quarta-feira, 4 de maio de 2011

MEUS muitos, o único de mim!







Mudar de quarto. É assim que me sinto e me apresento por agora. Demoro muito a entender as coisas, lentidão supérflua, persistente. Não acredito que mudar de quarto seja abandonar, o antes, habitado, e sim conhecer o desabitado, ou, o preenchido por presenças desconhecidas cheias de desejos e sonhos que na maioria das vezes são irrealizáveis (os sonhos). É Preciso dizer que os sonhos muitas vezes fenecem, eles ficam abandonados no meio dos caminhos como rastros de caminhos que talvez não levem a lugar algum, em outra instância, o mudar de quarto não significa pessimistamente (essa palavra existe?) que não temos sonhos a realizar ou que os desistamos. Mudar de quarto é, para mim, por esse “agora” um ato político imanamente e humanamente necessário, mudar para não abandonar, para não desistir, para não cansar, fechar os olhos e ser mais um no meio de uma multidão de descrentes, sem sonhos, com as mãos calinadas de luta, bandeira de talo fino e quebradiço, buracos no pano.
Olhar de perto também organiza a casa, estar junto potencializa uma vida (não mais minha nem sua... apenas.) Entender a lógica da razão, das coisas (título de livro, acho bonita essa frase) parece o mais próximo do que poderíamos chamar de justiça. Eu quero isso para os meus, para mim, para os meus sonhos, para a construção de meus caminhos e parcerias, eu não quero ser vendado, vetado, vilipendiado, essas palavras impõem medo, desconfiança, insegurança, e delas tento me desvencilhar para estar com os “meus”. Preciso dizer também que quando falo “MEUS” é na condição de deslocamento gramatical da qualidade de pronome possessivo para afinidades, proximidades e entendimentos, com-parti-lha-mentos, de nomes sim, mas não de posses, nada de “ ivos”ou meu, teu dele.
Os que considero MEUS e que se fazem meus são os que acreditam na transformação, na tentativa, na atenção, no andar de mãos dadas que o poeta Carlos Drummond de Andrade propõe como política de construção. São meus os que não desistem, os que estão juntos, os que fortalecem parcerias e desdenham de falsos poderes e sórdidos empoderamentos. Preciso dizer também que entendo o poder como uma coisa positiva, as pessoas é que o negativaram com suas pequenezas e vontades sórdidas de se fazer grande para oprimir os que lhes servem. (eu não aceito isso, eu não aceito).
Ouvi outro dia de uma amiga querida, em uma mesa de bar, que ouvira de um amigo querido dela (na mesma mesa de bar) que “a gente deve amar o outro pela sua capacidade de ser livre” achei bonita a frase, guardei no bolso, escrevi em um guardanapo e aproveito pra dizer que é disso que se trata: Os meus são os que têm capacidade de amar em liberdade. De amar a minha liberdade e se enxergar também nela, porque amizade é construção e construção só é possível em liberdade pois se o que quero é ser o passarinho no dedo de alguém (como disse Rubem Alves) eu preciso entender de liberdade, de entradas, saídas, idas e vindas, choros e risos, eu preciso entender de dor, eu preciso entender de alegria e tudo isso é inerente ao ser humano, à nós que somos pequenos e frágeis então... mais inerente ainda!
Eis que então o “mudar de quarto” vem recheado de convites... A tudo isto, a essa liberdade que como Clarice Lispector diz... talvez seja algo ainda menor (ela acreditava em algo mais permitido do que a liberdade – e não conseguiu adjetivar)
Costumo acreditar no encontro, aprendi isso em contato com a dança, ainda aprendo, aprendo todos os dias sobre encontros, aprendo também sobre pesos, levezas, pobreza, beleza, eu aprendo sobre olhar a vida e me fazer parte dela, com o meu tamanho, com a minha fragilidade, com as minhas dores e minhas potencialidades (são muitas e aprendi a apostar nelas) eu aprendo muito, demasiadamente com os “MEUS” e é com eles que eu vou mudar de quarto e organizar uma vida dentro da sala, no corredor, na cozinha... vou sair girando, como um menino que brinca com sua mais nova descoberta, de braços abertos no quintal da casa que eu ainda não tenho desejo de abandonar.