o quadro de alunos do extinto CAD (Curso de Arte Dramática da UFC), um curso preparatório para pessoas aspirantes à atuação teatral. Informei-me dos testes, me inscrevi e com a ajuda de dois amigos (que me instruíram nos ensaios para o teste) eu consegui uma vaga na tão sonhada turma. Achava eu que meu sonho seria esse, que meu encantamento com o campo das artes havia se realizado, que seria a atuação de ator que me manteria enquanto artista. Já que eu era também acadêmico do curso de Administração de Empresas da mesma instituição.
Em um encontro casual com uma pessoa de teatro, que outrora havia encontrado em Crateús, ouvi o seguinte: “Você precisa conhecer a Valéria Pinheiro” (ele comentou isso porque sempre manifestei um desejo absurdo por sapatear e já havia ensaiado por conta própria alguns passos), rebati de pronto: “preciso mesmo”...
Fui então ao encontro da Mulher do sapateado, entrei no teatro José de Alencar, casa cheia, procurei um local bem perto do palco, queria a qualquer preço conhecer de perto. A luz depois de um tempo acendeu e o espetáculo começou..................
Até hoje não consigo adjetivar a sensação daquele encontro, não sabia exatamente o que era aquilo, de onde vinha ou o que me dizia aquela simbologia toda, eu não sabia como, mas naquele momento descobri que era aquilo que eu queria fazer pra sempre, não sei onde está o meu sempre, mas até o momento de agora eu mantenho o desejo por aquilo, por aquela mulher, por aquele par de sapatos, por aquela música que minha legibilidade não decifrava, mas que minha alma entendia.
Voltei para casa, calado, não tinha muitos amigos, não tinha dinheiro nenhum pra tomar uma cerveja, na verdade, uma dose de cachaça, o dinheiro naquela época não dava pra tomar cerveja. Silenciei, e no meu silêncio descobri que era barulho o que eu queria fazer.
Aquela imagem ficou grudada em mim, como tatuagem, se paro para pensar quase que posso vê-la tatuada no meu corpo, como uma aliança, como uma relação que até ali naquele momento seria unilateral, eu o amante descarado, eu o vilipendiador, eu o que observa e deseja, eu em uma relação de perversão com aquela mulher que me conquistou quase que pisando em mim.
Cumprindo o papel de enamorado segui buscando mais sobre aquilo tudo, internet, livros, fotos em sites, conheci outros sapateadores com habilidades e competências similares, mas nenhum me deixou ereto, excitado (pau duro), não existe nessa escrita teor classificatório ou comparativo, mas a poesia e autoridade que me romperam naquele encontro, aquela sensação, eu nunca mais a vivi, nunca mais a possuí, como se nunca mais eu houvesse topado com uma “pedra no meio do caminho”, foi de desestabilidade que aquele encontro e o que reverberou dele me compôs, tal estado me acompanha até hoje.
Eu tenho muito, a vida me deu muito, eu corri muito atrás de tudo, hoje, o que sou mais grato à vida está escrito na relação que constituiu e que se constitui a cada dia mais potente com aquela mulher. Os encontros transformam o mundo... a poesia faz a vida suportável, a filosofia me dá esperanças, mas tem um lado do inalcançável que me angustia, isso consiste em minha impotência de se fazer entender o meu agradecimento, a minha gratidão, minha devoção e o meu amor por aquela mulher.
Foram 08-09 anos de trabalho ao lado dela, dancei ao lado dela em várias situações, me envergonhei, temi, idolatrei, odiei também em alguns momentos (amor e ódio não estão muito distantes) e sobrevivemos juntos. Estivemos juntos em outros países, em tantas cidades grandes, em tantas cidades pequenas, no meio do mato, trepados em árvores, mergulhados em lamas... segurou minha mão, me beijou, nos beijamos, me confortou, me encorajou, chorou comigo, me amou. Sapatos rasgaram, cadarços quebraram, chapas afrouxaram.
Ah! Dormimos juntos, dividimos quartos em hotéis, dormimos na mesma rede, usamos as mesmas camisetas, fumamos muitos cigarros juntos, aprendi, vivi, é de vida e coragem que ela pulsa.
Aquela mulher mudou o sapateado, o entendimento do sapateado dentro do Brasil e levou para o mundo, agradeço como sapateador; Ela me mostrou e mostra a quem está ao lado dela que o sapateado está além da técnica e do sapato, agradeço como bailarino; Ela identificou na minha fraqueza a minha fortaleza, agradeço como pessoa; Ela me mostrou que a fome, o frio, a dor existem, agradeço como irmão; Ela me mostrou o conforto de uma família e a dividiu comigo, como irmão novamente eu agradeço; Ela me ensinou a reconhecer um mestre a partir do que ela tinha dentro de casa, me fez perceber que eu também tinha um mestre em casa, como filho, eu agradeço, e extendo os agradecimentos ao seu Dorgival e ao meu vovô Apolinário; Ela me fez olhar a vida com os olhos de criança, me prometeu uma, como marido, companheiro, eu agradeço; Ela me fez entender que eu também sou importante, como gente eu agradeço; e o mais importante de todos os ensinamentos: Ela me ensinou a tratar todos como iguais, disso eu nunca esqueço. Ela foi o som, o silêncio, o suor, a sede, a dor, a alegria, a potência, a maturidade repleta de juventude, a coragem, o ritmo, a métrica, a batida, a batida, abatida, a batida, a batida, a batida... tum tictaquitacatá tum tictaquitacatá... tumtictaquitacatátictaquitacatátictaquitacatá tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum e haja samba, e viva o samba dela!
Ela é infinita em minha vida
Meu amor e gratidão eternos.

PS: todas as cervejas do meu universo desconhecido das esquinas do cursinho... as redescobri também no encontro com ela.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Revendo







|Estados de^inquietude. existe uma coisa borbulhante em mim que se diz inteira, quente... me uso de panela em fogo aquecido, não me existo na paragem, eu me existo para além da inércia porque o que me move é voluntário, não é empurrado, não é lançado feito topada de pedra no meio do caminho.
As minhas noites insones surgem de lugares que passeio cansado, querendo, ainda borbulhando, uma referência outra de sentir. Eu sinto que quando existe a excessiva complacência eu deixo de sentir. As coisas mudam o tempo inteiro e realmente " O ser se diz de várias maneiras", ouvir os dizeres têm preço alto, às vezes impagável.
arua me move, as pessoas me movem, a vida me suporta, sempre tenho a sensação que sou maior e mais forte que a vida porque a vida apenas me suporta enquanto eu a questiono.
Entender o doce deslizar na calçada molhada da ilusão. a ilusão é uma coisinha delicada, molhada, escorregadia, faz até cócegas, brinca com o meu olhar, me convida hipoteticamente, me acaricia e eu digo sim para ela porque ela me faz entender a fragilidade de todas as coisas... as minhas também.
Ando sozinho para estar acompanhado, dirijo calmo porque sou excessivamente acelerado, eu sou uma coisa muito esquisita, não sei me digo de várias maneiras ou se as várias maneiras é que falam de mim. eu vou por aí, eu quero, eu desejo, eu o incerto, eu o que procura. Aqui dentro tijolos caem, paredes são levantadas ainda que com ausencia de tijolos, mas elas crescem. eu me derreto alguns dias, eu me visto de ferradura em outros. eu quero. eu vou. eu estou aqui.