domingo, 7 de fevereiro de 2010

BRECHANDO (do lugar de onde vejo) um pou-co.


Intensidades deveriam ser vividas com um mínimo de silêncio, delicadezas e honestidades. Tem uma parte das gentes que entende as intensidades como um momento de euforias, barulhos e extravagâncias, como se a imagem do “mais” fosse o que é “aparecível” (desculpem, não sei se esse adjetivo existe.) sem permitir ao que entendemos como intensidade – nós as outras partes das gentes - uma qualidade outra do calmo, do permanente, do estático, do elástico, que se move e por isso me parece estático, porque no estático existe forca e potência, porque no estático existe movimento.

Pensar no tempo, habitar e permanecer, exercício complexo que se aproxima do exercício também do entendimento do hábito, do que é hábito, do que não é, do que poderia ser... mas de tão rápidos que somos na vida ,nos fugimos de sua prática e vamos sendo nômades em nossas construções e modos de ser e estar. Não praticamos formas de permanecer, habitamos todos os lugares sem potencializar permanências e ficancas. Partimos o tempo inteiro, desconstruindo o que não teve o mínimo de tempo para ser fortalecido.

A sociedade de consumo que atravessa a crise do capital nos faz olhar o tempo inteiro para vários lugares ao mesmo tempo, olhar esse que utilizamos mais como um pedido de socorro por uma sobrevivência competitiva do que uma negação a uma permanência possível. Vivemos em um tempo onde tudo é fugaz, seco, rápido, fútil e nos falam o tempo inteiro através do mal uso das tecnologias que não podemos sofrer, não devemos chorar nem ficar tristes porque tudo é comprável, acredita-se na negação da tristeza como partícipe da vida, e que para todas as coias existem um preço para algumas outras existe um cartão de crédito. Então alguns de nós (eu inclusive) acabamos fugindo do aprofundamento do conhecimento de como a vida funciona e se mostra para o lugar do consumo como condição de felicidade e independência.

E é desse lugar, do lugar da brecha, que sou capturado através do espetáculo OS TEMPOS da Cia. Da Arte Andanças (Cia. Que também faco parte). É do lugar de onde vejo: brechas, cortinas, escadas... sempre escondido, com medo de olhar para o silêncio e calmaria que aquele universo me mostra e me convida, que entendo que a vida talvez não precise de tanta urgência, barulho e extravagâncias para ser intensa. O espetáculo me faz suspeitar que a vida é mais que arte e que arte é mais que vida (sei, meio clichê!) e que as duas se confundem o tempo inteiro através da ordem de suas intensidades e ordens.

Dramaturgia una, muito para descobrir sobre arte, sobre dança, sobre as composições, questionamentos mil, deles fica um muito inquietante, hoje assistindo muito atentamente o espetáculo, quase o estudando me perguntei e anotei no meu papelzinho, como coisa solta... “constituição do espaço a partir do corpo versus constituição do corpo a partir do espaço”. Impressão de doce violência de um corpo em um tecido vermelho, docemente agredido me senti, docemente agredido agradeci, agradecidamente agredi - me a ver o vermelho aparecendo novamente como monstro que vem me pegar, como o “velho babau” dos contos de fada de minha mãe – delicadeza e bucolismo – agradeci mais uma vez. Salve o boi da cara preta!

Tecido como transmutação.
Tecido como veículo de mutação – transporte para outros mundos e habitares. Viagem. O passaporte é o silêncio, como se o pudéssemos amarrá-lo e colocá-lo nas cabeças, nas costas, ninando, carregando, ando ando ando.

No ando, rolando, ganhando, dando, tantos sentidos, tantas movências fazendo sentidos, rolamentos cheios de sentidos, eu olhando, participando, agradecendo, me reconhecendo e agora? Eu ando ando ando.

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