quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Na ausência do que sentir, eu digo!

Há uma coisa aqui… Misto de incerteza e medo, presença e ausência. Será loucura? Há um inacabado de estradas a serem percorridas, porém há chinelos quebrados, sapatos sem cadarços… janelas de cortinas fechadas impedindo a contemplação de um horizonte. A dor de uma saudade, a dor de um fim, a dor de um “não me importo” é uma dor seca, rabiola de pipa que não sobe. Menino sem camisa, pés descalços… fome. Existe um incentivo danado à coragem quando medo e incertezas em mim se instalam, através do medo me enxergo e corro a enfrentar o que venha. Através da incerteza eu reflito, autoanaliso, redescubro e crio formas novas de caminhar, estradas densas e por isso convidativas, facão em punho a arregaçar matas virgens, cheirosas, olhos vendados, tato e olfato apurados. A vida se mostra em cada canto de experiência vivida, antes dos cantos existe o anúncio, em forma de lágrima ou de riso o anúncio aponta, informa, dirige, segura em minha mão e me incentiva a atirar-me contra a espada, pular de precipícios, peito aberto, poucos cabelos ao vento, corpo pesa. Eu nunca recuo. Boca seca de hoje é a mesma boca cheia de ontem… beijos secam, palavras secam, comidas secam, água seca(?). Buraco no peito, olhos de zumbi, um nada nas mãos e uma vontade indescritível de um recomeço sem dor, uma outra cidade que não essa e nem aquela, um outro quarto que não aquele hotel, um outro mundo que não aquele que eu pensei ser meu também, sim, eu pensei! Um barulho que não aquele de seu silêncio. Não, frio nunca mais. Teu corpo doce e pequeno, tua mão atrevida entre minhas pernas, boca que me cheira, me lambe, me enlouquece. Há outros caminhos? Há outras paragens? Ultima olhada em tuas fotos, última mão em meu desejo, uma loucura tão sã se estabelece agora. Suspiro (pausa). Água, beber água, trancar a porta do quarto, deitar na cama, levantar da cama, ligar a TV, abrir a janela (mas por hoje não há horizonte) só cortinas. Água, água, água, água. Cigarro não mais, hotel não mais, moda não mais, dentes não mais, ser estrangeiro não mais, incêndio interno, difícil de apagar. Um dia vem atrás do outro e as saudades se fantasiam de carnavais e posts de facebook, mensagens indiretas e frágeis de seres também fragilizados, cinismo explícito, ausência de coragem, sensatez em aridez. Foto em preto e branco. Eu tenho um compromisso com a vida, foi com ela o pacto feito pelo cultivo à alegria, mas por hoje eu o quebro. Por hoje eu me dispo da roupa de guerrilheiro para mostrar um pouco que sou também constituído de fragilidades e inseguranças, mas informo: POR HOJE, SÓ POR HOJE. Porque quando os caminhos mudam a gente tem o direito a tentativa de aprender a andar de uma outra forma, de construir uma outra maneira de andar que não aquela em que tentei segurar a tua mão, como aquela que me fez tímido te roubar um beijo entre carros, gentes, lojas e outros amantes, como aquela que me fez economizar dinheiro para te comprar flores em um dia de chuva, pés enlameados, roupas molhadas mas as flores intactas. Teu riso lindo. Eu não te escrevo, eu não te escrevi, eu não vou chorar. Eu rio ao lembrar de teu riso também tímido, eu rio ao lembrar de teu corpo faceiro provocando o meu, eu rio por te ouvir tanto falar e só pensar em te ter em meus braços, eu rio de tanto que esperamos e nos debruçamos um ao outro em histórias, estórias, danças e até lágrimas, bar fulerage, cidade suja, fumaça, muita fumaça… fumaça me traz a incerteza do que se vê, porque embaça, confunde, irrita os olhos e provoca o desejo de ver de forma mais límpida, há fumaça entre nós, sempre houve. Nós somos o que sobrou da luta entre distância e proximidade, somos um não lugar, pura abstração somos um ao outro, um retrato, um número, uma memória, mas somos. Sim nós somos. Dias atrás sonhei com você, você chegava em uma bolha, algo como redoma, depois você se transformou em sabonete molhado, metáfora mais do que lógica para se falar de nossa estória, porque em mim sempre houve a tentativa de te segurar e você sempre foi uma coisa molhada e escorregadia, água corrente. Nobre, muito nobre não ser água parada, Manoel de Barros já diz que “liberdade caça jeito” e embora eu nunca te tenha sido prisão, a minha liberdade te causa medo do aprisionamento (penso eu!) Fumaça, fumaça, fumaça… que a limpidez nos chegue, que permaneçamos a partir de amanhã alegres, sim, amanhã, porque hoje eu tenho o direito de ser triste, SO POR HOJE, sim eu tenho esse direito. Ah… estou ouvindo o Hélio Flanders cantando “Me acalmo danando” de Ângela Rorô, você já percebeu como essa música é linda?