sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Relato de um pesquisador tímido.

A cidade de Fortaleza é mundialmente conhecida pela beleza exuberante de suas praias, um misto de província e urbe que translucidamente reflete nas ruas as gritantes desigualdades sociais, estas aparecem nos mais diferentes setores do desenrolar da vida, na economia, no poder aquisitivo das pessoas, nas sacolas de supermercados das donas de casa, nas cadeiras na calçada, nas crianças que brincam com os brinquedos mais diversos, em Fortaleza, um pneu velho e uma lata enferrujada brilham aos olhos de uma criança da mesma forma que um brinquedo eletrônico da mais alta tecnologia. Assim como em outras urbes, a cidade e seus esconderijos, tais quais as suas vitrines urbanas, apresentam-se como nichos econômicos, sociais e culturais para o desenrolar da vida. Bares, barracas de praias, praças, calçadas de comércio, esquinas, teatros, cabarés, se configuram como espaços de legitimação da vida cotidiana, esses espaços compõem o desenrolar da vida, espaços de diversão e entretenimento para uns e locais de trabalho para outros. Dessa forma, o local de observação e pesquisa desse trabalho é a cidade de Fortaleza, mais especificamente o centro da cidade entre as ruas Solon Pinheiro e Jaime Benévolo à altura do Colégio Marista, região habitada de forma intensa durante o dia e escassa de pessoas durante a noite, é um espaço cercado por prédios residências, casas e muitos pontos comerciais. Há lixo pelas calçadas, muitas pontas de cigarros, poças dágua, olhando de forma mais focada, é possível identificar fitas coloridas, pedaços de comida, latas de cerveja amassadas, um bilhete de alguém “ fui comprar pão, volto já”, e em uma parede um pouco mais distante, um desenho da folha da maconha com o escrito “legalize já”. Há passantes, transeuntes, curiosos, pessoas que em suas atitudes matreiras e escapulidas se confundem com ratos, num frenético ir e vir, procurando uma forma de habitar o espaço sem a percepção dos que ali tentam a sobrevivência. Odor de urina e fezes se confundem com a essência dos perfumes dos que ali trabalham, o vermelho da boca de batom em choque com o loiro de perucas me transportam para uma cena de filme do cineasta latino Pedro Almodovar, as mínimas roupas, os saltos altos, as bolsas, o cigarro, a atitude corporal, tudo pronto para ser produto, tudo pronto para consumo. Antes de abordar, fui abordado por Carla, uma travesti, garota de programa de 19 anos de idade que trabalha há dois anos no mesmo ponto, esquina da Solon Pinheiro com Bárbara de Alencar. Carla usa peruca loira, tem 1.72 de altura, olhos grandes, usa cílios postiços, não usa tanta maquiagem porque sua pele é macia e fresca, tem dentes perfeitos, traços femininos no rosto e no corpo. O corpo de Carla é bonito, pernas compridas, cintura fina, bumbum redondo, não tem pêlos, seus ombros não são largos. Cheira agradável, é simpática, delicada mas quando necessário se torna violenta “adoro a minha vida, não deixo ninguém tirar” (sic). Vestia mini-saia preta, top azul marinho, usava salto-alto preto, portava uma bolsa pequena, de segurar na mão, dentro da bolsa uma cédula de 20,00, três camisinhas, batom, perfume bem pequeno, uma carteira de cigarro Hilton, a chave de casa e um bisturi “porque às vezes eles não querem pagar” (sic). As amigas de Carla me olharam de forma esquisita, haviam três do outro lado da rua, uma delas morena, usava shorte jeans com as nádegas de fora, top de brilho prata e salto também prata, peruca morena com luzes claras, portava bolsa cinza de corrente prateada, falava com frequência no celular. Sua parceira de esquina era loira, peruca channel, usava calcinha fio-dental e sutian florido, esta não usava bolsa, dobra seu vestido e o pendura no poste de luz para exibir o corpo para os possíveis clientes. Sentada em um batente havia outra também morena de jaqueta preta, aparentemente saia curta, maquiada, peruca longa, estava sem usar o salto, mas o mesmo estava ao seu lado, chorava muito no momento de minha pesquisa, segundo Carla: “ A mãe está doente, em tempo de morrer” (sic). Carla parece ser a mais requisitada do grupo, é também a mais jovem, enquanto observava de longe, de dentro do carro, três abordagens foram feitas à Carla, em uma delas ela entrou no carro e retornou em torno de 20min. Ela é forte, tem personalidade marcante, fala de forma direta, não se incomoda em falar de si mesma, não se envergonha do que faz e diz ser temente a Deus, relata que Deus vai entender e que só faz o que faz porque precisa de dinheiro, não tem mais pai nem mãe, morava com uma tia no interior e era abusada pelo tio e primos desde os 8 anos de idade. Carla não sabe ler nem escrever, mas sabe contar dinheiro e relata que tem vontade de estudar, mas o preconceito é muito grande. A rotina do trabalho das garotas de programa travestis inicia por volta das 20:00h. Dependendo da necessidade começam o trabalho mais cedo, o dia da semana também é determinante, o movimento para elas aos sábados e domingos pode iniciar até mesmo às 18:00h. A maioria delas mora pelo centro, levam o tempo de uma hora ou uma hora e meia para ficarem prontas, o processo de maquiagem é longo, têm que subir as sobrancelhas, passar fita gomada ou fita durex no topo da testa para subir os traços e ficarem mais femininas, muitas camadas de base, depois muitas camadas de pó, depois lápis, rimel, delineador, unhas postiças. Passo seguinte é cuidar do corpo, cremes, depilação, limpeza interna. Depois pentear e tratar a peruca, grampos, fivelas, acessórios, por fim a escolha da roupa. Sobre a roupa Carla fala que gosta de usar vestidos, mas o vestido não atrai clientes, é necessário mostrar bunda e peitos para que os clientes se sintam atraídos, “porque eles vem muitas vezes bêbados, aí eles querem logo é fazer” (sic). Chegando ao ponto de trabalho, se dividem nas esquinas, entre idas e vindas de esquinas pra esquinas há brincadeiras entre elas, dividem cigarros, emprestam batons, camisinhas e as vezes dividem o lanche. Ficam sempre em pé, andando em saltos altos, quando o farol dos carros entram na rua, imediatamente vão mostrando a região das costas para que os clientes possam apreciar e quem sabe pagar um programa. Carla relata que já chegou a fazer mais de 500,00 em uma única noite de trabalho. Não existe hora certa para se finalizar a noite de trabalho de Carla e suas colegas, às vezes trabalham até as 6:00 da manhã, às vezes fazem apenas um programa para garantir o aluguel ou a alimentação da noite ou do dia seguinte. “Porque a gente também tem os nossos problemas, tem dias que eu to com nojo de tudo, até de mim” (sic). Há minimamente companheirismo entre elas, elas riem juntas, brincam, mandam beijinhos, contam piadas, aconselham umas às outras, lembram umas às outras da importância do uso da camisinha, partilham, são cúmplices, “eu ajudo a quem precisar de mim, só não vou ajudar se for pra roubar”. A falta de acessos as políticas públicas por parte de Carla e suas colegas de trabalho se deu desde cedo e se dá ainda hoje devido os preconceitos relacionados à orientação sexual, no caso específico de Carla, a violação de direitos foi marcante, pois era abusada pelo tios e primos após a morte de seus pais, com dificuldades psicológicas de superar a violação, abandonou a escola, a vida em comunidade e perdeu a noção de que somente através de Educação é que ela poderia superar as violações e as negações de seus direitos, não conhece o Conselho Tutelar, não conhece o papel das ONGS, não sabe o que é uma política pública e não sabe qual o papel do assistente social. A alienação de Carla e suas amiagas é bastante notável. Como falar de valores nessa perspectiva? Como achar formas de se falar de políticas públicas e acessos se estes são fragilizados em sua totalidade? Como pensar ações que possam sanar minimamente as carências de direitos de Carla e outras profissionais da rua? Como pensar em juventude frente às ditaduras corruptas e eletivas do neoliberalismo? Como pensar em inclusão na política de saúde, educação, habitação e assistência social para esse segmento da sociedade que fica à margem de todas as realizações político-sociais do mundo contemporâneo? Como fazer a sociedade entender esse segmento para além da culpa? Como estrategar falas que tirem a culpabilização da prostituição dos travestis em detrimento do cerceio dos acessos? s~çao muitas as questões que vão ficando após o encontro com Carla. Acredito que o encontro com Carla foi transformador para nós dois, Carla me encheu de perguntas, quis saber de minha vida pessoal, se eu era casado, se gostava de meninos ou de meninas, me falou que eu era bonito (rsrsrsrsr). Pediu camisinha, do outro lado da rua escutei “Ei Carla tu vai é casar com ele é?”. Dividi com Carla o tempo de uma hora e dez minutos de conversa, durante esse tempo Carla se mostrou muito atenta ao que eu dizia, ao que eu perguntava, ao que eu queria saber, respondia tudo de modo muito direto, ao final me perguntou se eu não queria tirar foto, perguntou se eu voltaria, “quando quiser pode vir.” (sic.). Esse mergulho no campo foi muito importante, pois percebo que há muito o que se entender quando estamos na pesquisa, me senti muito confuso, perdi a noção do campo, não sabia mais, confesso que ainda não sei, se Carla ou se o local de seu trabalho são o meu objeto de pesquisa nesse trabalho, o fato é que a partir do contato com Carla pude mapear meus preconceitos, medos, subjetividades e afetividades, é possível se mapear a demanda de políticas públicas para esse segmento, é possível se mapear demandas também afetivas, são muitas as carências, falamos de algumas eu e Carla, mas muitas outras ficaram subentendidas, escondidas, guardadas para quem sabe em um outro momento aparecerem de forma teimosa. Me despedi de Carla e segui rumo ao carro, nesse trajeto olhei para trás e vi claramente que a dinãmica de trabalho ali instaurada não se modificou. De dentro do carro vi Carla rir com as colegas, reforçar o batom, acender um cigarro e voltar para a esquina da Solon Pinheiro com Bárbara de Alencar, da mesma forma que a encontrei. Vestida de nua, despida de políticas públicas, desejando um futuro melhor. E eu segui. Assim como Carla. Seguimos ao nosso modo Carla e Eu.

Um primeiro dia, uma impressão marcante

Comecei o estágio supervisionado I em Serviço Social no dia 12.09 do corrente ano, esse dia foi um diferencial na minha vida acadêmica, pois foi a primeira vez que me deparei com a intervenção do serviço social dentro de uma política que é extremamente frágil e que na qual eu jamais havia despertado o desejo de estar inserido. A chegada ao ambiente hospitalar foi muito brusca, não há delicadeza que rompa com a dinâmica hospitalar, são tensões, movimentos, paragens, dores, tristezas, odores, tudo se mistura ao ambiente, o misto de salvar vidas com o desespero da morte é uma constante no cotidiano do serviço social hospitalar, os estreitos corredores assim como as salas de atendimento são verdaeiros labirintos, cheios de desconhecimentos, incertezas e angústias dos que ali buscam encaminhar as demandas de seus familiares em estada hospitalar. Foi assim que começou o primeiro dia de estágio, com o rompimento da minha vida pequeno-burguesa pela realidade social dos que sofrem e agonizam na política de saúde. O serviço social na instituição é bastante dinâmico, as assistentes sociais entram e saem, sobem e descem, algumas correm, algumas sentam exilando o cansaço, pessoas reclamam na porta do serviço social, idosos, crianças, mulheres, travestis, todos se aglomeram na porta do setor na tentativa de uma mínima notícia de seus familiares, querem saber se já morreram, se estão de alta, se a cirurgia foi bem, há também fome nessas pessoas, algumas desejam entrar para se alimentar ao lado dos seus pacientes, há um desejo enorme de ter, o verbo predominante é o “querer”. A dinâmica hospitalar muito me tocou nesse sentido, as imagens são fortes, o cheiro é forte, o desespero é forte, as fragilidades são fortes, é preciso dizer que o que há de mais forte no meio disso tudo é a intervenção ( embora em alguns momentos frágeis) das assistentes sociais, que calmamente vão tentando encaminhar as demandas que a elas chegam, elas resistem com muita determinação, fazendo valer a construção do projeto ético-político da categoria e o Código de ética da profissão que têm como compromisso maior o atendimento das demandas da classe trabalhadora. Adentrando então o espaço do Serviço social, me armei de papel e caneta e adentrei a sala de atendimento da emergência hospitalar para juntamente com a supervisora mapear demandas e traçar encaminhamentos. Nesse primeiro dia, tudo era grande e novo para mim. O primeiro atendimento foi à uma mãe que teve a filha espancada na noite anterior, o companheiro da filha a espancou, depois a amarrou e cortou a cabeça ao meio com uma faca, do meio da testa até ao pescoço, na tentativa de abrir a moça ao meio e chegar ao coração. No desenrolar da ação dele, a comunidade se revoltou e o espancou até a morte. Esse atendimento me tocou demasiadamente, traços de crueldade, ação desumana, tentei no entanto me abster de comentários, pois sabia que ali haviam questões que cabiam ao profissional que já tem experiência em casos como esse, e se gundo a supervisora, casos como esse fazem parte do cotidiano do IJF, todos os dias chegam mulheres vítimas de violência doméstica com situações tão esdrúxulas e impactantes como aquela. Faz parte da dinâmica e do funcionamento do Serviço Social do IJF a rotina de atendimentos em sala e também o atendimento diretamente na emergência, dessa forma, o assistente social fica um determinado tempo na sala e outros determinados tempos diretamente na emergência, nos corredores, local onde existem cabeças quebradas, pernas, braços, bacias quebrados, muito sangue. Finalizando os atendimentos em sala, subimos para os corredores da emergência do IJF, a emergência é um local que comparo a um campo de concentração, são cabeças partidas ao meio, ossos saindo de corpos, olhos esbugalhados, mãos e pés amarrados, há de tudo na emergência do IJF. O cheiro lá é ainda mais forte, um misto de álcool, afetamina, urinas, fezes e sangue, tudo compõe o cenário de um campo de guerra, soma-se a isso o desespero dos que acompanham, pessoas aflitas, implorando pela presença de médicos que em sua maioria passam pelos corredores como se não fizessem parte do que ali acontece, no meio disso tudo está a figura do assistente social que é o único profissional da saúde que atenta de forma mais direta e tranquila, sendo empático com as dores dos que ali se encontram. O assistente social vai de leito em leito da emergência, com seu caderno de entrevista social, material informativo sobre DPVAT e cartão de acompanhante, na maioria das vezes é até recebedor de críticas, pois todos reclamam da ausência de médicos para o assistente social. Feito a vistoria na emergência e cumpridos os atendimentos e preenchimentos de cartão de acompanhante é hora de descer mais uma vez para o Serviço Social, pois lá existem mais atendimentos a serem feitos. Ao chegar à sala, havia uma notícia de óbito, a supervisora pediu que eu não participasse porque “não conversamos ainda sobre isso” (sic). Fiquei fora da sala de atendimento esperando a finalização do atendimento, ansioso para saber qual seria o próximo passo daquela primeira tarde de estágio. Após o atendimento do óbito, a supervisora pediu 5min. Saiu e voltou com olhos vermelhos e disse que era natural chorar, confessou que às vezes faz atendimentos que necessita sair, chorar um pouco e voltar para poder concluir. Calmamente, fomos conversando sobre os instrumentais, a forma de divisão das assistentes sociais por setores do hospital e da dinâmica instaurada no hospital, juntos chegamos à conclusão de que o hospital é um reflexo direto da conjuntura social da cidade, pois o hospital é como um termômetro das questãoes de violência contra a mulher, abandono de idosos, negligência com crianças e adolescentes entre outros, tudo se ver ali, tudo esbarra lá. Chegada a hora de finalizar o dia de estágio, o microfone geral chama pela supervisora na emergência, pois havia chegado ao hospital muitos casos que precisavam da intervenção do serviço social, a supervisora se levantou, vestiu o jaleco, agradeceu e fiquei olhando sua corrida rumo ao elevador, papel caindo das pastas, uma procura frenética pela caneta nos bolsos, cabelos assanhados, e eu pensei: Isso não é teatro, isso é a vida acontecendo, para quem sofre nela e pra quem “cuida” do sofrimento dela.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

"Das coisas que fazemos JUNTOS"

A Cia. dos Pés Grandes está de filho novo, o resultado de mais de um ano pesquisa chegou aos palcos de forma tímida em setembro desse ano no Teatro Antonieta Noronha, dentro do Projeto Sala de Ensaio. Em Outubro a Cia. Recebeu convite da Bienal Internacional de Dança do Ceará para apresentação do processo no Teatro Dragão do Mar em Fortaleza e no Galpão da Cena de Itapipoca, interior do Estado. O trabalho reflete a pesquisa sobre algumas vertentes do esporte, tendo sido mais especificamente vivenciado a partir da técnica do boxe e do atletismo. Alia-se a isso o desejo de se investigas as possibilidades de se fazer coisas juntos, em um mundo tão cheio de incompatibilidades, a urgência do encontro e de desenvolver coisas simples juntos parece um desafio cotidiano. O processo foi rico, dinâmico, como todo processo que envolve muitas pessoas (somos 12) a incompatibilidade entre presença e ausência foram marcantes na caminhada. O que mais se presentificou portanto foi o desejo de permanência, de estada, de partilha, "ficância" e uma tentativa incansável na sala de aula de equalizar as individualidades de um grupo misto, com especificidades unas e a-similares. Muito ainda a se pensar e se afetar dentro do trabalho, muito a dizer e muito a escutar. O elenco é composto por: 1. Heber Stalin - Pedagogo e Assistente social em formação, Na área de dança é formado pelo CTD, primeira turma, foi aluno do Curso de extensão da UFC - Dança e Pensamento, é Fundador, diretor geral, coreógrafo e bailarino. (chato, imaturo, embora seja o mais velho, reclama de tudo, quer sempre mais, tem manis de perfeição, cobra mais do que devia, é comprometido com a categoria profissional e com o fazer artístico) 2. Dudhu Abreu - Aluno do curso de artes cênicas do IFCE, bailarino, sapateador e integrante de outras Cias. de teatro e dança da cidade. ( Menino lindo, cara de caçula) 3. Edson Sousa - Bailarino, aluno do CTD, ex integrante do CEM tendo dançado vários repertórios em outras Cias. de dança da cidade. (Irresponsável de vez em quando, mas o talento para o sapateado - que ele nem sabe que tem - é algo a destacar - é amor, meu amor pra sempre) 4. Fabinho Vieira - Estudante de Publicidade e Propaganda, Formado pelo Colégio de direção teatral de Fortaleza, sapateador, integra outros coletivos artísticos na cidade, promove festas (Coração, pedaço que tava faltando, fashion, por mais barulhento que seja, o silêncio de sua existência é bálsamo para a minha criação, amor que veio pra ficar, vejo desejo nele inteiro) 5. Henrique Casimiro - Estudante de Secretariado executivo da UFC, Integrou a Cia. há dois anos e retornou para a pesquisa que ora se apresenta ( é xodó, criança grande, responsabilidade, o bumbum mais lindo da Cia. é pura inteligência, estratégico, segura a minha mão e me diz sempre: "Estou aqui Heber", sua integridade e caráter são verdadeiros tesouros.) 6. Jota Nogueira - Servidor Público, componente tb do Coral da UFC. ( é manso, leve, risonho, cachinhos dourados, brilha em tudo o que fala, tem altivez, é nobre, fala pouco, gosto de papear de vez em quando, parece meio voador, é dócil, é gostoso também.) 7. José Avantam - Estudante de pedagogia da UECE, Trabalha com TI, sapateia há 10 anos ( É o meu mais velho, carinho e amor antigo, olhos de menino medroso, corpo de menino bebê, é um poço de fragilidade e doçura, quando fala parece um bebê, vivemos muitas estórias juntos, é parte da minha vida, está em mim, amor mais antigo, gratidão) 8. Lucas Teófilo - Ator formando pelo IFCE, Cantor. (... misto de amigo e marido, aquele que me traz p a realidade, que me cutuca, me dá um banho de água fria, me dá tapas na cara, é aconchego, é segurança, é tudo o que há de cumplicidade, é presença - se desejar será um grande sapateador - sapateou muito rápido, o suficiente pra sapatear em mim. Príncipe) 9. Rodrigo Silva - Micro empresário, sapateador primoroso (Não tenho muito o que falar, Rodrigo é filho pródigo, a realização de minhas conquistas está nele, estilo, responsabilidade, amor ao sapateado, é meu cúmplice, meu corpo, meu olhar, tudo de mim está nele, é a perpetuação da minha dança quando eu não estiver mais aqui. Gratidão e amor eterno. Lágrimas). 10. Rubéns Lopes - Estudante do curso de dança da UFC, Diretor da Anagrama Cia. de Dança. (ai... e agora? Ele é a minha pérola negra, execução perfeita do que sonhei um dia executar, competência física e intelectual, bailarino de referencia, é lento, moroso, macio, gostoso, lindo. Gratidão, a ausencia dele em mim nunca vai existir. Paixão. Companheirismo, aquele que me entende e resolve. AMOR) 11. Saymon Morais - Ator formado pelo IFCE, Professor de Teatro. (Lindo, príncipe, pavão, gosta de ser olhado, é carinhoso, às vezes arisco, é sensível fisicamente e emocionalmente, se preocupa com o que faz, é terno, rir excessivamente, me faz bem, parece um menino em alguns momentos, dá vontade de por no colo. 12. Wallan Abreu - Pessoa de dança e de mundo, surfista, atleta ciclista. ( amante do mar, da terra, da lua e do sol, é manso, romântico, persistente, determinado como um leão, riso largo e lindo, pernas compridas, sangue de muitos, boquinha cheirosa. quanto mais luta no sapateado mais tenho adimiração.) Pessoas lindas, generosas, dispostas. Obrigado pela partilha. Sigamos.

Minha dança na escrita do cotidiano paralelo

Comecei o estágio supervisionado I em Serviço Social no dia 12.09 do corrente ano, esse dia foi um diferencial na minha vida acadêmica, pois foi a primeira vez que me deparei com a intervenção do serviço social dentro de uma política que é extremamente frágil e que na qual eu jamais havia despertado o desejo de estar inserido. A chegada ao ambiente hospitalar foi muito brusca, não há delicadeza que rompa com a dinâmica hospitalar, são tensões, movimentos, paragens, dores, tristezas, odores, tudo se mistura ao ambiente, o misto de salvar vidas com o desespero da morte é uma constante no cotidiano do serviço social hospitalar, os estreitos corredores assim como as salas de atendimento são verdaeiros labirintos, cheios de desconhecimentos, incertezas e angústias dos que ali buscam encaminhar as demandas de seus familiares em estada hospitalar. Foi assim que começou o primeiro dia de estágio, com o rompimento da minha vida pequeno-burguesa pela realidade social dos que sofrem e agonizam na política de saúde. O serviço social na instituição é bastante dinâmico, as assistentes sociais entram e saem, sobem e descem, algumas correm, algumas sentam exilando o cansaço, pessoas reclamam na porta do serviço social, idosos, crianças, mulheres, travestis, todos se aglomeram na porta do setor na tentativa de uma mínima notícia de seus familiares, querem saber se já morreram, se estão de alta, se a cirurgia foi bem, há também fome nessas pessoas, algumas desejam entrar para se alimentar ao lado dos seus pacientes, há um desejo enorme de ter, o verbo predominante é o “querer”. A dinâmica hospitalar muito me tocou nesse sentido, as imagens são fortes, o cheiro é forte, o desespero é forte, as fragilidades são fortes, é preciso dizer que o que há de mais forte no meio disso tudo é a intervenção ( embora em alguns momentos frágeis) das assistentes sociais, que calmamente vão tentando encaminhar as demandas que a elas chegam, elas resistem com muita determinação, fazendo valer a construção do projeto ético-político da categoria e o Código de ética da profissão que têm como compromisso maior o atendimento das demandas da classe trabalhadora. Adentrando então o espaço do Serviço social, me armei de papel e caneta e adentrei a sala de atendimento da emergência hospitalar para juntamente com a supervisora mapear demandas e traçar encaminhamentos. Nesse primeiro dia, tudo era grande e novo para mim. O primeiro atendimento foi à uma mãe que teve a filha espancada na noite anterior, o companheiro da filha a espancou, depois a amarrou e cortou a cabeça ao meio com uma faca, do meio da testa até ao pescoço, na tentativa de abrir a moça ao meio e chegar ao coração. No desenrolar da ação dele, a comunidade se revoltou e o espancou até a morte. Esse atendimento me tocou demasiadamente, traços de crueldade, ação desumana, tentei no entanto me abster de comentários, pois sabia que ali haviam questões que cabiam ao profissional que já tem experiência em casos como esse, e se gundo a supervisora, casos como esse fazem parte do cotidiano do IJF, todos os dias chegam mulheres vítimas de violência doméstica com situações tão esdrúxulas e impactantes como aquela. Faz parte da dinâmica e do funcionamento do Serviço Social do IJF a rotina de atendimentos em sala e também o atendimento diretamente na emergência, dessa forma, o assistente social fica um determinado tempo na sala e outros determinados tempos diretamente na emergência, nos corredores, local onde existem cabeças quebradas, pernas, braços, bacias quebrados, muito sangue. Finalizando os atendimentos em sala, subimos para os corredores da emergência do IJF, a emergência é um local que comparo a um campo de concentração, são cabeças partidas ao meio, ossos saindo de corpos, olhos esbugalhados, mãos e pés amarrados, há de tudo na emergência do IJF. O cheiro lá é ainda mais forte, um misto de álcool, afetamina, urinas, fezes e sangue, tudo compõe o cenário de um campo de guerra, soma-se a isso o desespero dos que acompanham, pessoas aflitas, implorando pela presença de médicos que em sua maioria passam pelos corredores como se não fizessem parte do que ali acontece, no meio disso tudo está a figura do assistente social que é o único profissional da saúde que atenta de forma mais direta e tranquila, sendo empático com as dores dos que ali se encontram. O assistente social vai de leito em leito da emergência, com seu caderno de entrevista social, material informativo sobre DPVAT e cartão de acompanhante, na maioria das vezes é até recebedor de críticas, pois todos reclamam da ausência de médicos para o assistente social. Feito a vistoria na emergência e cumpridos os atendimentos e preenchimentos de cartão de acompanhante é hora de descer mais uma vez para o Serviço Social, pois lá existem mais atendimentos a serem feitos. Ao chegar à sala, havia uma notícia de óbito, a supervisora pediu que eu não participasse porque “não conversamos ainda sobre isso” (sic). Fiquei fora da sala de atendimento esperando a finalização do atendimento, ansioso para saber qual seria o próximo passo daquela primeira tarde de estágio. Após o atendimento do óbito, a supervisora pediu 5min. Saiu e voltou com olhos vermelhos e disse que era natural chorar, confessou que às vezes faz atendimentos que necessita sair, chorar um pouco e voltar para poder concluir. Calmamente, fomos conversando sobre os instrumentais, a forma de divisão das assistentes sociais por setores do hospital e da dinâmica instaurada no hospital, juntos chegamos à conclusão de que o hospital é um reflexo direto da conjuntura social da cidade, pois o hospital é como um termômetro das questãoes de violência contra a mulher, abandono de idosos, negligência com crianças e adolescentes entre outros, tudo se ver ali, tudo esbarra lá. Chegada a hora de finalizar o dia de estágio, o microfone geral chama pela supervisora na emergência, pois havia chegado ao hospital muitos casos que precisavam da intervenção do serviço social, a supervisora se levantou, vestiu o jaleco, agradeceu e fiquei olhando sua corrida rumo ao elevador, papel caindo das pastas, uma procura frenética pela caneta nos bolsos, cabelos assanhados, e eu pensei: Isso não é teatro, isso é a vida acontecendo, para quem sofre nela e pra quem “cuida” do sofrimento dela.