terça-feira, 8 de maio de 2012

Tumulto.

Treme em minha carne fria o desejo de um desconhecido movimento que se chama intinerância. Ser muitos de mim longe dos que sou no meu agora. Essa coisa de ser um pouco de mundo ainda me fere, embora as sensações de prazeres, risos e alegrias sejam bem maiores do que as feridas cicatrizantes adquiridas na estrada da busca. A realidade me aparece como local de desequilíbrio e a busca pelo contrário me força ao estranhamento do outro, me lança no desagradável e me torno coisa ruim, seca, controverso, subversivo, louco, coisa que não cabe no mundo que estou inserido nesse meu agora, como férias em país estrangeiro, comunicação única de linguagem física, língua não entendida. A caretice é a desgraça do mundo, é a própria destruição de mim no mundo em que vivo e que tento, o outro é o meu compromisso, a fome, a miséria, a dor... elementos de um cotidiano que a caretice nega e relega a papéis e formalidades que não se constituem como potentes. Existe revolta em mim, gosto perdido de revolução, mãos em punho. Necessidade de respiração, ar puro, de arte, dança, filosofia, um pouco de Peter: “... um pouco de possível senão eu sufoco.” Ao meu lado existem tantos, pessoas de várias formas, categorias, medos, caretices... eu não me dou bem com a caretice encaixada, preciso de um mínimo de revolução, de inquietude, de esperanças, de possíveis alegrias, de possíveis. Buscar o lugar de legitimação do meu desejo, um gosto forte e seco que me escorre pelos pés e cabeça como um banho de chuva em dia de calor, chuva quente e calor frio, corpo em espera, desejo em desespero, caminhos a serem abertos como num filme em que um ator abre espaço com um facão em punho... ou de outra forma, bailarino de sapatilhas rasgadas tentando executar danças, eu quero a liberdade de dançar descalço sem respeitar a música e os passos e ainda assim ser potente e ainda assim conseguir parceiros que acreditem nas minhas posições, e ainda assim agregar mais pessoas, mais sonhos, mais lutas e mais possíveis. Eu quero o mundo porque eu também sou o mundo, eu quero a vida porque eu também sou a vida, eu quero a dança porque eu também sou um passo em sapatilhas rasgadas. Eu só não quero ser pedra, nesta eu vou me escrever em alma. “ em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua. Os homens pedem carne, fogo, sapatos. As leis não bastam, os lírios não nascem da lei, meu nome é tumulto e escreve-se na pedra” Carlos Drummond de Andrade