quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Delírios de um momento de nada.




O que existe de belo na vida que enfrento todos os dias é o fortalecimento dos lacos de fraternidade, afetos, contentamentos, adimiracões… amor que fluidamente me atravessam o cotidiano. O laço da fraternidade eu o aperto quando do meu lugar de gente me dou em empatia, me coloco no lugar do outro como se o reverso da situacão me tornasse um pouco melhor do que eu sou, me fazendo menos eu, me fazendo mais o outro e me mostrando que os dois lados são possíveis a mim e ao meu semelhante. A Fraternidade me dignifica… o meu olho fraterno é um olho de amor, ultrapassa a contemplacão e o horizonte se limita à coisa, o olhar fraterno de mim chega ao outro silencioso, cuidadoso, cantando baixinho como musica sussurrada ao ouvido simplesmente, silencia mais do que fala, não é rápido nem pesado, é como vento, tem massa invisível. É para o meu vizinho, o meu irmão, o meu cachorro, o morador de rua, é para gente.
O que me afeta é o que me traz sorrisos, lágrimas, soluços e arrepios, me pega como chuva inesperada em dia ensolarado, gosto de entender um afeto como uma surpresa, como um acontecimento inesperado no meio de um quase nada de acontecimentos, como um tudo no meio de um nada, palavra silenciada, tv sem imagem, livro sem palavra. O Afeto me constitui em ser pulsante, me alimenta de sensações – sejam elas boas ou ruins – um bom afeto é um bom contato, um afeto ruim é uma curva antes de chegar ao local desejado, essas curvas as vezes são dolorosas, nos perdem, nos iludem e ludibriam, nos fazem quase perder a dignidade… porém… sempre depois de uma esquina existe uma outra possibilidade de se seguir em frente, e lá vou eu, eu vou sempre, eu não me perco no caminho, pulo as pedras, afetado por elas me perco mais uma vez, descanso sobre elas e muitas vezes me disfarco de paralelepípedo para reencontrar o caminho do qual um afeto triste tenha me desviado. Sou afetado pela danca, pelo homem, pelo corpo, pela saliva, pela mão, pelo coracão, pela palavra, pelo sentimento… e também pela briga, pela luta, pelo indesejado, pelo mal educado, pelo intruso, pelo invasor, pelo que me difama e me desagrada, pelo que já foi um bom afeto, sou afetado pela pequenez da pessoa, pelo vazio delas, pela insignificância, pela não existência… pela fome, o ódio, a miséria, a intriga, pelo que me força.
O Contentamento é como resignação, me cala, me faz rezar, me faz ter dó e piedade, me dignifica porque contempla os que eu amo, os que me amam e os que eu nunca irei amar de forma alguma, me faz ser gente porque me faz ver que eu não sou Deus, e não sei se acredito se fui criado a sua imagem e semelhança, Deus parece ser tão grande e poderoso, ele criou o mar, as árvores, o homem, o sexo e sentimentos como o amor, a caridade e a piedade. Não. Eu não sou imagem nem tenho semelhança com Deus, sou muito pequeno para isso. Deus é infinito.
Admiro os meus amigos, os meus colegas de trabalho, as obras de arte. Admiro o Drummond, o Quintana, o Merce Cunnigham, a Bethânia, a Clarice e a D. Maria José (minha mãe), estes são os meus heróis, me constituo neles. Tenho admiracão pela música, a bossa e o jazz me fazem lembrar que Deus existe e mais uma vez que eu não poderia jamais ter sido gerado sobre à sua imagem e semelhança, eu não, mas os músicos sim. João Gilberto, Leny Andrade, Chat Becker, Janis Joplin, Simon and Garfunkel, Paul Simon, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Nina Simone, Sara Vaughan, Billie Holiday, Louis Armstrong… esses sim assim como Savion Glover foram criados à imagem e semelhança de Deus… eles são a prova da divindade, me fazem chorar e agradecer, os adimiro profunda e eternamente.
E o amor… ah o amor, agora eu prefiro cantar “… ah infinito delírio chamado desejo, essa fome de afagos e beijos essa sede incessante de amor…”

Um pouquinho maiss de meus delírios…

Volto já.
Pãozinho integral e capuccino, João Gilberto na vitrola. Uma saudade da Bezerra de Menezes.

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