domingo, 27 de março de 2011

Reclamação







Eu não vou reclamar a ausência de teus pés,
Eu agradeço
Estão comigo algumas meias sujas
Algumas meias ainda ensacadas com o preço borrado nos lacres de lojas baratas

Os parafusos de Recife
As borrachas de Floripa
Os cadarços de Ipanema
As músicas (100)melodias

Eu reclamo a tua existência, rezo, amo suspirado.
As cervejas, os sapatos mofados em meio a roupas suadas
dentro das mochilas entupidas de maquiagem e papéis
derramados nas calçadas de postos de gasolina

Sim reclamo
O amor reclama
O toque reclama
O olhar reclama
A mão reclama
O Pé reclama

E meu sapato no canto me olha
Me inquerindo vc
Boca esfolada
laterais murchas
Cadarço que não aperta.

Cafezinho com muito açucar.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Do Carnaval silenciado!








Definitivamente o carnaval é a festa que mais me emociona. É a festa do encontro, da magia, da alegria na medida certa, das construções de energias e possíveis que transformam o ser e o mundo. Na minha vida de bailarino fui ao Rio de Janeiro algumas vezes, dançar, pesquisar, estudar, ensinar... e o Rio sempre me parece uma cidade misteriosa, com segredos bons que se potencializam na tentativa do descobrir, do buscar, do vasculhar, o Rio portanto é uma cidade que em mim provoca sedução, desejo e tesão, no corpo, olhos e alma, o Rio é um Mar.
Um encanto chegar ao Rio de Janeiro e ser levado para casa de carona em um fusca 70. Devagarinho, por entre os carros grandes e os monumentos naturais rumo ao morro de Santa Tereza, passando pelos arcos da Lapa, rindo ao motivo de qualquer bobagem que fosse, olhando absurdamente tonto à beleza da cidade maravilhosa, paquerando com o tempo, o ar, a estrada... A bolsa gigante em minhas pernas nem pareciam pesar tanto.
“dois aventureiros rumo ao Rio de Janeiro...” fragmento de um real que por não ser real se faz possível na época dos confetes e serpentinas, dos beijos, encontros e desencontros, ladeira a baixo e ladeira a cima, cada um em busca da sua própria aventura, como se fosse a última, prudência se perde no caldeirão do encontro e Fortaleza, Rio, Minas, São Paulo parecem ser todos vizinhos de porta, a queda de um confete se faz ouvir retumbante, grande, barulhento e convidativo na sala do outro, uma orgia de pernas, braços erguidos, penas, fantasias, álcool e cigarros, uma imoralidade que de tão permitida não chega a ser nem um pouquinho permissiva.
“dizem que quando pessoas conseguem ficar por muito tempo em silêncio é porque elas estão conseguindo construir intimidade” ouvi isso de um amigo e fiquei perplexo, é verdade, a intimidade talvez não necessite de barulhos, excessos... O que ascende em mim no momento do encontro e do reencontro nada mais é do que puro silêncio, pura calmaria. Embora durante o carnaval aparentemente tudo seja too much é no momento da embriaguez em desordem e do último cigarro que mais me percebo íntimo, calmo, olhando para dentro, como se nada mais importasse do que a minha capacidade de ser íntimo de mim mesmo.
Os encontros realmente modificam o mundo, e modificam também o carnaval, me perdi em encontros, me perdi em vozes esquisitas, homens diferentes, bocas pequenas, descobertas de novos, reafirmação de já existentes, eram tantos possíveis que me foi impossível não permanecer feliz 24h por dia. E no meio da folia, dos risos, confetes e serpentinas Já não sabia se era Povo ou Multidão (Ver Peter Pal Pélbart), sabia apenas que eu era gente.
Hoje, de ressaca ainda da felicidade, me pego ouvindo o Roberto Carlos, me veio uma vontade de escrever essa grande bobagem, para registrar o quanto de bobo existe em mim, tenho sentido uma vontade maior ainda de viajar, mudar de vida, dançar... Obrigado ao Cadu, Sylvinha, Fernanda Meireles, Lua,Cíntia, Denise, Samuel, Gigante, Livia, Ed, Bruno, Bruna, Fabinho, Thati, Anderson, Toquinho, Paulete, Kleber, Manu, Emanoela, Jeane, Georgina, Renê, ao Morro de Santa Tereza, Ipanema, Lapa... Eu não me canso da felicidade, alegria é minha política.
E que venha o carnaval de 2012, que me venha o Rio de Janeiro.