quinta-feira, 28 de junho de 2012

Observações de um estudante de Serviço Social

O mundo hoje vive uma crise, crise essa imposta pelo sistema vigente, o capitalismo. Este tem em sua gênese implícito poder de enriquecer cada vez mais quem é rico e empobrecer cada vez mais quem é pobre criando assim, além de uma enorme desigualdade social um enorme poder de pauperizar a classe trabalhadora. Não existe mais nos dias de hoje devido à crise do capitalismo, segurança no que diz respeito ao trabalho, ricos e pobres, ou seja, classe dominante e classe trabalhadora tentam resistir dentro de suas antagonias às limitações e exigências impostas pela ordem do capital. A situação de desemprego no país é de ordem do sistema capitalista, vivemos em uma sociedade que visa o lucro tendo como base principal a exploração do trabalho do homem pelo próprio homem. São inúmeras as situações vexatórias pelas quais passam o trabalhador brasileiro, principalmente os trabalhadores informais e os que atuam na abrangência dos subempregos. No meio das mais variadas formas de emprego estão os catadores de recicláveis, segundo o autor Fernando Paz no site http://passapalavra.info/?page_id=39, os catadores se organizam como uma “complexa relação social de produção, que possibilita a reintrodução dos materiais recolhidos no circuito da economia produtiva, na forma de novas mercadorias. Tendo, de um lado, como objetivo máximo do capital, a lucratividade em todas as fases do processo de reciclagem e, de outro lado, uma imensidão de trabalhadores em busca da sobrevivência”. Dessa forma os catadores vão criando estratégias de sobrevivência e de lucro tendo como ponto de partida o cerceamento de seus acessos às políticas públicas as quais o direito constitucionalmente os é dado, nesse processo, se colocam em situações de extrema vulnerabilidade social, colocam em risco a sua integridade física e a saúde mental, além de situações de exposição ao câncer de pele e outras doenças. Na maioria das vezes o lucro que esses trabalhadores obtêm é irrisório, o grau de exploração é imenso, aqui, lixo, mercadoria, exploração e corpo são as palavras chaves do excedente e acúmulo de capital de quem opera no âmbito gerencial esses processos. Segundo Marx: “antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla o seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços, pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para a sua própria vida. A atuar, por meio desse movimento sobre a natureza externa a ele, e ao modifica-la, ele modifica a sua própria natureza” (p.148). Acontece que no que diz respeito ao trabalho dos catadores de recicláveis, esse foco muda, o trabalhador aqui não se apropria da matéria na intervenção a fim de transformá-la em benefício próprio, ao contrário, ele interfere no processo apenas como veículo portador da matéria-prima, e só se coloca na condição de veículo se tiver as condições necessárias (o carro), ou seja, os meios de produção. As relações de produção acontecem de formas fragmentadas e frágeis. A natureza aqui, que deveria ser modificada, se perpetua como forma de alienação e cada vez mais agrava a condição de exploração. Essa situação não é muito diferente da dos profissionais liberais, porém as condições estruturais e físicas no ambiente de trabalho são bastante diferentes. Segundo fontes da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico-PNSB coleta-se no Brasil diariamente 238.864 mil toneladas de resíduos domiciliares, hoje se estima que um em cada 1000 brasileiros seja catador. Eles se dividem em categorias e subcategorias como mostra a tabela abaixo: CATADORES DEFINIÇÕES Trecheiros Vivem em trechos, entre bairros distantes ou cidades distantes, catam para comprar comida, catar é estratégia de combater a fome. Catadores de Lixão Catam diuturnamente, catam há muito tempo, criam seus horários, trabalham como catadores quando estão sem trabalhos de pintores, pedreiros e outros. Catadores individuais Catam por si, preferem ser independentes, usam carrinhos emprestados, são emergencialistas. Catadores organizados Legalizados ou em fase de legalização, são ligados à ONGs ou OSCIPs. Dentre os catadores organizados existem: GRUPOS FUNCIONAMENTO Grupos em Organização Pouca ou nenhuma infraestrutura, porém um enorme desejo de se organizarem e se fortalecerem enquanto organizados. Catadores organizados autogestionários Funcionam como cooperativas, decisões são tomadas de forma democrática, não há uma liderança única ou chefe, todos os associados são donos. Redes de cooperativas autogestionárias Forma de fortalecer os grupos na busca de quantidade e qualidade, em rede os grupos podem vender por melhores preços por terem juntos maiores quantidades. Podem coletar em rede outros materiais como óleo de cozinha e alimentos. Coopergatos Grupos autogestionários que tem um dono que manda e os outros obedecem, funciona como empresa privada, mas os trabalhadores não recebem benefícios sociais. Cooperativas de sucateiros Alguns sucateiros que tem relações pra lá de exploratórias com os catadores, se regularizam como cooperativa mas agem como empresa privada, é bastante frequente nos dias de hoje esse tipo de cooperativa. Cooperativas de apoiadores Grupo organizado por pessoas que não tem histórico de catação. Observa-se segundo essas tabelas que existe um movimento ainda caótico na tentativa de organização da classe. O ideal seria não se pensar em fortalecer essa classe de trabalhadores sem antes pensar em estratégias de trabalho que tenham em sua prioridade a dignidade humana, percebe-se na divisão tabelar uma enorme concorrência para quem fica com a maior parte do lixo, porque em uma sociedade de consumo como a que vivemos hoje o lixo é fonte de renda, posto que tudo deixa de ter valor em um espaço de tempo muito pequeno, a enorme quantidade de lixo que produzimos diariamente segundo a PNSB, é a fonte de dinheiro e riqueza para uma pequena parte da população. O fato é que os trabalhadores envolvidos nesse processo são expostos a vários riscos, para além do risco físico (peso excessivo, quebra de carros sobre os corpos, cortes e fraturas entre outros) e das condições climáticas (sol, chuva, frio, calor), existem as que dizem respeito diretamente às relações sociais, como atos de opróbio, situações vexatórias, assaltos, preconceitos e exploração. Como pensar então em estratégias de combate à exploração física desses trabalhadores? Como pensar em estratégias que articulem na mente desse trabalhador intenções de cuidados? É possível pensar em estratégias que fomentem no âmbito desse trabalho processos educativos e informativos sobre a situação na qual eles estão inseridos? Seria inocente e ingênuo pensar que em uma sociedade capitalista como a nossa esse tipo de trabalho seja banido, o capitalismo coloca o trabalhador em uma luta incessante pela sobrevivência, esse trabalhador não mede esforços para conseguir o mínimo de dignidade, leia-se dignidade um prato de comida por dia, (muitas vezes é essa a realidade dos catadores de nossa cidade). O que se pode se fazer é ficar atento e entender que para esse público foi esse trabalho que restou como opção. Precisa-se entender que estamos falando – por mais assustador que seja – de trabalho e que é preciso ressaltar que esses trabalhadores estão desenvolvendo um trabalho que deveria ser feito pelo Estado, eles cobrem, portanto uma lacuna da falta de ação planejada dos planos de governo dos estados e municípios. Não existem muitas ações que cuidem desses trabalhadores, se existem não são pensadas no âmbito dos governos, é preciso urgentemente investir em educação de qualidade, saneamento básico, política de habitação e assistência social, para que os trabalhadores futuros possam ter direito a trabalhos com mais dignidade e direitos assegurados. Não podemos fechar os olhos para a gravidade da situação do trabalhador da reciclagem, são muitas exposições nas quais ele se coloca em busca de um mínimo de sobrevivência. Enquanto isso os governantes vão fazendo de conta que não enxergam tal problemática ou adiam a solução de um problema que segundo vimos nas tabelas só cresce e agrava, corre o risco de virar moda ou exemplo de pai para filho. E evitemos olhar às pessoas e confundi-las com o lixo, temamos que um dia essas duas se misturem de forma intrínseca a ponto de não conseguirmos identifica-las em suas especificidades.

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