segunda-feira, 25 de março de 2013

Impressões de uma descoberta de corpo e dança.

"alongamento, luta, coreografia, repetição, suor, sorrisos, dança, dança, dança, sapateado, cansaço, pausa, água, água, água, café, correção, conseguir, tentativa, música, reencontro, hoje eu é que digo: QUE DOMINGO LINDO! Rodrigo Silva, sua alegria de estar ali contagia a todos! Como é bom senti-la! Rubéns Lopes, você é essencial, Wallan Abreu, sua empolgação é linda, Dudhu Abreu, adoro sua presença tão nova e já tão marcante entre a gente, Samuel Lopes, a tua observação não é a toa, tenho certeza, Dario Dariurtz, ficou faltando você ali com a gente que sapateia menos hoje rsrsrs, Saymon Morais, seus braços balançaram menos hoje hein rsrsrs Heber Stalin, foi lindo te ver feliz por ver aquele palco cheio de gente nova e antiga, além da energia que te alimenta e você sempre faz questão de dizer! LINDOSSSSSSSSSS!!!! Bom finzinho de domingo a todos!" Lucas Teófilo Ator, Bailarino da Cia. dos Pés Grandes.

Santo Agostinho me faz dançar!

"Eu louvo a Dança, pois ela liberta as pessoas das coisas, unindo os dispersos em comunidade. Eu louvo a Dança que requer muito empenho, que fortalece a saúde, o espírito iluminado e transmite uma alma alada. Dança requer o homem libertado, ondulado no equilíbrio das coisas. Por isso eu louvo a Dança. A Dança exige o homem todo ancorado em seu centro para que não se torne, pelos desejos desregrados, possesso de pessoas e coisas, e arranca-o da demonia de viver trancado em si mesmo. Ó homem, aprende a Dançar! Caso contrário, os anjos não saberão o que fazer contigo." Santo Agostinho.

Cidadania? Pura LUTA!

É bastante paralisante o momento que antecede uma escrita sobre cidadania e seguridade social no Brasil, principalmente se levarmos em consideração o caos instaurado pela lógica do capital, a imperatividade do neoliberalismo e a fragilidade do conhecimento do que se é direito ou não por parte dos brasileiros. É importante dizer, que quando se fala sobre “Fragilidade do conhecimento” não é na tentativa de culpabilizar o povo brasileiro, pois é sabido que, essas mesmas fragilidades são inerentes à perversidade do sistema capitalista que retalha as possibilidades do conhecimento garantindo o saber apenas aos que por ele podem pagar, ou seja, à classe burguesa. Diferente dos modos de operacionalização de seguridade social desenvolvida em países de primeiro mundo como Alemanha e Inglaterra, o Brasil fica à mercê única e exclusivamente da capacidade produtiva do trabalhador como mérito ao seguro. Ou seja, se o trabalhador está servindo ao mercado ele terá sua seguridade, ou parte dela, garantida; quanto aos que não trabalham – porque não conseguem competir no mercado de trabalho, ou porque não conseguiram acessar políticas públicas que lhes garantissem a concorrência a vagas no mercado de trabalho – ficam à mercê de benefícios operacionalizados no âmbito da política de assistência social ou ainda à tutela de programas assistencialistas e de caridade. Sobre isso, Ivanete Boschetti ressalta que: “Historicamente, o acesso ao trabalho sempre foi condição para garantir o acesso à seguridade social. Por isso, muitos trabalhadores desempregados não têm acesso a muitos direitos da seguridade social, sobretudo à previdência, visto que essa se move pela lógica do contrato, ou do seguro social. A seguridade social brasileira, instituída com a constituição brasileira de 1988, incorporou princípios desses dois modelos, ao restringir a previdência aos trabalhadores contribuintes, universalizar a saúde e limitar a assistência social a quem dela necessitar.” (BOSCHETTI. 2008) A autora se refere aos modelos Bismarckiano e Beveridgiano como propulsores de uma lógica de seguridade social. O Primeiro desenvolvido na Alemanha ainda no século XIX tinha caráter privatizador, era garantido ao trabalhador alemão os direitos à seguridade conforme sua capacidade monetária de contribuir. O segundo modelo, desenvolvido na Inglaterra nos idos de 1940, após a segunda guerra mundial, dizia respeito a uma seguridade de caráter universalizante, segundo a autora “os direitos têm caráter universal, destinados a todos os cidadãos incondicionalmente ou submetidos a condições de recursos, mas garantindo mínimos sociais a todos em condições de necessidade” (BOSCHETTI, 2008). No Brasil, se fizermos uma análise comparativa poderíamos talvez colocar que a seguridade social segue o modelo Bismarckiano com o discurso de um modelo Beveridgiano, posto que a política neoliberal do país nos empurra massivamente o slogan de um “país de todos” baseado talvez, na ideologia do modelo Beveridgiano que objetivava a luta contra a pobreza. Porém, quando se trata de privatização, está se falando também de aumento de pobreza, nessa perspectiva, é impossível se falar em equidade social e cidadania. É justamente no âmbito da impossibilidade que os conceitos de cidadania e equidade social se misturam no cenário da seguridade social brasileira, ora, se na lógica do capitalismo, sistema desigual, que oprime, aliena e ludibria a classe trabalhadora (cidadãos?) em detrimento de uma exploração cada vez maior e mais assoladora, como falar em seguridade social e lógica social? Como falar em igualdade de direitos de acessos? Uma previdência que se instaura – como de direito – apenas àqueles que por elas podem pagar, pode ser reconhecida como uma política de seguridade social? Qual é a lógica social desse fato? Somente conhecendo por dentro as artimanhas do capitalismo e levando em consideração suas características de apartheid é possível se achar, ainda que revoltosamente, uma lógica. O que temos que ter em mente é lucidamente o fato de que vivemos regidos por um sistema que se manifesta de forma cruel, não leva em conta os que sofrem com a precarização do trabalho – ou melhor – necessita da precarização do trabalho, pois dessa forma tem cada vez mais a seus pés trabalhadores pedindo para serem explorados, e assim não prega em condições nem mesmo mínimas as diretrizes (se é que estas existem) de cidadania. Em se tratando de Seguridade Social podemos dizer então que o capitalismo não possibilita a todos o acesso ao emprego, que por sua vez o emprego – principalmente os extremamente precarizados – não possibilita o acesso à previdência, e que por ser assim organizada essa estrutura, vai desembocar diretamente na assistência social, que dentro da organização da previdência é oferecida a quem dela necessita. Dessa forma, o modelo de seguridade social brasileira, para além do que coloca Ivanete Boschetti em seu texto “Seguridade social no Brasil: Conquistas e limites à sua efetivação” está relegada ao assistencialismo e às ações de filantropia desenvolvidas por instituições de caridade, pois é sabido que existem famílias que vivem há mais de dez anos da oferta de cestas básicas de determinadas instituições, assim, o que deveria ser dever do Estado fica a mercê da população, o Estado tem intervenção mínima e o neoliberalismo confortavelmente ganha forças, como um caminho que não tem mais volta. Um país marcado por ditaduras e coronelismos, que tem uma história de desenvolvimentismo em detrimento de uma história de desenvolvimento e de populismo em detrimento de popular, não poderia de forma rápida e acrítica se chegar a uma lógica de seguridade social que abrangesse a todos. As resoluções para esse problema talvez tenham realmente suas raízes fincadas no passado, no início da organização do país como nação “independente”. Pagamos alta a conta por uma independência que não permite autonomia aos que aqui trabalham e se nos governantes se instaura o peso da dívida externa, que é paga com os descontos dos salários dos trabalhadores, nos trabalhadores se instaura, cordialmente como disse Sérgio Buarque de Holanda, o peso do “muito obrigado” a quem a lhes ofereceu o pão para saciar a fome. Nessa realidade o país vai se travestindo de emergente, negando os direitos dos trabalhadores e enriquecendo cada vez mais uma pequena parte da população, enquanto isso, o ciclo da pobreza aumenta e com ele uma série de questões que ao senso comum são apenas cotidianidade. Por fim, a Seguridade no Brasil é frágil, quase inexistente para parte da população e totalmente inexistente para uma grande massa, pensar em cidadania nessa perspectiva é tentar disfarçar o que políticas paliativas tentam esconder por dentro de suas artimanhas de alcance e populismo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOSCHETTI, Ivanete – Seguridade social no Brasil: conquistas e limites à sua efetivação. – Direitos Sociais e competência profissional – 2008 HOLANDA, Sérgio Buarque – Raízes do Brasil. 26ª edição. Cia. Das Letras. São Paulo. 1995.

Recomeçar... trocar roupas, mudar peles...

O Haver Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura Essa intimidade perfeita com o silêncio Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo - Perdoai! eles não têm culpa de ter nascido... Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo Essa mão que tateia antes de ter, esse medo De ferir tocando, essa forte mão de homem Cheia de mansidão para com tudo que existe. Resta essa imobilidade, essa economia de gestos Essa inércia cada vez maior diante do Infinito Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível Essa irredutível recusa à poesia não vivida. Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade Do tempo, essa lenta decomposição poética Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius. Resta esse coração queimando como um círio Numa catedral em ruínas, essa tristeza Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória. Resta essa vontade de chorar diante da beleza Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa Piedade de sua inútil poesia e de sua força inútil. Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado De pequenos absurdos, essa tola capacidade De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil E essa coragem de comprometer-se sem necessidade. Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza De quem sabe que tudo já foi como será e virá a ser E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje. Resta essa faculdade incoercível de sonhar De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade De aceitá-la tal como é, e essa visão Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante. E desnecessária presciência, e essa memória anterior De mundos inexistentes, e esse heroísmo Estático, e essa pequenina luz indecifrável A que às vezes os poetas dão o nome de esperança. Resta essa obstinação em não fugir do labirinto Na busca desesperada de uma porta quem sabe inexistente E essa coragem indizível diante do grande medo E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva. Resta esse desejo de sentir-se igual a todos De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade De não querer ser príncipe senão do seu reino. Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado. Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio Pelo momento a vir, quando, emocionada Ela virá me abrir a porta como uma velha amante Sem saber que é a minha mais nova namorada.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Vermelho na ALMA

De trabalho e de encontro a vida se fortalece e se faz intensa, interessante, alegre, discursiva, polêmica, inbtegrativa, afetiva, estável, leve, pesada... é contraditória. Porém é a Vida! Dançar onde estiver, com quem estiver, da forma possível de potencializar alegrias, enganar o tédio,ou como disse o poeta transformá-lo em melodia, com os pés, com os braços, com olhares, com assovios, com silêncios. Eu quero um hoje potente, com alegrias verdadeiras, risos espontâneos e pessoas acreditando cada vez mais em revoluções, sejam elas pequenas, médias ou grandes, mas que existam dentro de nós. Eu quero uma paixão doce, leve, quase inssustentável de tanta delicadeza e leveza, beijo na boca silenciado, molhadinho, com gostinho de um "novamente". seria bom investigar mais possíveis, se espalhar feito água corrente nas mãos e pés de minha paixão, eu quero cafuné de dormir junto, acordar de travesseiro no chão, ser lençol, ser travesseiro, ser tapete. Ahhhhhhhhhhhhh eu quero mesmo é um samba, uma cerveja, a cia. de meus amigos e a possibilidade do beijo descuidado, o encontro desencontrado. Vamos trabalhar, tanta coisa pra fazer... mesa na cabeça, cadeiras na callçada, trabalho em militância, vermelho na alma.

Observações de um estudante de Serviço Social

O mundo hoje vive uma crise, crise essa imposta pelo sistema vigente, o capitalismo. Este tem em sua gênese implícito poder de enriquecer cada vez mais quem é rico e empobrecer cada vez mais quem é pobre criando assim, além de uma enorme desigualdade social um enorme poder de pauperizar a classe trabalhadora. Não existe mais nos dias de hoje devido à crise do capitalismo, segurança no que diz respeito ao trabalho, ricos e pobres, ou seja, classe dominante e classe trabalhadora tentam resistir dentro de suas antagonias às limitações e exigências impostas pela ordem do capital. A situação de desemprego no país é de ordem do sistema capitalista, vivemos em uma sociedade que visa o lucro tendo como base principal a exploração do trabalho do homem pelo próprio homem. São inúmeras as situações vexatórias pelas quais passam o trabalhador brasileiro, principalmente os trabalhadores informais e os que atuam na abrangência dos subempregos. No meio das mais variadas formas de emprego estão os catadores de recicláveis, segundo o autor Fernando Paz no site http://passapalavra.info/?page_id=39, os catadores se organizam como uma “complexa relação social de produção, que possibilita a reintrodução dos materiais recolhidos no circuito da economia produtiva, na forma de novas mercadorias. Tendo, de um lado, como objetivo máximo do capital, a lucratividade em todas as fases do processo de reciclagem e, de outro lado, uma imensidão de trabalhadores em busca da sobrevivência”. Dessa forma os catadores vão criando estratégias de sobrevivência e de lucro tendo como ponto de partida o cerceamento de seus acessos às políticas públicas as quais o direito constitucionalmente os é dado, nesse processo, se colocam em situações de extrema vulnerabilidade social, colocam em risco a sua integridade física e a saúde mental, além de situações de exposição ao câncer de pele e outras doenças. Na maioria das vezes o lucro que esses trabalhadores obtêm é irrisório, o grau de exploração é imenso, aqui, lixo, mercadoria, exploração e corpo são as palavras chaves do excedente e acúmulo de capital de quem opera no âmbito gerencial esses processos. Segundo Marx: “antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla o seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços, pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para a sua própria vida. A atuar, por meio desse movimento sobre a natureza externa a ele, e ao modifica-la, ele modifica a sua própria natureza” (p.148). Acontece que no que diz respeito ao trabalho dos catadores de recicláveis, esse foco muda, o trabalhador aqui não se apropria da matéria na intervenção a fim de transformá-la em benefício próprio, ao contrário, ele interfere no processo apenas como veículo portador da matéria-prima, e só se coloca na condição de veículo se tiver as condições necessárias (o carro), ou seja, os meios de produção. As relações de produção acontecem de formas fragmentadas e frágeis. A natureza aqui, que deveria ser modificada, se perpetua como forma de alienação e cada vez mais agrava a condição de exploração. Essa situação não é muito diferente da dos profissionais liberais, porém as condições estruturais e físicas no ambiente de trabalho são bastante diferentes. Segundo fontes da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico-PNSB coleta-se no Brasil diariamente 238.864 mil toneladas de resíduos domiciliares, hoje se estima que um em cada 1000 brasileiros seja catador. Eles se dividem em categorias e subcategorias como mostra a tabela abaixo: CATADORES DEFINIÇÕES Trecheiros Vivem em trechos, entre bairros distantes ou cidades distantes, catam para comprar comida, catar é estratégia de combater a fome. Catadores de Lixão Catam diuturnamente, catam há muito tempo, criam seus horários, trabalham como catadores quando estão sem trabalhos de pintores, pedreiros e outros. Catadores individuais Catam por si, preferem ser independentes, usam carrinhos emprestados, são emergencialistas. Catadores organizados Legalizados ou em fase de legalização, são ligados à ONGs ou OSCIPs. Dentre os catadores organizados existem: GRUPOS FUNCIONAMENTO Grupos em Organização Pouca ou nenhuma infraestrutura, porém um enorme desejo de se organizarem e se fortalecerem enquanto organizados. Catadores organizados autogestionários Funcionam como cooperativas, decisões são tomadas de forma democrática, não há uma liderança única ou chefe, todos os associados são donos. Redes de cooperativas autogestionárias Forma de fortalecer os grupos na busca de quantidade e qualidade, em rede os grupos podem vender por melhores preços por terem juntos maiores quantidades. Podem coletar em rede outros materiais como óleo de cozinha e alimentos. Coopergatos Grupos autogestionários que tem um dono que manda e os outros obedecem, funciona como empresa privada, mas os trabalhadores não recebem benefícios sociais. Cooperativas de sucateiros Alguns sucateiros que tem relações pra lá de exploratórias com os catadores, se regularizam como cooperativa mas agem como empresa privada, é bastante frequente nos dias de hoje esse tipo de cooperativa. Cooperativas de apoiadores Grupo organizado por pessoas que não tem histórico de catação. Observa-se segundo essas tabelas que existe um movimento ainda caótico na tentativa de organização da classe. O ideal seria não se pensar em fortalecer essa classe de trabalhadores sem antes pensar em estratégias de trabalho que tenham em sua prioridade a dignidade humana, percebe-se na divisão tabelar uma enorme concorrência para quem fica com a maior parte do lixo, porque em uma sociedade de consumo como a que vivemos hoje o lixo é fonte de renda, posto que tudo deixa de ter valor em um espaço de tempo muito pequeno, a enorme quantidade de lixo que produzimos diariamente segundo a PNSB, é a fonte de dinheiro e riqueza para uma pequena parte da população. O fato é que os trabalhadores envolvidos nesse processo são expostos a vários riscos, para além do risco físico (peso excessivo, quebra de carros sobre os corpos, cortes e fraturas entre outros) e das condições climáticas (sol, chuva, frio, calor), existem as que dizem respeito diretamente às relações sociais, como atos de opróbio, situações vexatórias, assaltos, preconceitos e exploração. Como pensar então em estratégias de combate à exploração física desses trabalhadores? Como pensar em estratégias que articulem na mente desse trabalhador intenções de cuidados? É possível pensar em estratégias que fomentem no âmbito desse trabalho processos educativos e informativos sobre a situação na qual eles estão inseridos? Seria inocente e ingênuo pensar que em uma sociedade capitalista como a nossa esse tipo de trabalho seja banido, o capitalismo coloca o trabalhador em uma luta incessante pela sobrevivência, esse trabalhador não mede esforços para conseguir o mínimo de dignidade, leia-se dignidade um prato de comida por dia, (muitas vezes é essa a realidade dos catadores de nossa cidade). O que se pode se fazer é ficar atento e entender que para esse público foi esse trabalho que restou como opção. Precisa-se entender que estamos falando – por mais assustador que seja – de trabalho e que é preciso ressaltar que esses trabalhadores estão desenvolvendo um trabalho que deveria ser feito pelo Estado, eles cobrem, portanto uma lacuna da falta de ação planejada dos planos de governo dos estados e municípios. Não existem muitas ações que cuidem desses trabalhadores, se existem não são pensadas no âmbito dos governos, é preciso urgentemente investir em educação de qualidade, saneamento básico, política de habitação e assistência social, para que os trabalhadores futuros possam ter direito a trabalhos com mais dignidade e direitos assegurados. Não podemos fechar os olhos para a gravidade da situação do trabalhador da reciclagem, são muitas exposições nas quais ele se coloca em busca de um mínimo de sobrevivência. Enquanto isso os governantes vão fazendo de conta que não enxergam tal problemática ou adiam a solução de um problema que segundo vimos nas tabelas só cresce e agrava, corre o risco de virar moda ou exemplo de pai para filho. E evitemos olhar às pessoas e confundi-las com o lixo, temamos que um dia essas duas se misturem de forma intrínseca a ponto de não conseguirmos identifica-las em suas especificidades.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Tumulto.

Treme em minha carne fria o desejo de um desconhecido movimento que se chama intinerância. Ser muitos de mim longe dos que sou no meu agora. Essa coisa de ser um pouco de mundo ainda me fere, embora as sensações de prazeres, risos e alegrias sejam bem maiores do que as feridas cicatrizantes adquiridas na estrada da busca. A realidade me aparece como local de desequilíbrio e a busca pelo contrário me força ao estranhamento do outro, me lança no desagradável e me torno coisa ruim, seca, controverso, subversivo, louco, coisa que não cabe no mundo que estou inserido nesse meu agora, como férias em país estrangeiro, comunicação única de linguagem física, língua não entendida. A caretice é a desgraça do mundo, é a própria destruição de mim no mundo em que vivo e que tento, o outro é o meu compromisso, a fome, a miséria, a dor... elementos de um cotidiano que a caretice nega e relega a papéis e formalidades que não se constituem como potentes. Existe revolta em mim, gosto perdido de revolução, mãos em punho. Necessidade de respiração, ar puro, de arte, dança, filosofia, um pouco de Peter: “... um pouco de possível senão eu sufoco.” Ao meu lado existem tantos, pessoas de várias formas, categorias, medos, caretices... eu não me dou bem com a caretice encaixada, preciso de um mínimo de revolução, de inquietude, de esperanças, de possíveis alegrias, de possíveis. Buscar o lugar de legitimação do meu desejo, um gosto forte e seco que me escorre pelos pés e cabeça como um banho de chuva em dia de calor, chuva quente e calor frio, corpo em espera, desejo em desespero, caminhos a serem abertos como num filme em que um ator abre espaço com um facão em punho... ou de outra forma, bailarino de sapatilhas rasgadas tentando executar danças, eu quero a liberdade de dançar descalço sem respeitar a música e os passos e ainda assim ser potente e ainda assim conseguir parceiros que acreditem nas minhas posições, e ainda assim agregar mais pessoas, mais sonhos, mais lutas e mais possíveis. Eu quero o mundo porque eu também sou o mundo, eu quero a vida porque eu também sou a vida, eu quero a dança porque eu também sou um passo em sapatilhas rasgadas. Eu só não quero ser pedra, nesta eu vou me escrever em alma. “ em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua. Os homens pedem carne, fogo, sapatos. As leis não bastam, os lírios não nascem da lei, meu nome é tumulto e escreve-se na pedra” Carlos Drummond de Andrade